Numa edição em que a ModaLisboa recuperou o brilho de outros tempos, o último dia terminou em clima de festa. Filipe Faísca, o último nome da noite, abriu e fechou o desfile com a modelo angolana Maria Borges. Antes dele, Luís Carvalho foi outra das estrelas deste domingo. A coleção “Eagle Eye” elevou o nome do designer português e no final do desfile pôs a plateia a aplaudir de pé.

No início do dia, o jardim ficou mais colorido com o desfile da Morecco. Na terceira coleção de pronto-a-vestir, a marca portuguesa foi até à Índia e trouxe as cores exuberantes próprias dos trajes tradicionais do Rajastão. A relação com o folclore indiano foi cortado pelas silhuetas, ocidentais, elaboradas e com um pé no sportswear. O caos das cidades indianas repassou para a coleção e foi visível na sobreposição de cores e materiais. Num único desfile, houve PVC, bordados, seda, cetim, crepe, rendas, penas, pelo e pele. Não é todos os dias que se dá de caras com esta moda mirabolante, nem convém.

O segundo desfile de domingo também foi al fresco e marcou o regresso de Nair Xavier, que esteve ausente do calendário nas duas últimas edições da ModaLisboa. Com o desfile ao ar livre, a designer inaugurou um novo capítulo na sua marca de menswear. O regresso foi possível graças à parceria com a Diniz & Cruz. A casa de alfaiataria foi responsável pela confeção dos fatos e também pelos tecidos. A marca esteve por um fio, mas renasceu das cinzas através da junção de um novo talento do design com uma marca com mais de 40 anos de tradição.

Nair Xavier regressou à ModaLisboa e apresentou a sua coleção no jardim © João Porfírio/Observador

“Foi uma revolta. Tive de parar para pensar no que queria fazer, se queria fazer e como é que iria voltar a fazer. Temos muito pouco apoio a nível da confeção, da montagem, dos tecidos. É tudo a complicar a vida dos jovens designers”, afirma Nair Xavier ao Observador. “Da maneira que as coisas correm, pelo menos em Portugal, temos basicamente que trabalhar para manter uma marca. Isso ao final de algum tempo não é fazível. Não temos retorno. As lojas não compram, é tudo à consignação. Não temos maneira de crescer, a não ser que vamos lá para fora ou que arranjemos uma plataforma que nos sustente”, conclui.

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Em conjunto com a ModaLisboa, a designer encontrou a solução para garantir a continuidade da marca.Além do apoio financeiro e logístico, a designer destaca a aprendizagem no mundo da alfaiataria. Se dantes, já apresentava peças de corte exímio, agora subiu ainda mais a fasquia. A coleção “Ngakuya” deambulou entre tons neutros e cores vibrantes, fatos e macacões, uma das peças assinatura da criadora. Apesar do trabalho conjunto, o traço de Nair Xavier permanece inalterado.

“Espero que isto seja um exemplo para mais marcas perceberem que não lhes custa nada olharem para os designers. Nós precisamos deles e eles precisam de nós”, remata. Quanto à continuidade da parceira, a criadora não foi conclusiva na resposta. É possível que, em março, voltemos a ver Nair Xavier a trabalhar com os senhores alfaiates.

Olga Noronha apresentou a coleção “In Tempérie” no último dia da ModaLisboa © João Porfírio/Observador

O jardim despediu-se da 49ª edição da ModaLisboa com o desfile da Eureka. A marca de calçado portuguesa apresentou as suas propostas primavera-verão 2018, um regresso aos moldes mais clássicos da sapataria, mas com um twist, claro. Olga Noronha, outra ausência na última edição, voltou à passerelle com a coleção “In Tempérie”. Todas as peças tinham como base uma malha de aço que servia de sustento a fragmentos de resina epoxi pigmentada. Semelhantes às peças de um lustre formavam xailes, vestidos e vestidos. Na segunda parte do desfile, a sala ficou às escuras para que as mesma peças pudessem revelar as suas verdadeiras cores com a luz negra. Surgiram vermelhos, verdes e azuis inesperados, num momento acompanhado ao piano. Olga Noronha voltou a provar que entre as suas peças de joalharia conceptual também há acessórios de moda. É nesse lustre que vamos querer baloiçar no próximo verão.

Luís Carvalho voltou a superar-se. Na coleção “Eagle Eye”, o criador não faltou com nenhum dos seus detalhes de assinatura: ombros estruturados, bolsos de pala, fluidez e silhuetas cintadas e longilíneas. Adicionou-lhes folhos e layers e justificou-o com a inspiração na águia ou na “ave rainha”, como lhe chama. Os tons de areia, o azul-marinho, o ocre e o rosa pálido são os tons que predominam na paisagem do próximo verão. Na coleção masculina, não foi diferente. Os fatos clássicos ganharam tons de amarelo, bege e rosa, mas também houve lugar para looks mais descontraídos, com blusões de toque desportivo e camisas vaporosas. Nos pés, Luís Carvalho dá seguimento a colaboração que mantém há várias estações com a Eureka.

Metais, brilhos, animal print e materiais fluidos — assim será o verão de 2018 segundo Filipe Faísca © João Porfírio/Observador

Entre estrelas, Mustra voltou a direcionar o foco para a alfaiataria. A seguir, Filipe Faísca fechou com chave de ouro. Ou melhor, com um vestido de ouro. Maria Borges, que já tinha inaugurado o desfile, ficou com o coordenado final. Um mini vestido de franjas douradas que ganhava movimento à medida que a modelo da Vitoria’s Secret caminha com passadas largas. Entre os dois looks, houve toda uma coleção. Ouro, prata, animal print e, claro, plissados deram cor e movimento à festa. No final, Filipe Faísca foi Filipe Faísca. Agradeceu, dançou e pegou em Maria Borges ao colo.

À 49ª edição, a ModaLisboa mudou-se para o Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII e, ao longo dos três dias, fez oito desfiles ao ar livre e abertos ao público. O maior evento de moda da capital volta em março, com a apresentação das coleções outono-inverno 2018/19, no mesmo espaço.