Al Gore, o antigo vice-presidente dos EUA que venceu o Nobel da Paz em 2007, e que tem passado os últimos anos a alertar o mundo sobre as alterações climáticas, colocou três perguntas ao público que o recebeu de pé na Web Summit: temos de fazer alguma coisa? Podemos fazer alguma coisa? E vamos fazer alguma coisa? O vídeo que mostrou nos ecrãs gigantes do palco principal da Web Summit, ainda antes de entrar em ação, dava respostas muito claras às duas primeiras questões: sim, porque a próxima geração vai olhar para trás e dizer-nos: “No que estavam a pensar? Não conseguiam ouvir o que os cientistas estavam a dizer? Não conseguiam ouvir o que a Mãe Natureza estava a gritar?”. À terceira pergunta, Al Gore não pode responder. Está nas nossas mãos, alerta ele.

Numa intervenção de meia hora — e com a energia estonteante que já nos havia habitado com o documentário oscarizado “Uma Verdade Inconveniente” –, Al Gore deixou um aviso ao público que esgotou as cadeiras do Altice Arena:

A minha ideia, ao vir aqui, não é entreter-vos com factos que provavelmente já conhecem. Venho aqui recrutar-vos para serem parte da solução da crise ambiental e ecológico. Porque nós podemos resolver este problema, temos de resolver e vamos resolver!”.

É que os factos já nós conhecemos: 2016 foi o ano mais quente de que há registo. “Os ciclos naturais estão disrompidos. Por isso temos tantas inundações e os piores incêndios na Califórnia. Um terço do Bangladesh já está debaixo de água. Mas a energia que é gasta na disrupção do sistema de água também traz água ao solo. É isto que acontece em Portugal, Espanha, Grécia, Itália. África está a viver a pior crise humanitária de sempre, com milhões de pessoas a morrerem à fome. A Síria passou por isso bem antes da guerra civil: os ministros da Síria diziam que não iam conseguir resolver isso. E foi assim que a guerra civil começou“, recorda Al Gore.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Só há uma coisa que o descansa: temos os problemas, mas também temos as soluções. “Vejam o que está a acontecer no mundo da tecnologia e concentrem-se no ramo da energia: a tecnologia está a melhorar a área da energia solar, da energia eólica. Temos veículos elétricos. Temos as ferramentas todas ao nosso dispor, mesmo contra os sistemas políticos instaurados contra isso: as pessoas continuam a ter a voz mais poderosa”. Mais poderosa do que a de Donald Trump, a quem Al Gore dá especial atenção no trailer que apresentou para o documentário “Uma Sequela Inconveniente”:

O Acordo de Paris foi uma mudança histórica. Todos os países do mundo assinaram este acordo, menos o Nicarágua e a Síria, que já entraram. E agora Trump anunciou que os Estados Unidos vão sair do Acordo de Paris. O que devia sair dos Estados Unidos em 2020 era o presidente“. E vai mais longe: “A democracia foi atacada em muitos países“.

Na mesma cimeira onde se falou de colonizar Marte e apostar em encontrar vida noutros planetas, Al Gore põe-nos os pés na Terra: “Esta é a única casa que temos. Há uma colisão entre a civilização humana tal como a criámos e os sistemas ambientais que compõem o ambiente deste planetas. A vitalidade dos oceanos, por exemplo, está a morrer porque o plástico está a tapar o caminhos dos peixes. Perdemos quintas, florestas virgens. Mas a coisa mais importa desta colisão é a crise climática. E é porque essa é a coisa mais vulnerável do sistema ecológica da Terra. A atmosfera, num dia bonito como este até parece eterno. Mas é uma fina camada em volta da Terra”.

O futuro dessa fina camada está “nas nossas mãos”. E nós não estamos parados, elogia Al Gore: “O nosso mundo está nos primeiros passos de uma revolução de sustentabilidade tão importante como a Revolução Industrial mas com a velocidade de uma revolução digital. Constroem-se automóveis sustentáveis, a Internet das coisas! E isso deve-se às pessoas que estão dentro desta sala, porque há um número cada vez maior de investidores desejosos de conhecer jovens que usam os seus conhecimentos e capacidades para encontrar soluções. Esses jovens são vocês: muito obrigada pelo que estão a fazer. Porque já estão a fazer uma grande diferença”. Afinal, a resposta à terceira pergunta pode ser um sim. E pode estar aqui na Web Summit.