O Novo Banco tem de reduzir cerca 500 trabalhadores até 2021 e deverá dar lucro em 2020, disse à Lusa o representante do Sindicato dos Trabalhadores da Atividade Financeira (Sintaf), após a reunião desta terça-feira com o presidente do banco.

Nuno Matos, do Sintaf (sindicato ligado à CGTP), participou esta terça-feira na reunião em que o presidente do Novo Banco, António Ramalho, informou os sindicatos das implicações do plano de reestruturação que a instituição executará, agora que pertence maioritariamente ao fundo norte-americano Lone Star.

“O Novo Banco vai ter de reduzir em 10%, em cinco anos, o número de trabalhadores existente atualmente”, disse à Lusa o dirigente sindical do Sintaf. Tendo em conta que o grupo Novo Banco tinha, em agosto, 5.678 trabalhadores (a grande maioria em Portugal), tal significa uma redução de mais de 500 funcionários até 2021.

O sindicalista admitiu que parte da redução do efetivo será feita através das vendas de operações que o Novo Banco terá de fazer (caso de seguradoras ou de unidades no estrangeiro) e por saídas naturais (reformas e rescisões dos trabalhadores por sua própria decisão).

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Contudo, disse que não serão suficientes e mostrou receios com os processos de saída de trabalhadores que o banco levará a cabo: “Apesar de termos um plano a cinco anos, temos de mostrar o que valemos e começar a dar lucro em dois anos e meio. Isto para nós, o Sintaf, não traz nada de bom, continuamos a poder ter de despedir pessoas para ter lucro”.

O dirigente sindical afirmou ainda que os sindicatos foram informados de que o banco terá de reduzir em 20% os custos operativos e que as limitações salariais dos trabalhadores são para continuar.

Nesta reunião tiveram também presentes representantes dos sindicatos dos bancários da UGT e do Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários (SNQTB), que à saída do encontro não adiantaram números de quanto poderá ser a redução de trabalhadores.

Mário Mourão, representante da Febase – federação do setor bancário (ligada à UGT), disse que saiu da reunião com a convicção de que “relativamente aos trabalhadores não será feito nada de preocupante”, que não há “planos que prevejam a redução drástica de trabalhadores” e que processos de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo irão ser feitos “em diálogo” com sindicatos e oferecendo “condições aceitáveis”.

Não será nenhum número que nos permita estar com preocupações. O banco tem quatro a cinco anos para implementar o processo de rescisão (…). Face àquilo que tínhamos, saímos daqui com algum conforto”, afirmou.

Também Paulo Marcos, presidente do SNQTB, afirmou que “nada de catastrófico” se espera para os trabalhadores do Novo Banco em Portugal nos próximos anos e referiu que a administração garantiu que eventuais processos de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo serão “previamente negociados com os sindicatos e sem assédio moral aos trabalhadores”.

Ao contrário do que prognosticavam alguns profetas da desgraça, não há nenhum plano de despedimentos massivos, nenhum plano de reestruturação agressivo, agora o foco é fazer crescer as receitas e o banco, e isso é uma mensagem de esperança para trabalhadores e portugueses em geral”, afirmou.

Paulo Marcos disse que as informações transmitidas pela administração são de uma “redução [do efetivo] por causas essencialmente naturais” e “eventualmente alguns processos não massivos por mútuo acordo”, mas reiterando que para já não estão em cima da mesa e que serão “pontuais”.

Em 18 de outubro foi concretizada a venda de 75% do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star, mantendo o Fundo de Resolução (até então o único acionista) uma participação de 25%. O Novo Banco deixou, nessa data, de ser um banco de transição, mais de três anos depois da resolução do Banco Espírito Santo (BES), e entrou numa nova fase da sua vida.

Antes da privatização do Novo Banco foi negociado com a Comissão Europeia um plano de reestruturação para os próximos cinco anos, que levará à concentração do banco na península ibérica, com venda ou descontinuidade de operações no estrangeiro, venda de seguradoras, redução de custos (com redução de trabalhadores e cortes de balcões) e aumento de receitas.

O Novo Banco reduziu o seu quadro de pessoal em mais de 2.000 trabalhadores desde que foi criado, no âmbito da resolução do BES, em agosto de 2017. A maioria das saídas deveu-se a processos de rescisões, reformas antecipadas e houve mesmo um despedimento coletivo, no âmbito das reestruturações que a instituição levou a cabo. Só este ano, o grupo Novo Banco reduziu o quadro de pessoal em mais de 400 pessoas, tendo em agosto 5.678 trabalhadores (95% nas atividades em Portugal e as restantes nas operações no estrangeiro).