Os automóveis topo de gama, tradicionalmente denominadas berlinas de luxo, são quase sempre veículos de grandes dimensões, necessariamente pouco leves e muito vocacionados para o luxo e o conforto, dedicando pouca atenção à agilidade, eficácia em curva e prazer de condução. Mas este não é o caso do novo A8, que recorre a uma série de tecnologias, algumas das quais inovadoras, para se tornar mais confortável, seguro, mas também divertido de conduzir, coisa rara num modelo desta bitola.

Num segmento dominado pelos fabricantes alemães, Audi, BMW e Mercedes, os automóveis com mais de cinco metros de comprimento são quase sempre exímios na arte de surpreender até os seus proprietários mais exigentes com sistemas e dispositivos que tornam mais fácil a vida do condutor e, na maioria das vezes, mais segura.

Mas a Audi foi mais longe e concentrou no seu novo navio-almirante uma série de soluções que o tornam no mais ágil, seguro e sofisticado entre os seus pares. Normal quando todas as suas versões recorrem a motores híbridos, quatro rodas direccionais, quatro rodas motrizes, suspensões pneumáticas, barra estabilizadora activa e adaptativa em cada roda, além de sistemas que recorrem a Inteligência Artificial para estacionar sozinho, ajudar nas manobras em locais apertados ou conduzir sem intervenção do condutor em auto-estrada, sendo que este sistema apenas será introduzido quando for legal, ou seja, em meados de 2018.

[jwplatform ERuzOVQt]

Estilo novo e carroçaria mais rígida

A Audi sempre defendeu a carroçaria em alumínio para o seu topo de gama, com o objectivo de conseguir rigidez sem ser à custa de um peso excessivo, isto por comparação com a concorrência, que recorre a estruturas em aço. Mas se já permitiu a introdução (ainda que em pequenas doses) de outros materiais na versão anterior, no novo A8 surgem nada menos do que quatro materiais, pois ao alumínio, que ainda continua em maioria e a representar 58% do total, adiciona agora o magnésio, o aço de alta resistência e a fibra de carbono.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O extremamente leve e rígido carbono surge a separar o habitáculo da mala e, curiosamente, contribui de forma considerável para o incremento de rigidez, com o novo A8 a anunciar ser 24% mais rígido que o anterior, um salto notável, sendo que é simultaneamente mais leve do que o anterior – apesar de ser 3,8 cm mais comprido e 1,7 cm mais alto –, e do que a concorrência, se considerarmos exclusivamente a carroçaria.

Em matéria de estilo, o A8 mantém a tradicional grelha da marca dos quatro anéis, mas esta está agora maior e mais angulosa, o que associado à frente mais baixa e aos guarda-lamas mais volumosos (têm agora que alojar jantes até 21” de diâmetro), conferem ao modelo um aspecto mais encorpado. Outro argumento que beneficia a estética do A8 são os faróis mais esguios, do tipo full Matrix LED, podendo adoptar os máximos com tecnologia laser, o incrementa brutalmente a capacidade de iluminação, podendo atingir até 750 metros de distância. A ponto de o sistema, uma vez que recebe informação do GPS, só se ligar quando está fora das zonas urbanas. Na traseira, os farolins são aplicados num ecrã OLED (LED orgânicos), similar aos melhores smartphones do mercado, como o Samsung e iPhone topo de gama, o que assegura uma assinatura luminosa distinta e um maior potencial gráfico.

[jwplatform lTIhwbr7]

4 melhor do que 2. Diversão ao volante

Todos os A8 estão equipados de série com um sistema eléctrico de quatro rodas direccionais, alimentado pelo circuito de 48 Volts de que também dispõem todoas as versões, o que permite virar as quatro rodas mesmo quando o carro está parado, o que incrementa a maneabilidade logo no momento do arranque, ao contrário dos concorrentes.

Tivemos a oportunidade de conduzir o A8 em auto-estrada, onde o dispositivo faz girar as rodas traseiras na mesma direcção das da frente, aumentando a estabilidade, mesmo que a manobra seja intempestiva, como, por exemplo, quando é necessário evitar um obstáculo ou outro veículo. Nesta condições, as rodas posteriores viram um máximo de 2º, dependendo o ângulo do volante e da velocidade, mas o resultado é exemplificativo das vantagens que permite, quando optámos por simular uma violenta manobra evasiva a 120 km/h, sem que que o carro se desequilibrasse ou obrigasse a qualquer tipo de correcção adicional.

De seguida, levámos o novo topo de gama da Audi para uma estrada de montanha, onde por vezes não era fácil cruzarmo-nos com outros veículos. Mas mesmo naquelas estradas sinuosas nos arredores da Valência, as quatro rodas direccionais tornavam o A8 extremamente ágil, tanto mais que, até aos 60 km/h, os pneus traseiros viram em direcção contrária aos da frente e num máximo de 5º, permitindo que o A8 seja mais ágil do que o A4, mais de meio metro mais curto.

Se a isto juntarmos as quatro rodas motrizes para evitar perdas de aderência, mesmo quando o piso está mais escorregadio, o tradicional sistema Quattro da marca alemã, é fácil perceber como o imponente A8 vai satisfazer mesmo o condutor mais ousado, quando se pretender divertir ao volante de um modelo com mais de 5 metros de comprimento.

Motores novos e denominações estranhas

Em termos de motorizações, a nova berlina alemã oferece uma série de motores, a gasolina e diesel. A oferta arranca com o 3.0 V6 TDI, que fornece 286 cv e será comercializado no nosso país já a partir de Janeiro do próximo ano, por um valor que rondará os 119 mil euros. Esta unidade está associada, como todas as outras, à caixa automática de oito velocidades Tiptronic, o que permite uma velocidade de 250 km/h, porque a isso está limitada electronicamente, e passar pelos 100 km/h em 5,9 segundos, um valor muito interessante para um carro deste tamanho, para mais na versão menos possante da gama. Os consumos, esses, ajudados pelo sistema híbrido, ficam-se pela média de 5,6 litros, já com o novo sistema de medições WLTP, bastante mais realista do que o antigo NEDC.

Igualmente em Janeiro vai estar disponível em Portugal a versão mais acessível, entre aqueles que consomem gasolina, o 3.0 TFSI, um V6 capaz de debitar 340 cv e que, ao contrário do que acontecia no anterior A8, adopta a solução “hot V”, em que os escapes e o turbo estão em cima e as admissões são feitas por baixo, o que leva a condutas de escape mais curtas e, logo, a uma melhor resposta do turbocompressor. A velocidade máxima desta unidade continua nos 250 km/h, com a electrónica a garantir que não há exageros, mas os 100 km/h passam a ser ultrapassados em somente 5,6 segundos, com o consumo médio a ficar pelos 7,5 litros. Esta versão será proposta no mercado nacional por cerca de 121 mil euros.

Menos fáceis de entender são as denominações das versões do novo A8, uma vez que nada têm a ver com a potência, cilindrada ou o que quer que seja. É uma solução já testada na China, onde foi bem aceite, e que vai levar a que o 3.0 V6 TDI de 286 cv seja conhecido como 50 TDI e o 3.0 V6 TFSI de 340 cv, por 55 TFSI.

[jwplatform RE9qhMAQ]

A chegar mais tarde ao mercado português (Julho) vão estar as versões animadas pelo motor 6.0 W12, com 585 cv, e o A8 e-tron, um híbrido plug-in com 449 cv, capaz de percorrer 50 km em modo 100% eléctrico. Novembro de 2018 é o mês escolhido para a chegada do motor 4.0 BiTDI, o V8 biturbo em que os turbocompressores são eléctricos, alimentados pelo sistema a 48 V do A8. Esta unidade fornece 435 cv.

Híbridos para todos os gostos. Mas contidos

Todos os novos A8 são híbridos e, à excepção do e-tron – que é um PHEV, ou seja um Plug-in Hybrid Electric Vehicle –, recorrem sempre a um sistema híbrido ligeiro, aquilo a que se convencionou denominar um Mild Hybrid. Mas, atenção: é um híbrido a 48 Volts, o que lhe assegura a capacidade de accionar quatro vezes mais rapidamente, ou com mais força, os sistemas a que está ligado.

Em termos práticos, todos os A8 têm dois sistemas eléctricos. O tradicional, a 12 V, fornece energia aos sistemas convencionais, da iluminação à ventilação, passando pelos bancos eléctricos, tudo alimentado por uma bateria colocada na traseira, que agora é mais pequena e 10 kg mais leve, porque os dispositivos a alimentar são menos numerosos e exigentes. Já tudo o que é importante e novo no A8 está a cargo do novo sistema de 48 V, das barras estabilizadoras activas e dinâmicas, com um motor eléctrico por roda, aos sistemas que a Audi denomina de AI – de inteligência artificial –, passando claro está pelo motor eléctrico que fornece entre 8 e 14 cv para ajudar o motor a combustão. Pode não parecer muito, mas não só ajuda nos momentos em que a unidade a gasolina ou diesel fornece menos potência, ou seja, a baixo regime, como também para assegurar o bom funcionamento do sistema “à vela”, em que sempre a circular em descidas ligeiras ou em desaceleração, o motor desliga e a caixa vai para ponto-morto, com o carro a deslizar sem qualquer consumo, o que pode acontecer durante um máximo de 40 segundos, o que permite “cortar” cerca de 0,75 litros ao consumo médio.

Para tudo isto funcionar, o A8 está equipado com um alternador/motor de arranque por correia (para o arranque a frio ainda está disponível o arranque por pinhão e coroa), o que torna os arranques imediatos e mais silenciosos, com o sistema a ser alimentado pela bateria de 48 V, igualmente montada na mala.

[jwplatform 06oqlXJt]

Barras estabilizadoras milagrosas

Aqui reside um dos maiores trunfos do A8. É certo que todos os modelos possuem suspensão pneumática, o que torna a estrada mais degradada num verdadeiro tapete. Mas nem isto é uma novidade no segmento, nem a Audi queria ficar por aqui. Vai daí criou uma solução de barras estabilizadoras activas, similares às que também utiliza no Bentley Bentayga e Audi SQ7, mas muito mais sofisticadas, não existindo nada similar no mercado.

Se até aqui as barras activas se limitavam a endurecer o elemento elástico da rodas da frente ou traseiras, de forma a limitar o adornar em curva, tornando o veículo mais eficaz em termos de comportamento em estradas sinuosas, sem beliscar o conforto, agora as novas barras activas passaram a ser também adaptativas. Em vez de um motor eléctrico de 48 V por eixo, passou a existir um motor eléctrico por roda. Cada um destes motores aplica uma torção numa barra, endurecendo a suspensão dessa mesma roda. Como se isso não bastasse, o inovador sistema tem ainda a capacidade de elevar a carroçaria do modelo, mas roda a roda, consoante o caso, e nada menos do que 11 centímetros.

2 fotos

Em termos práticos, este sistema permite ao A8 realizar uma série de habilidades do máximo interesse. Assim, começa por recorrer a uma câmara colocada junto ao retrovisor, que vê um buraco ou uma lomba daquelas destinadas a limitar a velocidade, e recorre às barras para compensar a suspensão. Testámos o sistema e o constatámos que o veículo passa por cima de tudo sem que, dentro do habitáculo, se sinta o que quer que seja.

Segunda habilidade do novo sistema de barras activas e dinâmicas é a capacidade de controlar a dureza e a altura ao solo de cada uma das quatro suspensões, o que explica o comportamento exemplar que verificámos nas estradas de montanha, com o A8 a ser confortável, mas a curvar como se fosse um desportivo.

Outra habilidade, que certamente agradará aos utilizadores mais idosos ou com mobilidade mais reduzida, é a capacidade de, assim que se abre a porta, o veículo elevar-se 11 cm, o que facilita a operação de entrar ou sair do habitáculo, aproximando-o daquilo a que os condutores estão habituados quando conduzem um SUV de luxo.

Mas há uma quarta habilidade do sistema, e esta pode salvar vidas. Sempre que um embate lateral está iminente e o A8 detecta o veículo a aproximar-se da sua zona lateral, as novas barras elevam o lado que em está em vias de ser embatido 8 cm (em apenas 0,5 segundos), fazendo com que o outro veículo atinja igualmente a embaladeira inferior, com muito maior capacidade de deformar e absorver energia. É uma solução simples, mas que permite, segundo os alemães, reduzir os riscos de ferimento em 50%, bem como a gravidade das lesões.

14 fotos

Interior ao serviço dos utilizadores

Existem basicamente dois tipo de clientes a quem o A8 quer servir. E agradar. O condutor normal, em busca de um topo de gama digno desse nome, que tanto o pode utilizar quando está ao serviço da empresa, eventualmente até ser conduzido por chauffeur, para depois, e fora do horário de trabalho, servir a família e dar gozo ao condutor. Mas há igualmente aqueles que querem o A8 como uma extensão do escritório, onde seja possível continuar a trabalhar, mesmo se em viagem. É para estes que a Audi concebeu novamente uma versão longa, com 5,30 metros em vez de “apenas” 5,17, sendo que também este A8 L é 3,7 cm mais comprido do que a anterior geração.

O interior do novo A8 é mais espaçoso e muito mais requintado, destacando-se por possuir um painel de instrumentos digital, onde é possível reduzir as dimensões dos indicadores de velocidade e rotação do motor, ou até mesmo anulá-lo, transformando o imenso ecrã num mapa de navegação. De salientar que a navegação recorre a mapas da Google Earth, mas ao sistema de busca da HERE, sendo possível realizar buscas de moradas ou estabelecimentos através da Google – os A8 têm um hotspot de wifi – e depois introduzir essa mesma busca no HERE.

Mas além deste, o novo modelo conta com mais dois ecrãs, colocados ao centro do tablier, um por cima do outro. Enquanto o superior, de maiores dimensões, está vocacionado para a navegação, multimédia e telefone, por exemplo, o inferior, mais pequeno, está ao serviço da ventilação, aquecimento e regulação dos assentos. Na versão longa, no apoio de braço ao centro do assento posterior, surge ainda um outro ecrã, amovível, que permite regular os assentos, a ventilação e as persianas.

[jwplatform EehTxYWa]

Estacionamento Inteligente

Se gosta de videojogos, saiba que há algo em comum entre estes e o novo A8. E é uma peça particularmente importante, pois é ela que permite o funcionamento dos sistemas inteligentes, AI para a Audi, da nova berlina de luxo. Referimo-nos à placa gráfica da Nvidia, um dos elementos principais da unidade de controlo do sistema que controla tudo o que é sensores e câmaras do modelo, denominado sFAS.

Para se orientar, sem recorrer ao condutor, o A8 conta com dois radares de largo alcance à frente e outros tantos de médio alcance atrás, colocados junto às extremidades do veículo. A estes junta-se um scanner colocado na grelha frontal, em baixo ao centro, sendo este o responsável pela detecção de peões e obstáculos, sendo ainda quem avalia a distância ao carro da frente. Depois, há uma série de sensores ultrassónicos, uma câmara de alta definição virada para a frente e colocada junto ao retrovisor, além de outras quatro câmaras mais simples, para alimentar a visão a 360º.

Com todo este arsenal, o A8 faz verdadeiros milagres. Começa por estacionar sozinho, bastando ao condutor pedir-lhe que encontre um local com as dimensões necessárias para completar a manobra, sendo que depois do Audi identificar essa posição, o condutor apenas tem de sair, ligar-se ao veículo através de uma app e ordenar o estacionamento, com o A8 a decidir sozinho o número e o tipo de manobras que deve efectuar até ficar perfeitamente estacionado.

Como se isto não bastasse, o condutor pode ainda abrir e fechar o carro à distância, através do smartphone, contando que seja Android, uma vez que a Apple não fornece o acesso ao seu sistema interno.

[jwplatform LVwHeOn7]

Ajudas agora e condução autónoma em breve

O novo A8 será o primeiro veículo a oferecer um sistema de condução autónoma de nível 3, ainda que apenas opere em auto-estrada ou outras vias do género com separador central, sendo contudo capaz de ultrapassar, mudar de auto-estrada e lidar com os respectivos nós das vias rápidas, tudo sem intervenção do condutor.

É claro que, para isto acontecer, é necessário alterar algumas leis, que impedem o condutor de conduzir sem colocar as mãos no volante, de não dedicar toda a atenção ao controlo do veículo e a tudo o que está ao seu redor e muito menos de ver um filme ou passear-se pela web. A Audi acredita que haverá mudanças na lei já em meados de 2018, em alguns países pelo menos (e a começar pela Alemanha), que essencialmente se destina a passar a responsabilidade por tudo o que aconteça com um veículo que se desloque autonomamente, a começar por eventuais acidentes, para o fabricante, em vez do condutor. Assim que isso acontecer, o A8 beneficiará de condução autónoma de nível 3.

Até lá, o condutor do mais rebuscado dos Audi pode ir usufruindo do Traffic Jam Assist, que assume o controlo do veículo até aos 60 km/h em vias rápidas, o que torna as entradas e saídas nas grandes cidades um prazer, em vez de, como até aqui, uma tortura. Paralelamente e acima desta velocidade, ou quando não circula em fila, o A8 continua a usufruir dos sistemas já conhecidos, do Lane Assist ao Adaptive Cruise Control, um que mantém o carro na linha, ou seja na faixa de rodagem, enquanto o outro mantém uma distância segura ao carro da frente.