Angola espera conhecer ainda este ano os efeitos dos microplásticos no ecossistema marinho, através do estudo que o navio de investigação pesqueira “Dr. Fridtjof Nansen”, considerado o mais avançado do mundo, está a realizar em águas nacionais.

A bordo do navio norueguês, atracado desde quarta-feira no porto de Luanda, estão 30 cientistas, de várias nacionalidades, entre os quais nove angolanos, que asseguram o levantamento e monitorização dos ecossistemas pelágicos ao longo da costa africana.

A presença de microplásticos, como fibras de redes de pescas ou restos de sacos, no ecossistema e nos recursos marinhos é neste momento a maior preocupação desta investigação, com a perspetiva de os primeiros resultados do levantamento serem conhecidos dentro de dois meses.

Quando acabar esta missão, nós vamos ter um conhecimento mais atualizado, não só dos nossos recursos marinhos, mas também dos ecossistemas. Nesta campanha de investigação científica abriram-se novas linhas de investigação e pela primeira vez fizemos a investigação de microplásticos, que poderá ter efeitos no ecossistema e nos recursos”, explicou a ministra das Pescas de Angola, Victória de Barros Neto.

A governante falava aos jornalistas a bordo do navio norueguês, de 70 metros, que desde maio está a percorrer a costa africana, com início em Marrocos, até concluir a missão em dezembro, na África do Sul. A bordo deste cruzeiro científico, além dos cientistas e investigadores, segue uma tripulação de 15 elementos e sete laboratórios que analisam 24 horas por dia os dados recolhidos no mar.

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Em concreto, a costa de Angola já está a ser analisada desde 1 de outubro, desde a foz do rio Congo, prolongando-se até 4 de novembro, na foz do rio Cunene.

Para além da investigação tradicional, já que estes cruzeiros científicos são regulares e permitem dar continuidade à investigação anterior da biologia pesqueira e marinha, bem como da oceanografia em cada país, a campanha em curso está a analisar igualmente as características nutricionais e contaminantes das principais espécies pescadas em águas angolanas.

De acordo com a diretora do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP) de Angola, Filomena Vaz Velho, que é também uma das investigadoras angolanas a bordo do navio norueguês, “ainda é cedo” para dizer se a presença destes microplásticos nos recursos marinhos angolanos é um problema.

É um problema a nível mundial, porque tem efeitos na perda da biodiversidade, se os organismos engolirem esse microplásticos podem morrer asfixiados. Foi a primeira vez que se recolheram amostras de microplásticos nas nossas águas, mas ainda não quantificamos”, explicou.

Seguem a bordo também investigadores do Gabão e da República do Congo, tendo o navio tecnologia única em todo o mundo e capacidade para fazer o mapeamento dos recursos marinhos e detetar o nível de poluição marinha, entre outras valências.

O “Dr. Fridtjof Nansen” entrou em funcionamento em março de 2017 e está a ser gerido pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), sendo operado pela Universidade de Bergen e pelo Instituto de Investigação Marinha da Nourega.

Desde 1985 que Angola e Noruega realizam anualmente cruzeiros de investigação ao longo da costa angolana, até agora com o objetivo de estimar a abundância dos principais recursos haliêuticos e relacionar a sua dinâmica com a variabilidade ambiental, explica o Ministério das Pescas.

De acordo com a ministra, no final de 2018 deverá chegar a Angola o navio de investigação “Baía Farta”, encomendado pelo Estado angolano a um estaleiro holandês e que terá “valências idênticas”.

“Será muito bom para Angola porque vai aumentar a capacidade de investigação dos nossos mares”, apontou Victória de Barros Neto.