A Apple nasceu da criatividade e do espírito inventivo do engenheiro Steve Wozniak, associado ao génio do marketing de Steve Jobs. Esta realidade, do conhecimento geral especialmente para quem já leu o livro ou viu o filme sobre Jobs, não esconde o facto de a marca da maçã sempre ter vivido muito mais da excelente imagem do que da qualidade dos seus produtos, face aos da concorrência.

Daí que seja curioso que Wozniak, conhecido como ‘The Woz’ e pai do Apple 1 e 2, venha agora apontar o dedo à Tesla, empresa que, também ela, vive do espírito inventivo e inovador, e por possuir uma imagem muito forte a quem tudo se perdoa. E logo Woz, que tem uma fortuna de 100 milhões de dólares – e continua a receber salário e acções, apesar de não ser empregado da Apple – à custa de uma companhia tecnológica similar.

Numa entrevista à CNBC, Woz começou por afirmar que se “a Tesla diz que vai fazer qualquer coisa, o melhor é não contar muito com isso”. Estaria a recordar-se dos atrasos dos primeiros computadores da Apple (dos quais ele construiu os dois primeiros) ou do relativo fiasco do Macintosh?

De seguida, Wozniak ferrou os dentes no Autopilot, sistema que tem levado todos os fabricantes da indústria automóvel a investir milhões para recuperar do atraso que têm em relação à Tesla. Sobre este sistema de ajuda à condução, Woz afirmou, na mesma entrevista à cadeia americana, que a “Tesla convenceu as pessoas que os seus veículos seriam capazes de se conduzir sozinhos e, até agora, isso não é verdade, o que significa que eles nos decepcionaram”. A realidade é que a Tesla sempre disse – bem como os órgãos de informação que testaram os seus automóveis, como o Observador – que os Model S e X estiveram equipados de início com o Autopilot 1, que era um sistema semiautónomo, que depois evoluiu para a versão 2, também semiautónomo, apesar de já incluir o hardware necessário para proporcionar a condução autónoma, quando ela fosse possível legalmente. O que hoje não acontece, nem para a Tesla, nem para nenhum outro fabricante.

“A Tesla fez algo que é importante para mim, que consistiu em realizar a transição de carros movidos a combustível para accionados electricamente”, admitiu Steve Wozniak. Para depois voltar ao ataque: “Em muitos aspectos, a Tesla está atrás de construtores como a Audi e Volvo no que respeita à condução autónoma.” Ora, em Maio deste ano, o mesmo Woz, que é proprietário de dois Tesla Model S P100D (que ele e a mulher usam diariamente), declarou numa outra entrevista, desta vez à Bloomberg do Canadá, que “a Tesla lidera a tecnologia de condução autónoma” e que ele apostava na marca americana.

Analisando os produtos actualmente à venda no mercado e a sua capacidade de condução semiautónoma, bem como os protótipos que já conduzimos, ou foram anunciados pelos construtores, não conseguimos vislumbrar em que se baseia o pai da Apple quando diz que há outros fabricantes mais avançados neste domínio. Antes fosse em qualidade de construção ou de materiais. Tanto mais que todas as marcas reconhecem que podem vir a conseguir alcançar o construtor americano neste domínio, mas que, de momento, ele goza de uma vantagem considerável. Isto embora, teoricamente, o sistema Autopilot da Tesla parecesse ter uma vida mais fácil quando Musk tinha os israelitas da Mobileye (empresa entretanto adquirida pela Intel por 15,3 mil milhões de dólares) do seu lado. A boa notícia é que não vai ser preciso esperar muito tempo para ver quem tem razão.

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