Em 2012, o gabinete de António Costa, então presidente da Câmara de Lisboa, estava instalado no bairro e as mudanças no Largo do Intendente já aconteciam. A abertura da Casa Independente a 21 de outubro de 2012 foi um marco importante na transformação da zona. Hoje o Largo está bastante diferente, com esplanadas sempre ocupadas ao longo do dia – e da noite – e o espaço fundado por Inês Valdez e Patrícia Craveiro Lopes é o maior ponto de referência da área.

Tudo acontece no número 45 do Largo do Intendente. Fica no centro da área de Lisboa com maior diversidade cultural e ali também cabe o mundo. E diversas atividades. É frequente encontrar pessoas a trabalhar no jardim interior durante a tarde ao longo da semana, talvez um universo desconhecido para quem só lá vai jantar, beber copos, ouvir música. Na Casa Independente cabe a diversão de um espaço noturno, mas há um universo de workshops, apresentações de livros, conferências e uma multiplicidade de outros eventos a acontecerem com regularidade. E há o desejo de fazer mais.

Colocámos cinco questões a Inês Valdez. Cinco tópicos que ajudam a explicar a importância da Casa Independente naquele largo, na zona do Intendente e em Lisboa. Patrícia Craveiro Lopes, infelizmente, não pode estar presente, estava a recuperar dos efeitos destas mudanças de tempo, para estar pronta para a festa dos cinco anos da Casa Independente, que acontece mais logo com a atuação de Rita Maia.

Inês Valdez e Patrícia Craveiro Lopes na Casa Independente (foto: Pauliana Valente Pimentel)

O que as trouxe até aqui?
Conheci a Patrícia num projeto que há aqui à frente, no LARGO Residências. As duas estávamos a colaborar, começámos por fazer uns eventos na Taberna das Almas. Tínhamos vontade de fazer mais na zona, queríamos começar a envolver mais espaços e viemos conhecer este sítio para fazer um evento com Dead Combo [a apresentação do álbum “Lisboa Mulata”, que acabou por acontecer ao lado, no Sport Clube Intendente]. Apaixonámo-nos imediatamente. Antes sequer de pensarmos no que poderia ser, no que iríamos fazer com isto. O projeto veio depois de conhecermos este espaço. Tanto eu como a Patrícia sempre trabalhámos na produção em áreas artísticas, ela mais nas artes plásticas e eu na música. E ambas queríamos a mesma coisa, ter uma casa, um espaço, um sítio, onde pudéssemos programar os projetos informais e formais: desde conferências a fazer workshops para crianças. E vês isso tudo a acontecer neste espaço, tem vários recantos, salas, dá para criar diferentes ambientes. Pode estar no pátio sem perceber que algo está a acontecer no salão. Há essa diversidade dentro do espaço da Casa Independente.

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Quando é que sentiram que esta zona estava a mudar?
Eu vivo no bairro já há dezassete anos e o que me levou e ao meu companheiro a apaixonarmo-nos pelo Intendente foi ter uma dinâmica de metrópole. Sempre me pareceu que esta zona, do Martim Moniz até à Alameda, tinha uma pulsação diferente do resto da cidade. Há muita diversidade cultural, gastronómica e de vivências. Quando começámos o projeto da Casa Independente, o gabinete do António Costa já estava cá. Para nós era um no-brainer, é uma zona no centro da cidade que tinha vários problemas que tinham de ser solucionados. E que continuam a ser, e irão continuar, porque a mudança não pode acontecer de um momento para o outro. A exposição que temos agora, do arquivo da zona que estamos a fazer, fala disso: mostra as diferentes dimensões que continuam a existir no Intendente, que muita gente que por aqui passa não percebe, por causa do barulho e das luzes que o Largo agora tem. Começámos a ver vontade política e com a forma como a cidade se estava a desenvolver, a crescer, era impossível ignorar um espaço como este, um largo como este, uma zona como esta, mesmo ao lado da Almirante Reis, uma das avenidas principais de Lisboa. Isto não poderia continuar assim, foi mais ou menos percetível que alguma coisa ia acontecer.

Como têm visto o crescimento à vossa volta?
Há espaços no largo que já existiam antes de nós, como O das Joanas e o LARGO Residências. Esses foram os primeiros projetos a abrir aqui. Depois fomos nós. O Sport Clube Intendente já existia aqui ao lado e é uma entidade que continua a funcionar, se bem que ocasionalmente. Estão com uma série de problemas, o edifício está a ruir e irão ser despejados. Ou seja, já havia aqui uma série de entidades, algumas antigas, outras que já estavam a mudar o Largo. Para nós foi uma questão de estar no sítio certo à hora certa, tivemos imensas sorte. Nós temos algo diferente do resto dos estabelecimentos, eles têm uma ocupação directa na rua, nós não. Nós estamos num primeiro andar, quase que é um pequeno oásis. É um espaço meio distante do universo do Intendente. Mas as coisas estão mesmo diferentes, o número de pessoas na rua à noite, mesmo durante a semana, aumentou muito. Sei que tem a ver com o turismo, mas também encontras muitos lisboetas. As esplanadas estão sempre cheias, a rua tem vida, há pessoas a habitar casas e a circularem pelas ruas. No início lembro-me que quando fechava a Casa, durante a semana, por volta da uma da manhã, penava um bocadinho: ia sempre com as chaves numa mão e o telefone na outra, ansiava que o carro do lixo passasse só para ver pessoas. Agora não, encontras sempre gente a passear.

O que vos levou a abrir o segundo andar?
Nos dois primeiros anos só conseguíamos pensar em executar as coisas aqui internamente: ou seja, servir copos e pensar em como tratar a mobília no espaço. Só depois conseguimos pensar em ampliar e crescer para o andar de cima, que era uma coisa que gostávamos que tivesse acontecido logo, mas tínhamos uma estrutura pequena. Agora encontramo-nos num estado em que podemos ter horizontes para mais propostas artísticas na Casa. Abrimos o segundo andar porque temos imenso público, claro, mas também gostávamos de ter um espaço que fosse mais recolhido, reservado, para as pessoas estarem a conversar, porque aqui em baixo por vezes é complicado. E também queríamos ter propostas de bebidas mais cuidadas, algo que aqui em baixo é mais difícil de fazer, por uma questão de organização do espaço. Ter um espaço em cima também permitiu-nos fazer face a uma solicitação que temos recorrentemente, que é o aluguer para eventos privados. Este andar é um projecto artístico e ali em cima é um projecto comercial, ainda que possam acontecer coisas artísticas por lá. Porque não queremos fechar a Casa para eventos privados. E com o segundo andar tu podes vir cá sempre descansado, vamos estar abertos.

O que querem fazer nos próximos cinco anos?
Queremos construir mais coisas artisticamente. Ter outras valências, isto ainda precisa de ter outra sedimentação. Se conseguirmos ter um horário mais alargado durante a semana poderemos fazer outras coisas, acolher outros projetos. Gostamos de ser interpelados por outros estruturas criativas. Ter mais conferências, apresentações de livros, um serviço educativo com cabeça, tronco e membros. Tivemos alguns momentos em que já testámos isso mas ainda não está no ponto. Isto não é só copos, os copos é que suportam isto, mas queremos ter um trabalho mais ativo com a comunidade, sobretudo com a comunidade infantil, as crianças da zona, que ainda não tivemos capacidade para implementar.

Toda a informação sobre o aniversário da Casa Independente aqui.