A artista norte-americana Sharon Lockhart inaugura esta quarta-feira, no Museu Coleção Berardo, em Lisboa, a exposição “meus pequenos amores/my little loves”, que resulta do trabalho que tem desenvolvido nos últimos anos com crianças e adolescentes na Polónia.

A mostra integra vídeos, fotografias e outros objetos, como uma edição em braille do livro Como amar uma criança, editado pela primeira vez em 1919, do “pensador radical e pedagogo” polaco Janusz Korcazk.

Sharon Lockhart descobriu o livro quando decidiu pesquisar sobre o seu autor, cujo nome estava nas instituições onde viviam crianças e adolescentes com quem trabalhou (e trabalha) e que estes desconheciam, contou a artista hoje, durante uma visita de imprensa à exposição.

Janus Lorcazk é o criador e editor de “A Pequena Revista”, suplemento semanal escrito por crianças e publicado com o diário judaico “A Nossa Revista”, entre 1926 e 1939. Uma reprodução de um dos originais, de 1931, faz parte da mostra, bem como “a primeira tradução portuguesa de ‘A Pequena Revista’”.

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O número impresso, com cópias em português e em inglês disponíveis na exposição para que os visitantes o levem para casa, foi planeado por crianças com quem a artista trabalhou. “Foi a equipa editorial que decidiu que artigos seriam traduzidos em várias línguas”, explicou.

Ao longo dos últimos anos, Sharon Lockhart tem trabalhado com “meninas sem voz nas instituições que percorrem nas fases diferentes das suas vidas”. Com uma delas, Milena, uma pessoa “muito interessante e complicada”, manteve uma relação de maior proximidade.

Ao longo de um ano, a artista deslocou-se várias vezes à Polónia para fazer passeios e exercícios específicos com Milena, dos quais resultaram algumas das fotografias expostas no Museu Berardo, bem como um vídeo, no qual a adolescente recria a cena final de “Os 400 golpes”, de François Truffaut.

O título da exposição (“my little loves”), explicou, é o nome com que Sharon Lockhart batizou os ‘home movies’ (filmes caseiros) que faz no fim de cada ação que desenvolve com as meninas polacas, com quem trabalha desde 2013.

“Meus pequenos amores/my little loves”, recordou o curador Pedro Lapa, “nasceu de um convite do Doclisboa [festival cuja programação integra o mais recente filme de Sharon Lockhart, “Rudzienko” (2016)], para expandir algo que pudesse ser apresentado no festival para uma exposição”.

Pedro Lapa pensou “de imediato” em Sharon Lockhart, com quem tinha trabalhado há onze anos em “Pine Flat”, que esteve patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado.

“A necessidade de rever o seu trabalho [em Portugal] era premente, pela tipologia de trabalhos que tem desenvolvido. Um trabalho profundamente envolvido com situações de comunidades”, considerou.

“Meus pequenos amores/my little loves” surge de uma relação, “que remonta a 2009 de Sharon Lockhart com comunidades de adolescentes e que tem uma continuidade”, disse, contando que a artista chegou na terça-feira a Lisboa vinda de Varsóvia, onde esteve a fazer ‘workshops’ com crianças.

A mostra é coproduzida com o festival Doclisboa, que arranca na quinta-feira e cuja programação integra “Rudzienko” (2016), o mais recente filme de Sharon Lockhart e também ele parte do trabalho que tem desenvolvido na Polónia.

A norte-americana é a artista convidada da secção Passagens, na qual irá apresentar também “Children Must Laugh” [em português, “As crianças devem rir-se”] (1936), de Aleksander Ford, “um filme propaganda sobre crianças judias na Polónia dos anos 1930, que foi banido naquele país”, explicou Sharon Lockhart.

“Queria ver algo que não tinha visto, conversar sobre o facto de ter sido banido e sobre o título”, disse a artista, referindo ainda que o filme “foi restaurado recentemente”.

“Meus pequenos amores/my little loves” fica patente no Museu Coleção Berardo até 28 de janeiro, de 2018. As exibições no Doclisboa estão marcadas para sexta-feira, às 19:00, e para segunda-feira, às 21:15, no pequeno auditório da Culturgest.