Seriam pelo menos três: o “Gigante”, o “Assassino” e o “Velho”. Nunca se descobriu a sua real identidade. A polícia belga procurou-os durante mais de três décadas sem sucesso. O grupo de assaltantes e homicidas era conhecido das autoridades como crazy Brabant killers, ou os “loucos assassinos de Brabant” — pois operavam sobretudo na província belga de Brabant, perto de Bruxelas.

Ao todo, na primeira metade da década de oitenta, e até ao seu misterioso desaparecimento em meado de 1985, os crazy Brabant killers foram responsáveis por quase trinta mortes. Os cenários dos seus crimes eram sempre os mesmos: supermercados, pensões, bombas de gasolina e armeiros. Apesar de assaltarem os locais e trazerem dinheiro consigo, os montantes era sempre irrisórios e o que impressionava as autoridades era a violência dos assaltos (assassinavam indiscriminadamente todos quantos com eles se cruzassem, incluindo crianças) e a destreza com que os crazy Brabant killers manuseavam as armas.

Apesar da longa investigação e mandados de captura internacionais para o grupo, ninguém foi preso até hoje. As autoridades belgas chegaram a acreditar que tinham abatido o “Assassino” durante um derradeiro assalto (oito pessoas foram mortas então) do grupo a um supermercado em Aalst, mas o corpo deste nunca foi encontrado. E acreditavam também que os crazy Brabant killers poderiam ser, afinal, uma organização armada clandestina de extrema-esquerda ou extrema-direita.

Sabe-se agora que o “Assassino”, cabecilha dos crazy Brabant killers, não tinha morrido em Aalst. E sabe-se finalmente a sua identidade: Christiaan B. pertenceu durante anos à Gendarmaria da Bélgica (um tipo de polícia paramilitar que existiu no país até à viragem do século) mas, depois de um disparo acidental, acabou por ser afastado. Christiaan nunca aceitou as razões do afastamento e entregou-se à bebida nas décadas seguintes e até há sua morte, em 2015, na cidade de Aalst.

Mais recentemente, o irmão deste afirmou ao canal de televisão belga VTM que Christiaan lhe confessou, no leito de morte, ser o cabecilha do grupo de homicidas. “No começo estive em negação e lutei contra o que ele me disse. Mas hoje posso afirmar, formalmente, que o meu irmão é aquele homem [o ‘Assassino’ dos crazy Brabant killers]”, explicou, sem nunca se identificar.

O ministro belga da Justiça, Koen Geens, apresentará em breve, e numa comissão do parlamento federal belga, mais detalhes sobre o caso. Por outro lado, Ignacio de la Serna, procurador-geral da cidade de Mons, explicou à AFP que as declarações do irmão de Christiaan B. estão a ser investigadas. “Há agora um impulso maior para avançar com o caso depois destas revelações”, afirmou de la Serna. Também ouvida pela AFP, Patricia Finne, filha de uma das vítimas dos crazy Brabant killers, apenas atirou, de chofre: “Foi a primeira revelação séria, realmente séria em trinta anos. Espero que se descubra o restante grupo, estejam mortos ou não”.

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