A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) exortou esta quarta-feira o novo Governo angolano a “não ter medo da informação, do contraditório e da lucidez dos cidadãos”, augurando que o atual ambiente político seja “sinónimo de pluralidade informativa”.

O posicionamento foi transmitido em Luanda, pelo vice-presidente e porta-voz da CEAST, José Manuel Imbamba, durante a conferência de imprensa de encerramento da segunda assembleia ordinária dos bispos angolanos, exortando à “redução das assimetrias informativas” no novo ciclo político que resulta da eleição, em agosto, de João Lourenço como novo chefe de Estado.

Por isso, é nosso augúrio que o novo Governo se muna de facto dessa nova mentalidade, a não ter medo da informação, a não ter medo do contraditório, a não ter medo da lucidez dos seus cidadãos”, disse.

Para o também arcebispo de Saurimo, na Lunda Sul, a população espera deste novo ciclo político do país, nomeadamente, “maior abertura” e “que a informação seja plural”.

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Sempre à altura para que se evitem aquelas situações que fazem com que muitos cidadãos vivam aquém da sua real cidadania. E isto passa exatamente pela qualidade da informação, pela qualidade da atualização que querem e que devem ter à sua disposição”, acrescentou.

Ainda de acordo com o porta-voz da CEAST, “a consciência cívica está a crescer”, assim como a participação, que “está a evoluir”, pelo que “é preciso que os políticos também estejam a altura da evolução da própria sociedade”. “E isso, não se faz com ignorantes, não se faz com pessoas que ainda vivem nas trevas”, apontou.

Questionado sobre as expectativas dos bispos em torno da expansão do sinal da Rádio Ecclesia – Emissora Católica de Angola -, afeta à CEAST e apenas circunscrito a Luanda, processo paralisado há vários anos, o porta-voz da instituição garantiu trabalho com as entidades, esperando uma evolução face ao novo quadro da nova governação do país.

É um desafio que fica e nós como Conferência vamos continuar a trabalhar sempre no diálogo, no respeito da lei, no respeito das autoridades. Queremos que de facto a Rádio Ecclesia se faça sentir em todo o país”, sublinhou.

Na posição final da reunião, os bispos católicos apelaram ainda aos políticos e a todos os cidadãos a trabalharem para fomentar e cultivar a educação permanente para a democracia, a cidadania, a paz, o convívio plural e a tolerância.

Os bispos da CEAST congratularam-se ainda com o propósito do novo Presidente da República, João Lourenço, de trabalhar para o bem de todos os angolanos, diminuindo as assimetrias existentes a diversos níveis. “Outrossim, encorajam os novos governantes a comprometerem-se com a dignidade da pessoa humana e com a promoção do bem comum e da justiça social”, concluiu o bispo José Manuel Imbamba.

A segunda Assembleia Ordinária dos bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé decorreu em Luanda de 11 a 18 de outubro e refletiu ainda sobre a vida interna da Igreja Católica no país, tendo aprovado, entre outras medidas, a criação de Tribunais Eclesiásticos Diocesanos.

Fome e falta de medicamentos preocupam bispos

Os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) assumiram preocupação com a “falta gritante e escandalosa” de medicamentos nos hospitais públicos, os “sinais de fome” e envenenamentos que afetam várias zonas do país.

A constatação dos bispos católicos, com um pedido de intervenção urgente dirigido às autoridades, vem expresso no comunicado final apresentado esta quarta-feira em conferência de imprensa, no final da segunda reunião ordinária da CEAST, que decorreu em Luanda de 11 a 18 de outubro.

De acordo com o porta-voz da CEAST, o bispo José Manuel Imbamba, além da falta de medicamentos nos hospitais, “continua a assistir-se em Angola a estagnação das obras públicas” e à “falta de serviços básicos como água, energia e transportes públicos”.

A situação nos hospitais, nomeadamente com o desvio de material clínico, já foi alvo de crítica por parte do novo Presidente angolano, João Lourenço, que prometeu agir para travar estes constrangimentos no acesso à saúde em Angola.

O aumento dos preços de materiais de construção e de outros produtos. Há ainda sinais de fome em algumas zonas do sul de Angola por escassez de chuva. Mantém-se a agressão ao meio ambiente através da desflorestação desenfreada em curso, pelo abate de árvores”, sublinhou.

Em algumas capitais provinciais, segundo o bispo, está a crescer o número de doentes mentais jovens e os envenenamentos humanos também estão a aumentar: “Pedimos a intervenção urgente das autoridades policiais contra os fabricantes, comerciantes e fomentadores desses venenos que, pouco a pouco, vão perturbando a ordem social”.

Quanto às ações da Igreja Católica, os bispos constataram que as dioceses continuam a caminhar com várias iniciativas e que “em virtude de algumas lacunas detetadas” foi feito o apelo aos párocos “para que dediquem maior atenção aos averbamentos e a todos assuntos que ao cartório dizem respeito”.