Em cada conferência de imprensa de Sérgio Conceição há sempre uma frase que fica no ouvido. Pode ser só uma, mas nunca falha. E, antes do jogo com o RB Leipzig, a mesma surgiu quando foi questionado sobre a possibilidade de apresentar mais uma surpresa na equipa como tinha feito com Sérgio Oliveira no Mónaco.

Não sou pago para fazer surpresas, sou pago para colocar a melhor equipa. Se calhar para muitos foi uma surpresa, porque não conhecem o nosso trabalho diário, e o Sérgio não tinha jogado até então. Mas nós conhecemos muito bem os jogadores que temos à disposição, sabemos o que podemos fazer e da forma como contamos com eles. Toda a gente está envolvida, comprometida e pronta para ajudar”, disse

Ficha de jogo

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RB Leipzig-FC Porto, 3-2

3.ª jornada do grupo G da Liga dos Campeões

Red Bull Arena, em Leipzig

Árbitro: Paolo Tagliavento (Itália)

RB Leipzig: Gulácsi; Klostermann, Willi Orban, Upamenaco, Halstenberg; Kampl, Naby Keita; Sabitzer, Forsberg (Bernardo, 90′), Bruma (Timo Werner, 75′) e Jean-Kévin Augustin (Poulsen, 76′)

Suplentes não utilizados: Mvogo, Konaté, Laimer e Diego Demme

Treinador: Ralph Hasenhüttl

FC Porto: José Sá; Layún, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo Pereira, Sérgio Oliveira (Óliver Torres, 58′), Herrera (Hernâni, 81′); Marega, Brahimi (Corona, 76′) e Aboubakar

Suplentes não utilizados: Casillas, Diego Reyes, Ricardo e Otávio

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Orban (8′), Aboubakar (18′), Forsberg (38′), Augustin (41′) e Marcano (44′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Brahimi (46′), Orban (47′) e Sérgio Oliveira (54′)

Às vezes resulta, outras vezes não. Neste caso, a entrada de José Sá para o lugar de Iker Casillas (quando estamos a escrever esta crónica não sabemos ao certo o que se poderá ter passado com o guarda-redes espanhol) não resultou, mas também não foi por isso que o FC Porto perdeu. Perdeu e perdeu bem. E entre tantas surpresas, o que mais surpreendeu foi mesmo ter acabado como chegou ao intervalo (3-2). Porque podia ter sido pior.

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Surpresa 1, a titularidade de José Sá em vez de Iker Casillas. Que é como quem diz, a troca do jogador com mais partidas feitas na Liga dos Campeões por um que nunca tinha alinhado nas provas europeias. O internacional Sub-21, que tinha jogado na Taça de Portugal frente ao Lus. Évora (jogado é uma força de expressão porque mal tocou na bola, mas estava no onze), não esteve bem no primeiro golo de Orban, onde podia ter feito bem melhor (8′), não teve qualquer hipótese nos outros dois. Na segunda parte, conseguiu encontrar-se e fazer duas/três boas intervenções. Mas a verdade é que, coincidência ou não, nunca se viu uma defesa portista tão aos tremeliques como esta noite, onde bastava a bola entrar no último terço para ficar tudo em alvoroço e sem saber o que fazer.

Surpresa 2, a permeabilidade da defesa e meio-campo portista. A forma como o RB Leipzig chegou ao segundo (Forsberg, 38′) e ao terceiro (Augustin, 41′) golos num lapso de quatro minutos não tem nada a ver com a imagem sóbria em termos defensivos que os dragões apresentaram até este momento da temporada, sobretudo por terem surgido na zona central ocupada pelo triângulo de ferro composto por Felipe, Marcano e Danilo Pereira. Mas houve mais oportunidades, muitas mais, sempre beneficiando de erros coletivos e individuais inesperados como aquele onde Marcano estendeu a passadeira para o avançado do conjunto germânico acelerar e marcar.

Surpresa 3, a falta de intensidade do FC Porto. Da defesa ao ataque, o RB Leipzig foi mais forte em todos os duelos: conseguia sair facilmente na primeira zona de construção, conseguia colocar facilmente bola no espaço entre linhas pelo corredor central (sobretudo por aí, até mais do que pelos flancos), conseguia criar facilmente oportunidades de golo, para os avançados ou para as diagonais dos alas. Pior ainda, conseguia recuperar facilmente logo à saída da área dos dragões. Em muitos períodos, em especial na primeira parte, o sufoco germânico tornou curto o futebol dos azuis e brancos, que andaram à deriva a ver o adversário ganhar as primeiras e as segundas bolas.

Supresa 4, a incapacidade de criar oportunidades de golo. Se existe predicado que caracteriza este FC Porto de Sérgio Conceição é a facilidade com que a equipa mete a bola com qualidade no último terço e consegue encontrar espaços para visar a baliza, na área ou através da meia distância. Hoje, pura e simplesmente não conseguiu. E até à meia hora, tocou a bola na área do RB Leipzig três vezes e apenas na jogada que deu o golo de Aboubakar (18′). Os dois golos, obtidos na sequência de um lançamento (o primeiro) e de um canto (o segundo, de Marcano, aos 44′), foram um prémio demasiado bondoso para quem não fez por isso. No segundo tempo, os dragões conseguiram subir um pouco as linhas, tiveram um pouco mais de bola, mas os remates e as oportunidades foram quase nulas.

Surpresa 5, a inoperância das substituições. Sérgio Conceição tem um plantel com qualidade onde falta alguma quantidade e é por isso que tenta puxar por todos os elementos disponíveis, como se viu no encontro frente ao Lus. Évora. Nesse sentido, quando mexe no jogo, o FC Porto consegue sempre acrescentar algo, que mais não seja aproveitando o desgaste proporcionado na equipa adversária. Esta noite, nem uma, nem outra: nem as opções iniciais conseguiram provocar dano no conjunto germânico, nem os jogadores lançados no segundo tempo fizeram diferença. Pelo contrário: Óliver Torres, Corona e Hernâni fizeram menos do que Sérgio Oliveira, Brahimi e Herrera.

Em resumo, o RB Leipzig, o clube mais odiado na Alemanha, tem um futebol capaz de apaixonar, com velocidade, com critério, com muita intensidade, com objetividade na procura do golo. Para travar o vice-campeão alemão só mesmo um FC Porto apaixonado, raçudo, organizado, a fazer de qualquer lance como se fosse o último. Que hoje, pura e simplesmente, não existiu. Essa foi uma surpresa, quase tão grande como a saída de Casillas da equipa; no final dos 90 minutos, o que surpreendeu mesmo foi os números finais com que se atingiu o epílogo do encontro.