Escasseou tudo ou quase tudo no Benfica neste encontro contra o Feirense. Sobrou a vitória. E apupos vindos da bancada no final — apupos que se começaram a escutar ainda durante os últimos minutos.

O encontro durante a primeira parte foi sensaborão. A organização a meio-campo era deficiente. Isso saltava logo à vista. Mas tendo somente Filipe Augusto e Fejsa no onze (o playmaker Pizzi foi relegado para o banco pelo segundo jogo consecutivo por Rui Vitória) não se pode pedir mais do que suor no centro do relvado. Não, “pensar” sobre o relvado (e o Benfica pensou intermitentemente, sendo useiro e vezeiro de passes longos ou falhados) não se mede em gotículas que escorrem pelo rosto e ensopam a camisola. Nem tão pouco em quilómetros calcorreados: mede-se em técnica (de receção, de passe, de drible — sem que o drible tenha que arregalar olhos e suspirar bocas) e na rapidez com que, utilizada a técnica, a bola circula e chega à baliza do outro lado. Ser-se “carregador de piano” é ser-se esforçado. Pensar é que é o trinta e um para muitos: é sempre mais confortável lateralizar (então quando a bola queima e as chuteiras têm picos, mais ainda) e somar passes certos na estatística do que verticalizar, conduzir e arriscar o erro até que o erro resulte em acerto.

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Benfica-Feirense, 1-0

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Luís Godinho

Benfica: Svilar; André Almeida, Luisão, Rúben Dias e Grimaldo; Fejsa, Filipe Augusto, Salvio (Pizzi, 61’) e Diogo Gonçalves; Jonas (Krovinovic, 84’) e Seferovic (Raúl Jiménez, 70’)

Suplentes não utilizados: Júlio César, Samaris, Cervi e Gabriel Barbosa

Treinador: Rui Vitória

Feirense: Caio; Jean Sony, Flábio, Briseño e Tiago Gomes (Kakuba, 31’); Etebo, Luís Machado (Hugo Seco, 70’), Babanco e Edson Farias; Tiago Silva (José Valencia, 84’) e João Silva

Suplentes não utilizados: Miskiewicz, Bruno Nascimento, Alphonse e Cris

Treinador: Nuno Manta

Golos: Jonas (11’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Jean Sony (67’), Babanco (79’) e Kakuba (91’)

Era difícil. Mas a segunda parte conseguiu ser ainda mais desinteressante do que a primeira. A organização continuaria a faltar. E faltaria o rasgo, faltaria em alguns o talento e noutros faltaria o empenho. Mas o Benfica venceu. Apanhou um susto ou outro. Assustou pouco mas também assustou. Valeu Jonas. E a ele não se poderá apontar nada. Pensa. Executa. Executa. Pensa. Mais do que os que há sua volta envergam a mesma camisola que ele mas que tantas vezes o envergonham e o fazem erguer os braços de resoluta ou baixar o rosto consternado.

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Jonas, sempre ele, começou por procurar o golo. Foi ao minuto 10. O central Rúben Dias, num passe a rasgar desde trás, encontra Diogo Gonçalves à esquerda, este cruza para a área e o brasileiro rematou de primeira, com o pé esquerdo. Caio faz um defesa espantosa para canto. Depois, um minuto depois, o golo: cruzamento de Diogo Gonçalves à esquerda para a área, Rúben Dias amortece a bola num cabeceamento para a molhada e, depois, começou a atrapalhação que resultaria no golo. O central António Briseño viu-se sozinho entre vários jogadores do Benfica, à primeira Caio ainda impediu o golo de Salvio mas, à segunda, não conseguiu fazer nada perante a recarga de Jonas.

Foi o seu 12.º golo do avançado na Primeira Liga 2017/18. O primeiro que fez ao Feirense. Agora, só há dois clubes de “primeira” a quem não o conseguiu fazer ainda: Chaves e Sporting.

Até ao intervalo, apenas um remate digno de registo e uma ocasião de golo. Para o Feirense, que entretanto perdeu a “vergonha” e subiu no relvado, pressionando alto e tentando sempre cuidar da bola com o respeito que esta merece: de pé em pé. Aos 40′, canto à direita para o Feirense, Tiago Silva bateu-o e Luisão cortou a bola ao primeiro poste. Esta sobrou à entrada da grande área para Etebo, enchendo o nigeriano o pé e obrigando Svilar a defender rente à barra. E que defesa foi a do belga!

A vantagem de não ter assistido ao jogo e ler esta crónica é apenas uma: podemos saltar de imediato para o minuto 53. Foi outra vez o Feirense a procurar o golo. E outra vez Svilar a evitá-lo. Agora o remate é de Tiago Silva, fortíssimo e à entrada da área, defendo o belga para lá da barra com uma palmada de luva direita. O Benfica sentiu o toque e reagiu. Aos 59′, Salvio é isolado por Seferovic na área, vê-se frente a frente com Caio, remata, mas o guarda-redes do Feirense defende (com alguma sorte à mistura; sobre o relvado, a defesa foi com a meias entre o braço direito e o peito) para canto.

Pouco depois, Salvio saiu e entrou Pizzi. Rui Vitória decidira-se: precisava de fazer a bola circular, depressa e bem, a meio-campo. Filipe Augusto não era capaz de o fazer, por exemplo. Tinha errado seis passes, quase todos simples. Mais: perdera todos os seis duelos que disputou. Portanto, nem para “carregador de piano” estava a servir o brasileiro.

Aos 65′, a última ocasião para o Benfica aumentar o resultado. Seferovic conduz a bola desde a esquerda até à entrada da área, Jonas recebe-a e prontamente desmarca o suíço nas costas da defesa do Feireinse. Caio foi rápido a sair dos postes e conseguiu defender o desvio de Seferovic à boca da baliza. O golo era cantado e a defesa soberba.

Contas feitas, o Benfica conseguiu a segunda vitória consecutiva no campeonato. Não o conseguia há dois meses.