Francisco Assis é o socialista que desde início mostrou reservas à “geringonça” — um Governo socialista apoiado nos partidos à esquerda no Parlamento — e agora vem afirmar que “poderemos estar prestes a assistir ao surgimento de uma nova e ainda mais original e sofisticada ‘geringonça’ na vida política nacional“. Qual? Uma estrutura que inclua o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa como peça com “lugar absolutamente central” e que vai acabar por recuperar “o chamado arco da governação em torno dos assuntos de maior incidência europeia e económica”.

É por isso que este socialista — que se afastou de António Costa logo no congresso de 2014 e que aprofundou essa divergência quando se consubstanciou a atual solução de governação — fala em “olhar para o futuro imediato com uma boa dose de otimismo”, como escreveu esta sexta-feira no seu artigo de opinião no Público. Assis acredita que se perspetiva “uma nova fase da vida política portuguesa“, já que “nas últimas semanas” se modificaram “substancialmente” as condições da convivência entre Presidência e Governo, “quer pelos efeitos induzidos pelos resultados das eleições autárquicas, quer pelas consequências institucionais e políticas decorrentes da última tragédia dos fogos florestais”.

E esta nova fase, o socialista desalinhado com Costa acredita que não vai ser “essencialmente marcada por um ambiente de permanente conflito institucional entre o Governo e o Presidente da República”, já que “essa colisão prejudicaria fortemente ambas as partes”. Já a “novíssima geringonça” que dela sairá (acredita), Assis considera que até “pode beneficiar” o Governo se “lhe proporcionar condições para estabelecer novas formas de diálogo com os partidos de direita, sem prejudicar as relações que mantém com os partidos situados à sua esquerda”. “Essa autoridade presidencial, exercida nos limites das competências constitucionais, contrariará a tendência para uma excessiva polarização do confronto político“, acredita Assis que escreve ainda que isso “abrirá espaço para entendimentos parlamentares de geometria variável”.

Assis aponta dois “efeitos benignos”:

  1. “Libertará o PS de uma excessiva dependência da extrema-esquerda parlamentar”;
  2. “Desacorrentará o PSD de uma parte significativa do seu passado mais recente”.

O socialista acredita que tudo isto vai introduzir uma “reorganização da vida política”, na medida em que “um Presidente mais forte gera energias que libertam e não constrangem, potencia entendimentos até há pouco considerados impensáveis”. Assis fala mesmo no antigo arco da governação, que incluía os partidos do centro político (PS e PSD), o mesmo arco que António Costa se tem vangloriando de ter acabado, ao chamar os partidos de esquerda à responsabilidade da governação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR