Não seria um espanto se o prémio de Melhor Atração Turística da Europa fosse atribuído a locais como a Acrópole de Atenas, o Palácio de Buckingham ou o Coliseu de Roma — locais que recebem milhões de turistas por ano. Mas todos estes espaços emblemáticos perderam para uma pequena ilha irlandesa: a Spike, um lugar com uma história que quase não cabe nos seus pequenos 0,41 quilómetros quadrados.

A poucos quilómetros da costa da cidade de Cobh e a proteger a entrada do Porto de Cork, a ilha Spike já foi um espaço de monges, de generais e uma prisão até se tornar uma assombrosa fortaleza em forma de estrela.

A história da ilha que agora foi galardoada com o mais importante prémio turístico da Europa remonta a 1779 quando lá foi construído o primeiro de três fortes. Há relatos históricos e escritos que citam o local como antigo retiro religioso. É possível visitar as ruínas do que seria um convento com centenas de anos. Mas só em 1793, aquando da guerra entre a França e a Grã-Bretanha, é que a ilha se tornou palco de grandes desenvolvimentos a nível de infraestruturas, nomeadamente em 1800, quando foi erguido um forte em forma de estrela (semelhante ao de Elvas), com cerca de 20 hectares e com capacidade para 2500 homens.

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A prisão que ali existiu só foi encerrada em 2004 e só viria a receber visitantes em 2015 quando reabriu enquanto atração turística. Quem a visita pode conhecer espaços únicos como “o Bloco do Castigo”, uma zona que retrata fielmente a crueldade do sistema penitenciário em 1850. Há exposições de canhões, barcos reconstruidos e uma exposição dedicada a John Mitchel, um ativista irlandês e jornalista político que ali esteve detido e que dá nome ao forte principal.

Uma ilha britânica na Irlanda

Apesar da sua história enquanto ponto estratégico de defesa, e enquanto quartel militar, durante a maior parte da sua existência a ilha assumiu funções de estabelecimento prisional. No início do séc. XX (e até hoje) ganhou a reputação de ser “a Alcatraz da Irlanda”, em referência à ilha de Alcatraz, na Baía de São Francisco, nos EUA, que albergou durante várias décadas a mais segura prisão federal do país.

A ilha continuou a ser um local de detenção durante a Guerra da Independência Irlandesa, quando prisioneiros do IRA (Exército Republicano Irlandês) ali estiveram presos. O próprio Richard Barrett, destacado membro do grupo, esteve detido em Spike, mas escapou durante as tréguas de 1921.

Em dezembro de 1921, o Tratado Anglo-Irlandês ficou concluído e apesar de ter estabelecido a independência da Irlanda enquanto estado livre um ano depois, o tratado previa que as forças britânicas continuariam a ter soberania em três portos estratégicos e a Marinha inglesa ocupou a ilha Spike até 1938.

Só nesse ano o território foi cedido à Irlanda.

Mais tarde, manter-se-ia uma prisão sob jurisdição do exercito irlandês e da marinha. No final do séc. XX foi convertida numa instituição de correção juvenil até que um motim em 1985 fez com que um dos blocos ardesse por completo. Enquanto estabelecimento prisional encerrou em 2004.

Contudo, a ilha Spike manteve uma pequena população, uma escola, uma igreja e um porto de ferry que fazia a ligação com Cobh, a cidade portuária. Mas a população deslocou-se ao longo dos anos para Cobh e os últimos 61 habitantes (de acordo com os censos de 2002) deixaram a ilha em quatro anos. Em 2006, Spike não tinha população residente.

Nesse mesmo ano, o governo irlandês anunciou os planos do executivo para construir uma nova prisão na ilha, mas em 2007 esses planos caíram por terra e um grupo foi criado para planear a abertura de Spike enquanto local histórico e turístico. A ilha passou para a jurisdição da cidade de Cork para que o seu desenvolvimento turístico pudesse ser controlado e gerido de perto.

Desde 2015 que a ilha recebe turistas para visitas ao forte, às celas prisionais e aos locais históricos. Agora é nomeada a “Melhor Atração Turística” da Europa pelos World Travel Awards.