Os juros da dívida portuguesa desceram esta terça-feira para menos de 2% pela primeira vez desde abril de 2015, no prazo de referência a 10 anos. O efeito da subida do rating por parte da agência norte-americana S&P continua a fazer-se sentir, tal como a extensão do programa de compras de dívida pelo Banco Central Europeu (BCE), que também está a impulsionar a confiança dos investidores.

1,999%. Os investidores no mercado de dívida transacionaram, entre si, títulos de dívida pública nacional a 10 anos com uma rendibilidade inferior a 2%. Desde abril de 2015, precisamente a altura em que o BCE arrancou com o programa inédito de intervenção nos mercados, que este valor não era tão baixo. Esta variação não implica uma redução efetiva dos custos que o Estado português paga para se financiar mas cria melhores condições para pagar menos juros nas próximas emissões no mercado — já esta quarta-feira, 8 de novembro, há um leilão de obrigações pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP).

Juros de Portugal em mínimos desde abril de 2015

Pela primeira vez desde abril de 2015, investidores trocaram entre si dívida pública portuguesa a 10 anos com juros inferiores a 2%.

Em comparação com aquilo que os investidores pedem para negociar dívida portuguesa, as obrigações a 10 anos em Espanha estão com uma taxa de 1,45% e os juros de Itália no mesmo prazo estão a cair há dez sessões consecutivas para 1,75%. A comparação entre os juros de Portugal e a taxa de juro da Alemanha — a referência “sem risco” na Europa — mostra como o efeito da subida do rating da S&P, em meados de setembro, foi decisivo.

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Risco da dívida pública afundou após subida do rating

163 pontos-base fazem a diferença entre aquilo que os investidores exigem para comprar dívida portuguesa em vez de dívida alemã.

A subida de rating pela S&P foi uma das melhores notícias para Portugal nos últimos meses, não só pelo efeito direto que tem mas porque cria a expectativa de que outras grandes agências — a Moody’s e a Fitch — possam dar um passo no mesmo sentido, recomendando o investimento na dívida nacional mesmo aos investidores mais conservadores.

Os ratings são decisivos para que mais investidores queiram e possam comprar dívida portuguesa. E isto acontece por dois efeitos: por um lado, há muitos fundos que estão proibidos de comprar dívida que tenha uma notação de “alto risco” — falamos de fundos de pensões e seguradoras, por exemplo, que têm bolsos fundos mas limitações ou mesmo proibições quando se fala em investir em ativos com notação menos favorável.

Por outro lado, o facto de Portugal ascender a “grau de investimento” coloca o país em vários índices importantes de obrigações. Muitos investidores investem não em emitentes específicos mas em índices (da mesma forma que se compram ações de um país, ou, sobretudo, deste ou daquele setor de atividade). Os títulos são comprados seguindo a ponderação de um índice e, portanto, se a dívida portuguesa volta a constar desses índices isso leva a que vários investidores tenham obrigatoriamente de comprar os títulos, pela simples razão de terem de acompanhar o índice.

Ainda assim, neste ponto, há que referir que cada índice tem a sua metodologia: para alguns bastará haver um rating de qualidade para estar no índice (desde que seja de uma destas três principais agências) mas para outros, por exemplo, pode ser necessário duas agências, pelo menos, com rating positivo. Outras, por exemplo, podem fazer uma média ou considerar apenas o melhor ou o pior rating disponível.

Isto significa que ainda poderá ser importante que haja mais agências a subir o rating de Portugal para que este efeito positivo se faça sentir de forma mais notória. Alguns investidores mais especulativos já estão a “posicionar-se” para esse movimento.

O “rating” saiu de “lixo”. E agora?

Por outro lado, o BCE anunciou no final de outubro que iria prolongar o programa de compra de dívida pelo menos até setembro de 2018, o que indica que as compras vão continuar mesmo que a um ritmo mais baixo. Para Portugal, isso significa que o BCE irá comprar nos próximos meses mais 12 mil milhões de euros em dívida pública portuguesa, pelo menos.

BCE vai comprar mais de 12 mil milhões de dívida portuguesa nos próximos anos