A Juventus não começou da melhor forma a temporada, perdendo a Supertaça de Itália frente à Lazio por 3-2, em agosto. Principal alvo da imprensa transalpina para o desaire: Gonzalo Higuaín. O Tuttosport chegou mesmo a apelidá-lo de “Porta-aviões” mas com um sentido pejorativo: “Não se mexe e as suas movimentações são limitadas. Acusou o peso do Verão. É humilhante que alguém como ele não tenha deixado marca ao longo de todo o jogo”. Seguiram-se nove jogos onde marcou quatro golos e outro problema: o azar. Que chegou ao cúmulo quando, na receção da Vecchia Signora à Lazio, que quebrou um longo período sem derrotas em casa, viu o guarda-redes Strakosha chutar contra si quase em cima da linha de golo e a bola a bater na trave e a sair sem entrar (lance típico dos apanhados). Agora, o argentino parece estar a recuperar o seu instinto.

Depois de ter marcado um golo na goleada ao Spal (4-1), Higuaín bisou no triunfo dos comandados de Massimiliano Allegri em San Siro, frente ao AC Milan (2-0). E, com isso, entrou na história ao tornar-se o segundo jogador nos últimos 20 anos a chegar aos 100 golos em dois dos cinco principais campeonatos europeus, após Ibrahimovic (atingiu os 100 na Serie A, tinha 107 no Real). É assim que vai chegar a Alvalade, para defrontar o Sporting. E é por isso que será o principal perigo para uma defesa que não contará com Piccini, Mathieu e Coentrão.

Aos 29 anos, “El Pipita” ainda procura o primeiro triunfo na Liga dos Campeões, após somar triunfos em Campeonatos, Taças e Supertaças de Espanha e Itália. O “Senhor 90 milhões” – transferência mais cara de um sul-americano até Neymar ira para o PSG – ainda é muitas vezes olhado pelo valor que custou à Juventus quando estava no Nápoles, em 2016, mas tem provado com que é um dos melhores avançados da atualidade.

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Nascido em França, onde o pai, Jorge, jogava na altura (Brest), Higuaín foi para a Argentina com apenas dez meses, tendo começado a dar os primeiros passos no futebol nas camadas jovens do River Plate, de onde se transferiria para o Real Madrid em 2006. Esteve sete anos nos merengues, marcando 121 golos (107 na Liga) em 264 jogos (190), e foi vendido por 40 milhões de euros ao Nápoles, num defeso onde saiu também Mesut Özil para o Arsenal para encontrar espaço para a contratação galáctica de Gareth Bale.

Tornou-se um verdadeiro herói na antiga equipa de Diego Maradona, sobretudo quando, na terceira temporada, apontou 36 golos em 35 partidas da Serie A. À procura de um avançado, a Juventus não teve dúvidas e assegurou a contratação de Higuaín não só numa perspetiva de revalidação do título mas, sobretudo, de conquista da Champions. No ano passado, perdeu na final; esta época, quer dar o passo que falta. No clube e na seleção, porque 2018 é ano de Mundial e “El Pipita” ainda tem atravessada a final perdida com a Alemanha em 2014.

Agora, numa entrevista recente ao The Guardian onde admitiu ter visto milhares de vezes os golos do ídolo Ronaldo Fenómeno e que recebe conselhos do pai que era defesa quando jogava (“mas não vou revelar aqui”), desvendou aquele que considera ser o principal segredo para qualquer avançado: “Estar bem consigo próprio”.

“Mais do que essa parte competitiva do jogo, prefiro, a nível humano, ser um bom pai quando chegar a altura e ser um bom homem. Quando se fazem coisas boas na nossa vida, o trabalho acaba por recompensar. Se estamos bem connosco próprios, se tens aquela energia positiva, oito em cada dez vezes as coisas vão sair bem. É por isso que acho que a forma como nos comportamos ao nível mais humano é muito importante e muitas vezes as pessoas não tratam isso como se fosse relevante, preferem colocar o trabalho como algo mais importante do que aquilo que somos como pessoas”, salientou.

Higuaín abordou também no mesmo trabalho a relação que tem os golos e o papel que os avançados desempenham em cada equipa. “Para mim, tem tudo a ver com a imagem de golo que temos na cabeça, isso é fundamental. Obsessão? Não, nada disso. É uma obrigação de todos os avançados marcarem golos. Pressão? Foi isso que sempre quis, é por isso que jogo futebol. Se alguém não sente pressão, é porque não ama o desporto. O futebol é uma pressão constante e temos de aprender a viver com isso”, comentou.

“O futebol é o desporto onde mais depressa tudo muda. Podemos estar sete jogos seguidos a marcar, depois não marcamos em dois e estamos mal, em crise. Mas isso é o que acontece a todas as pessoas fortes, certo? As pessoas habituam-se a ver-nos marcar e depois ficam surpreendidas se não marcamos em dois jogos. Isso até é engraçado”, analisou.