Fernando Medina tomou posse esta quinta-feira como presidente da Câmara de Lisboa, com tudo o que a cerimónia implica e ainda na presença do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Só continua sem ter um acordo de governação, depois de perdida a maioria absoluta que o PS tinha na autarquia desde 2009. Por agora, Medina tem apenas duas certezas: acordos de governação à direita estão excluídos, bem como acordos duradouros com o PCP que já se colocou de fora dessa negociação.

“Com o PCP não houve negociação”, disse Medina aos jornalistas, acrescentando que tomou essa iniciativa mas “infelizmente o PCP não se mostrou disponível para acordos mais permanentes de governação da cidade. Terá aliás desiludido muitos eleitores que votaram no PCP”, afirmou, recordando que João Ferreira, líder da candidatura comunista, manifestou durante a campanha “disponibilidade para um compromisso”.

Mas o autarca mantém que “acordos de base permanente só com a esquerda”, pelo que resta o Bloco de Esquerda que elegeu um vereador — o número que falta a Fernando Medina para compor uma maioria absoluta no executivo camarário. O socialista elegeu oito em 17 vereadores, está a um dos nove para governar com maior estabilidade, por isso continua em diálogo com o bloquista Ricardo Robles. E aqui, Medina não abre o jogo sobre o que está a dificultar um acordo que está a ser trabalhado logo desde os dias seguintes às eleições de 1 de outubro.

O colar do município colocado a Medina pela presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta

Um dos temas em que o Bloco mais criticou o PS na campanha foi a habitação, particularmente a forma de financiamento do programa de Medina para promover habitação com rendas acessíveis à classe média. Mas o presidente da Câmara garante que aí “há diferenças sobre a forma, mas convergência no que é mais importante” e refere que os dois convergem quanto à necessidade de habitação para a classe média. Medina só garante que quer assegurar “uma governação estável” e “no estrito cumprimento do programa pelo qual” foi eleito.

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No discurso já tinha dito o seu executivo será “profundamente empenhado no compromisso. Porque o compromisso político tem um valor próprio no reforço da democracia e no sentido de comunidade”. Isto depois de dizer que será “firme na defesa” das “ideias e compromissos” assumidos com a cidade e que constam do seu programa. Foi a única coisa que disse sobre o elefante que está nos Paços do Concelho: há ou não acordo.

Já em declarações aos jornalistas, o socialista continua sem fechar portas a nada e diz que está “a dialogar a ver se é possível estabelecer uma plataforma mais permanente de entendimentos ao longo do mandato ou se esses entendimentos terão de ocorrer de uma forma mais pontual“. Para estes últimos já contará com o PCP, mas não só. “Em algumas matérias virão os partidos à esquerda, noutras poderão vir de partidos à direita”, explicou depois de confirmar ter almoçado com a vereadora do PSD, Teresa Leal Coelho, mas não com vista a um acordo permanente.

Na intervenção que fez, depois de tomarem posse todos os presidentes de Junta de Freguesias, deputados municipais e vereação, o recado maior de Fernando Medina foi para o Estado central, com o autarca a voltar a colocar como “reforma política que é urgente” a concretização da descentralização da Administração Central. Dá vários exemplos: “não faz qualquer sentido uma escola do 2.º e 3.º ciclo dependa do Estado Central para uma pequena ou grande obra de manutenção ou de compra de equipamento”. E pede que o início dos mandatos autárquicos, agora depois das eleições, seja “o tempo de o Estado fechar o dossier da descentralização”.

Assunção Cristas e Teresa Leal Coelho também tomaram posse esta quinta-feira

Na primeira fila da plateia (onde não esteve o antecessor e amigo socialista António Costa) estava o presidente da Câmara do Porto — Medina também esteve esta quarta-feira na posse de Rui Moreira — e dele o edil lisboeta espera que possam “trabalhar juntos”, porque as duas cidades “enfrentam hoje desafios comuns, a começar pelo debate do centralismo”.

Houve ainda tempo para anúncios, para o primeiro semestre do próximo ano:

  1. Abrir “concurso para a aquisição de 30 novos elétricos, tendo em vista a extensão do 15 a Santa Apolónia , a recuperação do 24 entre Cais do Sodré e Campolide e o início de uma nova fase de expansão da rede na cidade”;
  2. “Concurso para a construção dos primeiros 6 centros de saúde de nova geração”;
  3. No final do primeiro semestre aprovará “a unidade de projeto para a rápida ampliação das zonas de escritórios”.

No discurso não faltou, logo a abrir, uma referência aos “trágicos incêndios” no norte e centro do país, para manifestar “pesar e solidariedade às populações, às famílias das vítimas e aos autarcas das terras atingidas”. E a fechar, instado pelos jornalistas, Medina ainda foi confrontado, na qualidade de dirigente socialista, com o mal-estar que reina entre Belém e São Bento. Mas o socialista fechou-se em copas e apenas disse que “a relação entre dois órgãos de soberania têm as suas esfera de competências. Tem havido até agora convergência e a expectativa é que continue”.