A Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares, prémio Nobel da Paz 2017, considerou esta sexta-feira que a decisão do Presidente norte-americano de não certificar o acordo nuclear iraniano vai favorecer a proliferação e o uso de armas nucleares.

A decisão “incita à proliferação, dificulta a conclusão de outros acordos para limitar a ameaça nuclear e aumenta o risco mundial de utilização [de armamento] nuclear”, considerou a ICAN (na sigla original), em comunicado.

Enquanto Nobel da Paz 2017, a ICAN critica fortemente esta decisão”, acrescenta.

Citada no comunicado, a diretora da ICAN, Beatrice Fihn, denuncia a “tentativa de desestabilização do acordo iraniano pelo Presidente Trump”, depois de a Agência Internacional de Energia Atómica ter certificado repetidamente que o Irão cumpre os termos do acordo.

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É um lembrete brutal do imenso perigo nuclear com o qual o mundo está confrontado atualmente e a necessidade urgente de todos os Estado proibirem e eliminarem estas armas”, sublinha.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, advertiu hoje que, caso não consiga corrigir as “falhas” do acordo nuclear com o Irão através da ação do Congresso ou de negociações internacionais, vai abandonar o pacto.

“Caso não alcancemos uma solução, o acordo será cancelado”, disse o chefe de Estado norte-americano, numa declaração a partir da Casa Branca para anunciar a estratégica da atual administração dos Estados Unidos em relação ao Irão e o acordo sobre o programa nuclear iraniano alcançado em 2015.

Apesar de manter o acordo, Trump afirmou que recusa-se a certificar o acordo, que qualificou como “um dos piores”. E insistiu que Teerão não respeita o espírito do documento.

Face às “crescentes ameaças” de guerra nuclear, o Presidente norte-americano, Donald Trump, está a gerar “novos conflitos, em vez de reduzir o risco de uma guerra nuclear”, considera a ICAN.

Reunindo várias centenas de organizações não-governamentais, a ICAN empenhou-se no tratado de proibição de armas atómicas, adotado por 122 países a 07 de julho, na Organização das Nações Unidas (ONU).

O seu alcance, no entanto, deve permanecer essencialmente simbólico, uma vez que as potências nucleares se recusaram a aderir.

O tratado entrará em vigor quando for ratificado por 50 países.

A 6 de outubro, dia da atribuição do Nobel da Paz à ICAN, a diretora declarou que “a eleição do Presidente Donald Trump deixou muitas pessoas desconfortáveis por causa da ideia de que ele, sozinho, pode autorizar a utilização de armas nucleares, e que não há ninguém que possam impedi-lo”.

O acordo nuclear entre o Irão e o grupo de países 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU — Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China — e a Alemanha) foi alcançado em julho de 2015 em Viena, ainda sob a alçada da administração do Presidente Barack Obama (democrata).

O acordo foi assinado com o objetivo de garantir a natureza exclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano.

Desde que entrou em vigor, a 16 janeiro de 2016, a administração americana certifica-se, a cada 90 dias, perante o Congresso, de que Teerão está a respeitar os termos acordados e se o pacto favorece o “interesse nacional” dos Estados Unidos.

Essa certificação é feita ao abrigo de uma lei aprovada pelo Congresso, conhecida pela sigla INARA.