O Brasil viveu o período artístico do modernismo à procura de uma identidade própria, rodeado de fortes influências, sobretudo da Europa, que originaram “uma grande riqueza”, visível numa exposição que é inaugurada quinta-feira, no Museu Berardo, em Lisboa.

“Modernismo Brasileiro, Obras da Coleção Edson Queiroz” é o título desta exposição que reúne obras de pintura e escultura criadas entre as décadas de 1920 e 1960, produzidas por artistas brasileiros e por estrangeiros residentes no país.

Numa visita guiada para jornalistas, a curadora da mostra, Regina Teixeira de Barros, declarou que a exposição apresenta uma seleção de uma das mais importantes coleções de Arte do Brasil, que é apresentada pela primeira vez na Europa. Sublinhou que o modernismo foi um período “de grande intercâmbio de influências, quer de artistas brasileiros que estudaram na Europa, em particular em Paris, e também dos artistas que foram viver para o Brasil”.

“A ditadura que durante 15 anos dominou o Brasil não sufocou a arte, antes pelo contrário, levou a um grande desenvolvimento económico que contaminou o modernismo, pela introdução de novas técnicas e a experimentação”, referiu, sobre um contexto oposto ao de Portugal, que ficou isolado durante a ditadura de Oliveira Salazar, e os artistas “viviam algo escondidos, em grupos”.

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Embora tenha recebido muitas influências externas, sobretudo europeias, alguns dos modernistas também foram à procura da sua própria identidade, como foi o caso de Candido Portinari, que explorou questões políticas e sociais ligadas à miscigenação, ou à vida difícil dos trabalhadores.

Outros artistas interessados na busca de um imaginário próprio para o país foram Tarsila do Amaral, Cícero Dias e Di Cavalcanti.

Entre as pinturas e esculturas presentes na exposição, encontram-se obras que vão da primeira fase moderna no Brasil, ainda com formação europeia – como Lasar Segall, Flávio de Carvalho, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret -, até ao aparecimento do manifesto neoconcreto carioca, na segunda metade do século XX.

Regina Teixeira de Barros salientou ainda o período do final dos anos 1940 e anos 1950, em que se verificou um grande impulso nas artes, com a criação de importantes museus de Arte Moderna no Rio de Janeiro e em São Paulo, e também o surgimento da Bienal Internacional de São Paulo.

Na exposição, é também possível encontrar uma “ligação afetiva” a Portugal, com a presença de uma única obra de arte portuguesa, proveniente da Coleção Moderna da Gulbenkian: “Intérieur” (1951), óleo sobre tela de Maria Helena Vieira da Silva, que viveu no Rio de Janeiro com o marido, Arpad Szénes.

Depois de lhe ter sido recusada a permanência em Portugal, e fugindo da ocupação nazi de França e da guerra que assolava a Europa, o casal refugiou-se no Brasil, onde trabalhou e reuniu vários artistas brasileiros e estrangeiros, que recebia no seu ateliê.

“Escolhi esta pintura porque realmente Vieira da Silva foi muito importante neste período, no Rio de Janeiro, pelas ligações que estabeleceu entre diferentes artistas”, explicou a curadora. A seleção também aponta para as novas vertentes abstratas e formais do pós-guerra, cujos representantes são Alfredo Volpi, José Pancetti e Maria Leontina.

O percurso da mostra encerra com a produção das décadas de 1950 e 1960, com uma diversidade de expressões artísticas, com obras de Ivan Serpa, Tomie Ohtake e Iberê Camargo, como nas propostas radicais de artistas que tinham participado no movimento neoconcreto carioca. A Coleção Edson Queiroz, na posse da fundação homónima, sediada em Fortaleza, no Brasil, possui um acervo que percorre cerca de quatrocentos anos de produção artística. A exposição ficará patente em Lisboa até ao dia 11 de fevereiro de 2017.