O grupo parlamentar do PSD está esta segunda e terça-feira reunido em Braga nas primeiras jornadas parlamentares encabeçadas por Hugo Soares. Com Pedro Passos Coelho na assistência, naquelas que se prevê que sejam as últimas jornadas em que participa como presidente do partido, Hugo Soares abriu os trabalhos com críticas ao primeiro-ministro António Costa, a quem devolveu a acusação de “aproveitamento político” devido à entrevista que deu este domingo à TVI. É que o cenário escolhido para a entrevista foi um quartel de bombeiros. “Os bombeiros mereciam mais respeito do primeiro-ministro de Portugal”, disse.

Para o líder parlamentar do PSD, “quem monta um cenário como este para fazer uma entrevista a propósito dos incêndios em Portugal não tem legitimidade nenhuma para acusar os outros de aproveitamento político”, disse, criticando duramente a “forma de estar na política” de António Costa. Hugo Soares chegou mesmo a comparar a entrevista deste domingo de António Costa à declaração ao país que José Sócrates fez aquando do pedido de ajuda externo ao FMI, em 2011.

Nessa altura ficou célebre a frase dita por José Sócrates quando pensava ter o microfone e as câmaras desligadas: “Ó Luís, fico melhor assim ou assim?”. “José Sócrates nessa altura estava mais preocupado em perguntar aos assessores se ficava melhor a olhar para a esquerda ou para a direita, e agora é António Costa que se preocupa mais em saber se fica melhor com um extintor ao lado esquerdo ou com um capacete ao lado direito”, disse Hugo Soares na sala de um hotel em Braga, onde vão decorrer as jornadas parlamentares do partido.

“É notável como o PS está sempre mais preocupado com a forma, que na substância nunca faz aquilo que o país precisa”, acrescentou.

Sobre a questão dos incêndios — que motivou uma visita dos deputados esta manhã às áreas ardidas de Monção, Viana do Castelo –, Hugo Soares lembrou que “o PSD foi o primeiro grupo parlamentar a apresentar propostas concretas para responder às necessidades básicas das populações para lidar com os fogos florestais”, e garantiu que o PSD iria “continuar a fazer oposição construtiva”. “Não nos furtaremos a fazer o que nos compete, que é apresentar propostas, mas não temos ilusão de saber que aquilo que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”, acrescentou.

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Em cima da mesa está também o Orçamento do Estado para 2018, que é tema de um painel de debate desta tarde, com os economistas Joaquim Sarmento (ex-assessor económico de Cavaco Silva) e Pedro Braz Teixeira. Também aqui Hugo Soares garante que o PSD vai apresentar propostas de alteração, enquanto partido de oposição “construtiva”, mas nota que a proposta de Orçamento do Estado para 2018 “não tem futuro nem estratégia nem qualquer visão de reforma estrutural que o país tanto precisa”. “É um Orçamento que não serve os portugueses, sempre apenas para manter António Costa no poder”, sublinhou.

Uma das “maiores injustiças” do Orçamento, diz Hugo Soares, são as medidas previstas para os trabalhadores a recibos verdes. “Há uma invenção de novos impostos, um aumento brutal dos impostos para os trabalhadores independentes e um ataque sem precedentes à classe média, aos empreendedores e aos que querem fazer alguma coisa por eles na sociedade”, diz numa análise rápida sobre a proposta de OE da “geringonça”. Sobre este tema da carga fiscal para os recibos verdes, Hugo Soares avança mesmo que o PSD vai ter uma proposta de alteração ao Orçamento para revogar o regime fiscal para os recibos verdes. Mais: desafia o BE e o PCP a votarem a favor.

“Sabemos que a nossa proposta precisa de ter uma maioria na Assembleia da República para ser aprovada, mas quem tem ouvido o BE e o PCP sobre isto creio que ficará mais descansado, porque eles não terão qualquer tipo de rebuço em votar a nossa proposta”, disse, provocando Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, que “se entretém a fazer oposição ao Governo ao fim de semana”.

O Diabo nunca chegou a ir embora, está só a hibernar

Com Pedro Passos Coelho na assistência, e a poucas horas de os dois candidatos a líder do PSD entrarem na sala (Rui Rio e Santana Lopes), o ainda presidente do partido foi uma das figuras mais citadas nas várias intervenções.

Primeiro foi o eurodeputado e presidente da distrital do PSD de Braga, José Manuel Fernandes, que antecipou que Passos Coelho pode não “andar a rondar por ai”, mas que “Portugal não o pode dispensar e, por isso, há de voltar a chamar por ele”. Depois, na fase do debate no painel dedicado ao Orçamento do Estado, foi a vez de o economista Joaquim Sarmento (ex-assessor do Presidente da República Cavaco Silva voltar a chamar o Diabo, recorrendo à famosa frase que Passos Coelho nega ter dito numa antiga reunião da bancada parlamentar.

Não sei se Pedro Passos Coelho disse ou não disse que vinha aí o Diabo, mas o que eu digo é que ele nunca foi embora. Ele está cá, só hibernou, e pode continuar a hibernar mais tempo, mas um dia vai voltar”, disse o professor auxiliar de Finanças do ISEG, depois de Maria Luís Albuquerque ter dito que a proposta de Orçamento do Governo para 2018 é “mais uma oportunidade perdida” por “não criar condições para aumentar a competitividade das empresas e para aumentar a riqueza no futuro”.