Para os americanos, Pikes Peak International Hill Climb é uma instituição, pelo menos no que respeita à competição automóvel. Conhecida como a ‘Corrida às Nuvens’, porque com a linha de meta colocada a 4.300 metros de altitude, os pilotos estão literalmente acima das nuvens, Pikes Peak há muito que representa um troféu importante também deste lado do Atlântico, pois desde 1982 que os construtores europeus tentam, e com sucesso, chamar a si o recorde.

Se primeiro foi a Audi, que dominou entre 1982 e 87 – ano em que Walter Rohrl no Quattro S1 bateu Ari Vatanen no Peugeot 205 T16, a marca francesa venceria nos dois anos seguintes, já com o 405 Turbo 16. Mas a Peugeot decidiu, em 2013, regressar à pista onde já tinha sido feliz, dessa vez com um 208 Turbo 16 construído de propósito para escalar a montanha do Colorado, tendo cumprido os 20 km do percurso, durante os quais se sobe 1.440 metros e se descrevem 156 curvas, em apenas 8 minutos, 13 segundos e 878 milésimos de segundo. O novo recorde.

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A rampa, que se disputa desde 1916, passou a apresentar todo o seu percurso completamente asfaltado em 2011, mas, mesmo assim, nunca nenhum piloto tinha conseguido baixar da casa dos 9 minutos, o que confirma o excelente desempenho do Peugeot com tracção integral, que pesava tanto quantos cavalos tinha (875 cv para 875 kg), bem como a arte do piloto, com o mago Sébastien Loeb ao volante.

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Mas desde 2012 que Pikes Peak é também o palco ideal para determinar quem é o mais rápido dos veículos eléctricos. E se os primeiros modelos movidos a electricidade tinham poucas possibilidades de se bater por um lugar entre os mais velozes na difícil rampa, a situação evoluiu muito rapidamente. E no bom sentido. A prova é que em 2013, ano em que Loeb chegou ao topo da montanha em 8.13,878, Nobuhiro Tajima já conseguiu ser 5º da geral e 1º entre os eléctricos, com 9.46,530.

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Em 2014, os eléctricos regressaram com mais argumentos e já foram 2º classificados, com Greg Tracy a registar 9.08,188, tempo que Rhys Millen bateu no ano seguinte (9.07,222), numa prova em que os veículos eléctricos chamaram a si os dois primeiros lugares da geral.

Em 2016, Rhys Millen levou o primeiro eléctrico a bater a barreira dos 9 minutos, com o seu Drive eO PP100 a fixar a melhor marca, entre os movidos a energia eléctrica, em 8.57,118, valor impressionante, mesmo se foi apenas o segundo da geral, atrás de Romain Dumas, num Norma (8.51,445). Nesta ocasião, o francês alcançou o segundo melhor tempo de sempre, batido apenas por Loeb. O Norma em questão pesava apenas 610 kg e o seu motor Honda 2.0 Turbo fornecia 610 cv.

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A Volkswagen quer bater tudo e todos

Mas não só os automóveis de competição eléctricos prometem continuar a bater-se pela primeira posição, como tudo indica que o recorde de Pikes Peak pode cair, em breve, nas mãos de um modelo impulsionado por motores eléctricos, alimentados por bateria. É bom recordar que o Drive eO PP03, com que Rhys Millen venceu à geral em 2015, com o tempo de 9.07, teve uma falha técnica sensivelmente a meio da subida que, segundo o piloto, lhe roubou cerca de 40 segundos ao seu tempo. Isto fixaria o tempo alvo de Miller em 8.27, muito mais próximo dos 8.13 de Sébastien Loeb e do seu Peugeot. E isto há dois anos, o que com a velocidade a que os veículos eléctricos – e as respectivas baterias – evoluem, é uma verdadeira eternidade.

A Volkswagen, que dominou o Mundial de Ralis desde que decidiu participar no WRC, entre 2013 e 2017, surpreendeu recentemente o mundo da competição ao anunciar que iria desenvolver um veículo de competição eléctrico para vencer a concorrência no Pikes Peak. Como a marca germânica tem um óbvio problema de imagem nos EUA, devido ao Dieselgate, e está apostar numa gama eléctrica e electrificada a partir de 2020, com a qual pretende voltar a conquistar o mercado americano, não é surpresa para ninguém que a rampa de Pikes Peak (que ela já dominou nos tempos da Audi), disputada no início de cada Verão, seja um dos seus objectivos para provar a mais-valia das suas soluções técnicas.

O construtor alemão anunciou que pretendia produzir um carro eléctrico para bater o recorde de Pikes Peak, o que toda a gente interpretou como tendo como objectivo, exclusivamente, o recorde dos eléctricos. Será mesmo assim? Não seria de estranhar que a VW queira mesmo é superar a melhor marca absoluta da prova na corrida de 20 km, ladeira acima. Difícil? Muito provavelmente, não.

Na realidade, trata-se da VW bater o tempo alcançado por uma pequena empresa da Letónia, que ninguém conhece, chamada Drive eO, que ainda assim construiu um protótipo de quatro rodas motrizes (para o qual contou com a ajuda do veterano piloto americano Rhys Millen), com seis motores eléctricos (três por eixo – é tão mais fácil incrementar a potência nos carros eléctricos…), num total de 1.386 cv, e 2.160 Nm, tudo isto para um peso de 1.150 kg, em parte devido à bateria de 50 kWh, uma capacidade pouco superior à montada, por exemplo, num Renault Zoe (40 kWh).

Ora sabendo que as baterias evoluem praticamente todos os meses, fornecendo maior densidade energética, o que se traduz por mais energia por menos menos peso e volume, e tendo presente que a VW “manda” igualmente na Audi e Porsche, que ainda dominam o LMP1, não deverá ser difícil esmagar os 8.13 alcançados por Loeb no Pikes Peak e sagrar-se a nova rainha na Corrida às Nuvens. Tanto mais que perder não é opção, uma vez que a VW vai ter o primeiro modelo da sua nova gama eléctrica para vender em 2020, a que se vão juntar mais 22 até 2025, necessitando do mercado americano como de ‘pão para boca’, tudo para manter a liderança do mercado automóvel mundial.