A venda de divisas pelo Banco Nacional de Angola à banca comercial caiu 67% na última semana, face à anterior, para mínimos do ano, de 74,5 milhões de euros, concluindo a liderança de Valter Filipe naquela instituição. A informação consta do relatório semanal do BNA sobre a evolução dos mercados monetário e cambial, entre 23 e 27 de outubro, e surge após os 226,3 milhões de euros e 122,2 milhões de euros disponibilizados à banca nas duas semanas anteriores.

Segundo o documento, consultado esta segunda-feira pela Lusa, as divisas vendidas – mantêm-se exclusivamente em euros há um ano e meio -, equivalentes a 83,2 milhões de dólares, cobriram essencialmente as necessidades de operações do setor industrial (22,7 milhões de euros) e a importação de alimentos (20,5 milhões de euros). Foram ainda cobertas, segundo o BNA, as importações do setor da Agricultura (14,9 milhões de euros), bem como as necessidades das companhias aéreas que operam em Angola (6,6 milhões de euros).

As casas de câmbio e as empresas operadoras de remessas para o exterior voltaram a receber divisas, após várias semanas de interregno, com 4,5 milhões de euros cada. A taxa de câmbio média de referência de venda do mercado cambial primário, apurada pelo banco central no final da última semana, manteve-se inalterada nos 166,748 kwanzas por cada dólar e nos 186,302 kwanzas por cada euro, sem mexidas significativas há um ano e meio.

No mercado de rua, a única alternativa, embora ilegal, face à falta de divisas aos balcões dos bancos, cada dólar norte-americano custa à volta de 420 kwanzas. O novo Presidente angolano, João Lourenço, nomeou na sexta-feira José de Lima Massano para o cargo de governador do BNA, exonerando, a seu pedido, Valter Filipe, que estava no cargo desde março de 2016.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Angola enfrenta desde finais de 2014 uma crise financeira e económica, com a forte quebra das receitas com a exportação de petróleo devido à redução da cotação internacional do barril de crude, tendo em curso várias medidas de austeridade. Esta conjuntura levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando nomeadamente as importações.

Além disso, devido à suspensão de acordos com bancos estrangeiros para correspondentes bancários para compra de dólares desde 2016, a banca angolana apenas consegue comprar divisas ao BNA (euros).

A gestão das divisas foi um dos assuntos que mereceu destaque no anual discurso sobre o estado da Nação, feito pelo Presidente angolano, João Lourenço, na Assembleia Nacional, a 16 de outubro, durante o qual já deixava a antever a mudança no comando do BNA.

Numa altura em que as Reservas Internacionais Líquidas angolanas – reservas em moeda estrangeira necessárias para garantir importações – estão em forte queda, devido à crise financeira, económica e cambial que o país atravessa, João Lourenço apontou a necessidade de serem protegidas, mas sem que isso prejudique a recuperação económica.

“Vamos encontrar os melhores mecanismos para que as escassas divisas disponíveis deixem de beneficiar apenas a um grupo reduzido de empresas e passem a beneficiar os grandes importadores de bens de consumo e de matérias-primas e de equipamentos que garantam o fomento da produção nacional”, enfatizou. “Importa impedir que a venda direta de divisas seja uma forma encapotada de exportação de capitais, sem o correspondente benefício para o país”, acrescentou o Presidente.