Ainda na rua, de cabeça ao sol, a entrada surge magistral. Dá vontade de, pé ante pé, ir em direção à porta de grandes dimensões e inquirir sobre a atual identidade do palacete oitocentista. O cenário descrito já aconteceu várias vezes, uma vez que o hotel de cinco estrelas ainda não está devidamente assinalado. O Verride Palácio Santa Catarina abriu em regime de soft opening há coisa de duas semanas e o gastrobar Suba é a sua mais recente novidade.

Sem se restringir aos hóspedes, o restaurante que está algures entre fine dining e tapas serve-se de Lisboa enquanto prato principal. A cidade está por todo o lado. À direita e à esquerda. Atrás e à frente. As janelas largas do gastrobar fazem com que muito facilmente a vista (tanto de dia como de noite) rivalize com as propostas gastronómicas que chegam à mesa.

Bruno de Carvalho, cujo trabalho já o levou além-fronteiras mais do que uma vez, é o chef de serviço. É ele o homem responsável pelos pratos de proporções reduzidas e apresentações entusiasmantes, que podem ser escolhidos à la carte ou encontrados nos dois menus de degustação (de cinco e sete pratos, 45€ e 60€, respetivamente). Ao almoço há ainda um menu do dia, que depende inteiramente dos produtos frescos que o chef encontrar no mercado nessa mesma manhã.

Ravioli de rabo de boi com trufa preta (13€) © Divulgação

No em dia em que nos sentámos à mesa com Paula Marques, diretora-geral do boutique hotel, a surpreendente bola de berlim com creme de sapateira (7€) foi a primeira iguaria a ser colocada sobre a toalha. Seguiu-se o caranguejo real com citrinos e creme de guacamole (15€) numa cama de sal e o ravioli de rabo de boi com trufa preta (13€), acomodado numa taça de vidro. O final da refeição ficou a cargo das sobremesas tártaro de manga, coalhada de yuzo, infusão de gengibre e maracujá (6€) e “A Floresta” (ou “Dom Sebastião”) (8€) — o doce à base de um brownie de chocolate, com mistura de algas e coentros desidratados, vem dentro uma taça envolta em fumo, como que a assinalar o regresso de um rei que há muito partiu.

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Tártaro de manga, coalhada de yuzo, infusão de gengibre e maracujá (6€) © Divulgação

Além do Suba, que apresenta um registo mais informal, o hotel vai ter o restaurante Criatura. Apesar de ainda não ter data de abertura, já se sabe que vai apostar numa gastronomia tipicamente portuguesa, com influências das ex-colónias. O conceito já lhe assenta que nem uma luva: debaixo de um teto de tijoleira arqueado estão 101 lugares sentados, mesas cujos tampos foram feitos com sobras do chão de madeira original e, de um dos lados, avista-se uma tapeçaria inglesa do século XVIII.

Pode não parecer, mas o palacete colado ao muito concorrido miradouro do Adamastor teve duas vidas, antes e após o terramoto de 1755 que devastou Lisboa. A lista de proprietários é longa, mas foi o Conde Verride — que agora dá nome à unidade hoteleira — quem mais contribuiu para o aspeto atual do edifício. Não que este dispensasse as obras de renovação e a decoração escolhida a dedo, um investimento que rondou os 18 milhões de euros (só a compra do palacete, feita por investidores privados, ficou nos 12 milhões).

Até ao final do mês de novembro, as duas suites (“Rainha” e “Rei”) vão custar 2.000€ a noite. © Divulgação

Munido de 19 quartos (incluindo duas suites que, até ao final de novembro, estão a custar 2.000€ a noite, cada uma; quartos standard a 350€), O Verride é uma caixinha de surpresas: seja pela decoração sóbria que pontualmente nos transporta para outros tempos, seja pelos muitos serviços que disponibiliza. Nenhum monarca aqui viveu, muito embora as suites sejam do “Rei” e da “Rainha”. Nomes de batismo que são facilmente entendidos quando estamos no seu interior: há tetos trabalhados, paredes revestidas de azulejos clássicos e toalhas e lençóis da exclusiva Abyss e Habidecor. Aqui, dorme-se que nem um rei (ou rainha).

A sala de pequenos-almoços, no rés-do-chão, também merece ser falada. Não só é dotada de uma cozinha para que os hóspedes possam cozinhar — isto numa altura em que existem cada vez mais restrições alimentares –, como dá acesso ao alpendre e sua piscina. Uma escadaria imponente une o simpático espelho de água ao cimo do palácio, de encontro a um rooftop sem igual. Nem de propósito, e a julgar pela licença emitida pela Câmara Municipal, este é o único edifício da cidade com uma vista de 360º sobre Lisboa, dado o miradouro no último andar: no Verride, é mesmo sempre a subir.

Nome: Suba
Morada: Rua de Santa Catarina, 1, Lisboa
Horário: Todos os dias, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h.
Preço Médio: 40€
Reservas: Obrigatórias (tel.: 211 573 055)
Site: www.verridesc.pt/experience/