Eles dispensam formalidades. Abraçaram de vez os materiais técnicos e as peças desafogadas e estão a marcar pontos na moda masculina. Se formam uma espécie de cartel, não temos bem a certeza. Mas que o sportswear (tendência que há anos começou a tomar conta das passerelles e que parece ter vindo para ficar) saiu revigorado desta quinta-feira, isso garantimos. No Porto, a 41ª edição do Portugal Fashion arrancou com o Espaço Bloom, plataforma dedicada a apresentar as coleções de jovens promessas do design nacional.

De olhos postos no próximo verão, oito criadores fizeram desfilar as suas coleções. Apesar das idades tenras, nem todos cumpriram com os níveis de frescura expetáveis. Mas houve um trio que salvou o dia — oxalá houvesse sempre. Depois da sala de desfiles, instalada no Museu do Carro Elétrico, ter sido entregue a alunos de escolas e faculdades e da estreante Joana Braga nos ter feito arregalar os olhos com um contraste de volumes disformes e transparências próprias da lingerie, chegou David Catalán.

Os quadrados vichy foram na coleção de David Catalán © Ugo Camera

Enquanto uns só praguejam contra a enchente de turistas, o designer partiu desse veraneio despreocupado para imaginar o próximo verão. Por alto, as peças dividem-se em duas categorias: as que um finório qualquer usaria no seu primeiro dia de praia (ou piscina) e as que nos remetem automaticamente para a farda de um proletário feliz. Feliz porque se deixou animar pelo amarelos, pelo verde e pelo azul que predominam na coleção. Catalán não ficou por aqui. Brincou com os quadrados vichy, divertiu-se a misturar tons de ganga e ainda ameaçou trazer do mundo dos mortos aquelas míticas calças que estão a um fecho de distância de serem calções.

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A fertilidade do criador espanhol não passa despercebida. Além do Porto e Madrid, a etiqueta David Catalán já chegou a lojas multimarca em Istambul e Hong Kong. Assim que terminou o desfile, as peças ficaram disponíveis para pré-venda na loja online Minty Square (o mesmo vai acontecer com a coleção de Katty Xiomara, a partir de sábado). Além de 10% de desconto, a produção é feita em tempo recorde permitindo assim que as peças demorem apenas duas semanas a chegar. Embora só desenhe roupa masculina, parece que isso não impede o público feminino de cobiçar as peças do criador. A conclusão de Catalán é só uma: a de que não entende as mulheres. “Acho engraçado, por acaso. Quando fazia roupa para mulher, elas não vestiam. Agora que só faço homem, todas querem usar”, afirma.

“Raving Iran”, o streetwear de Nycole vem do Médio Oriente © Ugo Camera

A carga que Nycole levou para a passerelle é bem mais pesada. O streetwear militarizado foi mais uma acha para a fogueira (aquela em que elas querem a roupa deles), um fenómeno que a criadora justifica com a versatilidade desta silhueta, logo ela que era capaz de usar qualquer uma das peças. Para nós, nem a coleção “Raving Iran” nem a designer são desconhecidas. Cruzámo-nos com Nycole em junho, num showroom de criadores portugueses em Paris. Na altura, contou-nos sobre a encomenda que tinha acabado de fechar para uma loja no Japão e sobre a dupla de DJs iranianos que se viu proibida de produzir música eletrónica no próprio país. Não foi conversa fiada, a história é verídica e está na base da coleção para o verão de 2018. Agora, está na altura de pensar no outono seguinte, porque em janeiro Nycole volta a a voar até Paris.

A fechar a primeira noite de Portugal Fashion no Porto, Sara Maia. O desfile arrancou com um look meio “calvin kleiniano”, o que não passou de um falso pronúncio. A coleção pendeu muito mais para materiais impermeáveis e leves e para nós de escalada do que propriamente para gangas e sarjas. Os bolsos XL moldaram as silhuetas do princípio ao fim.

Sara Maia fechou o calendário de quinta-feira com uma das coleções mais desportivas do dia © Ricardo Castelo

Inês Torcato e Beatriz Bettencourt remaram na direção oposta. Esforçaram-se para que os vestidos longos, os laivos de alfaiataria, os decotes e as silhuetas cintadas não desaparecessem do calendário. E conseguiram-no, cada uma à sua maneira. Inês desconstruiu os clássicos, quase como se tivesse escortinado as roupas de todos os funcionários de uma sucursal de um banco e, a partir daí, feito peças novas. Beatriz apostou as fichas nas t-shirts com mensagens e nas saias e vestidos abaixo dos joelhos. O resultado é uma mulher que tenta ser rebelde, mas que continua a não dispensar a sua cintura bem marcada.

A 41ª edição do Portugal Fashion continua até sábado, agora na Alfândega do Porto. Pela passerelle ainda vão passar nomes como Susana Bettencourt, Diogo Miranda, Miguel Vieira, Luís Buchinho, Nuno Baltazar e Alexandra Moura.