“Temos de corrigir alguns erros que cometemos no jogo da Alemanha, como reduzir mais o campo e tirar espaço entre linhas”, explicava Danilo em conferência de imprensa. “Se calhar até já falou um bocado a mais”, dizia Sérgio Conceição uns dez minutos depois. O técnico terá ficado satisfeito por perceber que a mensagem para a receção do FC Porto ao RB Leipzig tinha sido apreendida pelo grupo, mas meio a sério, meio a brincar, lá deu o toque naquele que é o jogador mais importante da equipa, por revelar em demasia o que era pretendido.

Esta noite, mais do que em qualquer jogo de Champions até ao momento, a parte tática teve um papel fundamental para o desfecho final. E nem foi tanto numa perspetiva de evolução face à derrota inaugural com o Besiktas, no Dragão; o FC Porto ganhou por 3-1 porque teve sempre uma outra maturidade para perceber os momentos do jogo e assumir vantagem quando havia margem para isso. Essa é, em paralelo, a maior dor de crescimento de um RB Leipzig, que ainda tem tanto de qualidade como de ingenuidade neste tipo de partidas.

Mas vamos então ao jogo. Um jogo que, fazendo as contas ao período entre o final do encontro com o Boavista e o início da partida frente aos germânicos, teve 93 horas de preparação por parte do staff azul e branco.

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Ficha de jogo

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FC Porto-RB Leipzig, 3-1

4.ª jornada do grupo G da Liga dos Campeões

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Ovidiu Hategan (Roménia)

FC Porto: José Sá; Ricardo, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo, Herrera; Corona (Maxi Pereira, 72′), Brahimi (Diego Reyes, 89′), Marega (André André, 12′) e Aboubakar

Suplentes não utilizados: Casillas, Sérgio Oliveira, Óliver Torres e Hernâni

Treinador: Sérgio Conceição

RB Leipzig: Gulácsi; Bernardo, Orban, Upamecano, Halstenberg (Klostermann, 46′); Kampl, Naby Keita; Forsberg, Bruma (Timo Werner, 46′), Sabitzer e Jean-Kévin Augustin (Poulsen, 75′)

Suplentes não utilizados: Mvogo, Konaté, Laimer e Demme

Treinador: Ralph Hasenhüttl

Golos: Herrera (13′), Timo Werner (48′), Danilo (61′) e Maxi Pereira (90+3′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Halstenberg (42′), Augustin (64′), Danilo (77′) e Sabitzer (85′)

Sérgio Conceição montou uma estratégia que podia ser exemplo paradigmático para todos os amantes de futebol de como usar os mesmos jogadores no mesmo sistema adaptando o modelo de jogo ao adversário. Vejam-se os alas, Corona e Brahimi: no Bessa, saíam que nem umas flechas na frente e criavam desequilíbrios nos corredores laterais; esta noite, ou jogando mais por dentro para ajudarem Danilo e Herrera, ou encostando mais aos laterais Ricardo e Alex Telles, tinham a clara preocupação de nunca falharem nos equilíbrios defensivos.

No entanto, toda esta estratégia estava montada num pressuposto: aproveitar as linhas de pressão subidas do RB Leipzig para jogar na profundidade com Marega e Aboubakar. E essa estratégia começou a ruir logo aos seis minutos, quando o maliano caiu no relvado agarrado à coxa. O avançado foi assistido, colocou uma coxa elástica, mas, no primeiro pique que fez (e que pique!), caiu e percebeu que não dava mais. Entrou André André (12′).

Se os dragões tiveram aí um momento de azar, a sorte veio logo no seguimento do lance: canto batido da direita do ataque ao segundo poste, grande confusão na área e bola a sobrar para o remate vitorioso de Herrera, o melhor dos azuis e brancos ao longo da primeira parte (13′). Na primeira oportunidade, o FC Porto marcou. E adotou um “novo” 4x3x3 tendo a vantagem no resultado do seu lado. Mas o RB Leipzig conseguiu ser globalmente mais consistente, mesmo chegando ao intervalo apenas com dois remates (um enquadrado).

A verticalidade e velocidade do ataque dos germânicos, aliado a alguns erros dos dragões na primeira fase de construção, deram uma imagem (às vezes falsa) de domínio visitante. A verdade é que, à exceção de um fantástico livre direto de Forsberg travado de uma forma ainda mais fantástica por José Sá (21′), não houve grandes situações de perigo. E o FC Porto chegou ao intervalo na frente pela margem mínima, com aquele golo de Herrera.

Ao intervalo, e se descontarmos a chegada ao balneário e a saída para a habitual reativação muscular que a equipa faz, Sérgio Conceição conseguiu ganhar o jogo com uma palestra de dez minutos. Mesmo tendo sofrido o golo do empate logo aos 48′ por Timo Werner, na única vez em que o RB Leipzig ganhou as contas à defesa portista.

Houve três grandes diferenças nos dragões no segundo tempo: 1) a capacidade que o trio Danilo-Herrera-André André (que muitas vezes encostava mais em Aboubakar para subir linhas de pressão) teve para bloquear o jogo entre linhas e pelo corredor central dos germânicos, sempre pautado por Keita; 2) a astucia de apostar tudo nas laterais para conseguir ter capacidade e qualidade na saída de bola, explorando a velocidade de Corona e Brahimi com ajudas, de quando em vez, de Ricardo e Alex Telles; 3) a subida em bloco de toda a equipa, que conseguiu em definitivo reduzir o campo para a posse dos alemães e aproveitar as fragilidades adversárias no setor recuado.

Danilo, que fazia o jogo 100 pelo FC Porto, aproveitou mais uma bola parada para adiantar os dragões de novo no marcador (desta vez num livre lateral, batido em arco por Alex Telles aos 61′) e dar outro conforto na gestão do jogo; Maxi Pereira, que realizou o primeiro encontro na Champions desta temporada, fechou as contas nos descontos após um grande trabalho de Aboubakar que isolou o uruguaio para o remate cruzado sem hipóteses para Gulácsi (90+3′). Entre um e outro golo, o RB Leipzig tentou o que o FC Porto nunca lhe permitiu.

O FC Porto recuperou o segundo lugar do grupo G da Champions com seis pontos, mais dois do que os alemães e menos quatro do que o Besiktas, o próximo adversário. No entanto, aquilo que os dragões têm de bom é também o seu calcanhar de Aquiles, como se verá no sábado: com Soares e Otávio lesionados, Marega também saiu com um problema na coxa e até Corona revelou queixas antes de ser substituído. Alternativas? Para o mexicano há Hernâni, para o maliano há Galeno, o miúdo da equipa B. E mais nada. Pelo menos até janeiro, os azuis e brancos têm uma manta boa, mas curta. E o seu maior desafio é conseguir passar incólume durante o inverno…