Cerca de uma centena de trabalhadores da Soares da Costa concentraram-se esta terça-feira diante do Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia e prometem ir manifestar-se para a porta do primeiro-ministro.

Com seis meses de salários em atraso e dois dias depois de terem visto a Monumental Palace Hotel (MPH), proprietária da obra, retirar ao consórcio liderado pela Soares da Costa a recuperação do hotel na Avenida dos Aliados, no Porto, os trabalhadores foram surpreendidos com o evoluir do segundo Plano Especial de Revitalização (PER) da empresa e decidiram novas formas de luta.

Membro do Sindicato das Indústrias Transformadoras, Energia e Ambiente, Luís Pinto deslocou-se ao tribunal e diz que não gostou do que ouviu depois de lhe terem dito que o processo fora entregue a uma juíza: “Andamos nisto desde agosto de 2016 quando o que foi dito é que ao introduzir isto na legislação era para aligeirar os processos. É terrível para quem está desde janeiro com salários em atraso”, acusou o sindicalista.

Em face disto, os trabalhadores votaram a participação na greve geral agendada pela CGTP para 18 de novembro e, nos dias 27 e 28 seguintes, o comparecimento novamente em Lisboa, agora na residência oficial do primeiro-ministro, António Costa, para protestar pela sua situação.

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José Martins, representante da comissão de trabalhadores, falou à Lusa da proposta avançada pelo empresário Manuel Ferreira, em nome da MPH, de ficar com os trabalhadores da construtura para finalizar a obra.

“Consideramos este movimento muito estranho porque atendendo a que somos o órgão que representa todos os trabalhadores da Soares da Costa não fomos, quer pela empresa quer pelo dono da obra, ouvidos sobre esta iniciativa”, afirmou José Martins considerando “ultrajante” o que está acontecer.

Mantendo o tom crítico acrescentou: “Num Estado de Direito, uma pessoa de bem como deve ser um empresário que se arroga de todo o empreendedorismo na cidade do Porto não nos deixa entender como é que trata disto tudo nas costas dos trabalhadores”.

Assegurando que os 100 trabalhadores da obra “nunca quiseram” a cisão entre o cliente e a empresa, José Martins afirmou que nem os “atrasos no pagamento de salários” nem o “desenlace” eram esperados, razão pela qual “não estão contentes” com o que se está a passar, mostrando-se disponíveis para reunir com Mário Ferreira.

“Queremos que a empresa [Soares da Costa] progrida. Somos trabalhadores da empresa, sendo que o mais antigo deve ter 50 anos de casa e o mais recente cerca de 30. Portanto, estamos a falar de pessoas com muita antiguidade, muita experiência e tudo o que está a acontecer à sua volta é porque Mário Ferreira reconhece a sua capacidade de trabalho e quer recruta-los”, argumentou.

Funcionário há 44 anos da construtora Manuel Almeida atribuiu à “má gestão” de anteriores administrações da Soares da Costa o atual estado das coisas, não considerando, no entanto, que a acusação da MPH de ter avançado com cerca de 1,5 milhões de euros e, mesmo assim, “estar seis meses atrasada na obra” razões para o consórcio liderado pela construtora ser afastado.

“A má gestão da empresa é a nível global, é algo que já tem anos. Não é esta administração, que tomou posse há três ou quatro anos, que tem culpa disso”, observou.

Trabalhadora da construtora com as funções suspensas há um ano depois de somar seis meses de salários em atraso, Elsa Sá compareceu à manifestação solidária com os colegas, também culpando a “má gestão” pelo momento da empresa.

“Esta situação no Hotel Monumental até dá jeito à administração da Soares da Costa que, mais dia ou menos dia, é para fechar. Eles é que estão a protelar”, afirmou à Lusa.