Uma bebé que foi dada como morta pela Proteção Civil, mas que afinal estava viva. Um presidente de Câmara a noticiar mais dois mortos, informação que pouco depois viria a ser corrigida. E volta a confusão em torno do número das vítimas dos incêndios deste fim de semana nas regiões Norte e Centro do país, depois de Pedrógão Grande. Três dias após as chamas terem sido controladas, a Procuradoria-Geral da República (PGR) recusa-se, para já, a divulgar a lista atualizada dos mortos, mas dá luz verde a que os nomes sejam revelados por outras “entidades oficiais” e diz que tal “não prejudica as investigações” em curso.

As diligências de investigação de natureza pericial, no âmbito dos inquéritos instaurados, encontram-se ainda em curso. Assim, as exigências da investigação criminal não permitem responder ao solicitado, sem prejuízo de tal informação poder ser prestada por outra entidade oficial. Entende-se que essa divulgação não prejudica as investigações“, respondeu ao Observador, esta quinta-feira, fonte oficial da PGR.

Porém, questionadas, as restantes “entidades oficiais” escusaram-se também a divulgar identidades das vítimas mortais. O Ministério da Administração Interna (MAI) respondeu que “esta é uma matéria na qual o MAI não tem competências” e que “a identificação das vítimas mortais está a ser feita pelo Instituto de Medicina Legal”.

O Ministério da Justiça, que tutela esse Instituto, apenas respondeu que o “Instituto de Medicina Legal é um dos organismos do Ministério da Justiça envolvido que tem trabalhado 24 horas por dia para dar resposta eficiente aos pedidos que têm sido feitos”, negando-se a dar detalhes desses trabalhos “relativamente a esta tragédia”.

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Em situações de catástrofe, o Comando Operacional da Associação Nacional de Proteção Civil (ANPC) assume as responsabilidades de recolher e prestar toda a informação de interesse público”, rematou o gabinete de imprensa do Ministério da Justiça.

Por seu turno, a porta-voz da Proteção Civil diz que a divulgação da lista com os nomes das vítimas mortais dos incêndios “é da competência da Medicina Legal”. Mais tarde, ao Observador, Patrícia Gaspar explicou ainda que a decisão de revelar uma lista de mortos “será tomada a breve trecho, quando excluirmos outras vítimas”.

Essa lista só será libertada depois de realizados todos os exames de perícia pelo Instituto de Medicina Legal. Quem a divulga e quando a divulgará só depois se saberá”, assegurou a porta-voz da Proteção Civil.

Já o gabinete do primeiro-ministro não respondeu às questões colocadas.

Recorde-se que, aquando dos incêndios de Pedrógão Grande, e pressionado pela oposição para divulgar a lista de mortos, o gabinete de António Costa esclareceu que tinha confirmado junto da procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, que “o segredo de justiça abrange a lista das vítimas” e que “como decorre da Lei, a divulgação da lista de vítimas será feita pelo Ministério Público se e quando o considerar adequado”.

Pedrógão. As mortes, as cautelas e as dúvidas

Também o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, dizia que não podia ser conhecida a identidade das vítimas, visto que o Ministério Público estava a desencadear “um inquérito de natureza criminal” e falava na “proteção da investigação” que, agora, a PGR diz não ser afetada por divulgações feitas por outras entidades oficiais.

E só mais de um mês depois da tragédia de 17 de junho em Pedrógão Grande, a PGR divulgou, a 25 de julho, a lista com os nomes das 64 pessoas que morreram, vítimas dos incêndios, por considerar que tal não prejudicaria a investigação.

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Serão mesmo 43 as vítimas mortais dos incêndios no Centro e Norte do país?

A contabilização dos mortos dos incêndios destes dias 15, 16 e 17 de outubro, nas regiões Norte e Centro, tem vindo a ser feita pela Proteção Civil junto da comunicação social e a conta vai já em 43 — com a última vítima mortal, encontrada na localidade de Avô, em Oliveira do Hospital, a ser divulgada esta quinta-feira.

Dos 43 mortos já confirmados, 20 são de Coimbra (10 em Oliveira do Hospital, 3 em Tábua, 3 em Arganil, 3 em Penacova e 1 em Pampilhosa da Serra), 18 de Viseu (8 em Vouzela, 5 em Santa Comba Dão, 1 em Nelas, 1 no Carregal do Sal, 2 em Tondela e 1 em Oliveira de Frades), dois da Guarda e um de Castelo Branco (Sertã). Duas vítimas morreram no Hospital de Coimbra mas desconhece-se a sua residência.

Nessa soma estão “todas as pessoas que faleceram nestes cenários de incêndio” — em vários concelhos de Coimbra, Viseu, Guarda e Castelo Branco –, incluindo as duas pessoas que morreram na A25 (que liga Aveiro a Vilar Formoso, passando por Viseu), nomeadamente uma grávida de 19 anos que circulava em contra mão para fugir às chamas, confirmou ao Observador a adjunta do comando nacional da Autoridade da Proteção Civil, Patrícia Gaspar.

Tendo ainda presente a história da 65ª vítima de Pedrógão Grande — Alzira Costa — que morreu atropelada quando fugia do fogo e que, por isso, não foi considerada uma morte “direta” do fogo, o Observador questionou Patrícia Gaspar sobre se as duas vítimas mortais da A25 entrariam na lista oficial de mortos dos recentes incêndios. Ao que a porta-voz da ANPC respondeu que “só no fim da autópsia é que se poderá fazer essa distinção” entre as mortes diretas do incêndio e as outras que podem não ser contabilizadas. Ou seja, a lista que vier a ser divulgada com os nomes pode não considerar todos os 43 que foram confirmados pela Proteção Civil.

O Observador questionou ainda o Ministério da Justiça sobre quantos corpos foram já identificados pelo Instituto de Medicina Legal mas não obteve resposta até à hora da publicação desta peça. Na quarta-feira, à Lusa, fonte oficial do Ministério da Justiça disse que o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses já tinha realizado 40 autópsias às vítimas dos incêndios e que oito corpos já tinham sido entregues às famílias.

Além dos mortos inicialmente avançados, foi também divulgado o número de feridos contabilizados pelo INEM: 71. Desses, 55 eram feridos ligeiros e 16 feridos graves. Patrícia Gaspar detalhou que “dos 16 feridos graves, sabemos que três já faleceram – um no Hospital de Viseu e dois no Hospital de Coimbra. E agora o que pode acontecer é que algum dos ligeiros evolua para grave ou graves passem a ligeiros. Mas não foram identificados mais feridos depois disso”.