A primeira mulher eleita presidente de uma Câmara Municipal na Madeira, a socialista Célia Pessegueiro, toma esta sexta-feira posse na Ponta do Sol e, ainda que não valorize muito o facto, promete dar “mais atenção aos detalhes”.

“Espero ser a primeira de muitas, porque a política requer a participação de todos para quem nós governamos”, disse à agência Lusa, realçando que mais de 50% da população é do sexo feminino e que o facto de não haver muitas mulheres em cargos de decisão contribui para que “algumas questões” passem para segundo plano.

Célia Pessegueiro nasceu “à moda antiga, com parteira em casa”, há 37 anos, na freguesia dos Canhas, uma das três que compõem o concelho da Ponta do Sol, onde passou a residir desde julho (tinha morada no Funchal), prometendo lá ficar enquanto for presidente da Câmara Municipal.

Esta não é, contudo, a primeira vez que se destaca em funções políticas, pois foi também a primeira mulher a assumir a presidência de uma estrutura partidária na Madeira, a Juventude Socialista, que liderou entre 2002 e 2008. “Como estou com este treino partidário e estas lides políticas, não é nada assim de completamente estranho. A função em si é que será diferente. É diferente estar numa lista ou ser cabeça de lista”, disse.

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Célia Pessegueiro apontou, no entanto, o dedo aos homens do próprio partido, vincando que “aquilo que não era uma candidatura de aposta à maioria da estrutura” acabou por vencer.

Ser governado por mulheres é uma coisa que não cabe na cabeça de muitas pessoas”, reconheceu, embora diga que durante a campanha eleitoral sentiu que a população estava a “mudar de atitude”, mesmo ao nível dos mais idosos.

“Havia uma esperança de que a mudança de perfil – de homem para mulher – seria também uma mudança de governação”, considerou. Célia Pessegueiro diz, no entanto, que não se orienta por esta “baliza”, mas admite que, da sua parte, haverá “mais atenção a alguns detalhes” e “mais rigor nalgumas coisas”.

“Uma expressão que às vezes ouvia, durante a campanha, foi que uma mulher arruma melhor a casa do que um homem. Eu, não sendo fã da expressão ‘arrumar’, tenho a perfeita noção de lacunas que a Câmara tem e que têm de ser supridas, sob pena de não se estar a prestar um bom serviço público”, disse.

A tarefa afigura-se árdua, considerando que o PS não dispõe de maioria absoluta. O executivo é composto por dois vereadores socialistas, dois do PSD (partido que liderou a autarquia desde sempre, até às eleições de 01 de outubro) e um do CDS-PP.

A autarca deixa claro, no entanto, que o seu mandato será um “mandato de diálogo”, privilegiando as duas forças da oposição. “Temos divergências ideológicas, mas no plano municipal e local não há divergências de fundo”, disse, sublinhando que se houver dificuldades na governação será apenas pela “partidarite”.

Por outro lado, assegura que não vai atuar “só para ser diferente”, mas para cumprir o programa da sua candidatura e, ao mesmo tempo, promete que não vai “esquecer a rua”, nem de “pôr os serviços na Câmara a funcionar com maior celeridade”.

Célia Pessegueiro, que nos últimos anos desempenhou funções profissionais numa editora madeirense, é a primeira mulher eleita presidente de um município na Região Autónoma da Madeira, mas não é a primeira a desempenhar essas funções. Maria Leonete dos Reis (PSD) exerceu o cargo de presidente da Câmara Municipal da Ribeira Brava entre 1987 e 1989, na sequência do falecimento do autarca Luís Mendes e, em 2011, Fátima Menezes (PSD) esteve à frente da Câmara Municipal do Porto Santo, substituindo o então presidente Roberto Silva.