O ativista norte-americano Les U. Knight defende que a extinção da espécie humana seria “mutuamente benéfica” para o Homem e para a Natureza. “Tanto o planeta como os humanos beneficiariam imenso se nós cessássemos de procriar ou pelo menos reduzíssemos muito a reprodução”, disse, reforçando que a ideia seria “uma redução pacífica”.

O fundador do Movimento para a Extinção Voluntária da Espécie Humana (VHEMT) apresentou o conceito na sexta-feira, no Fórum do Futuro, que termina este sábado no Porto, e apontou à Lusa “a drenagem de recursos pelos humanos” da Natureza.

O professor e ativista explicou que chegou à ideia por ter testemunhado “em primeira mão vários casos de destruição do meio ambiente” e que nos últimos 26 anos tem procurado “difundir de todas as formas possíveis” a ideia de que os humanos estariam muito melhor se fossem muito menos.

O objetivo principal é “reenquadrar duas formas de olhar para o mundo”. Por um lado, alterar a forma de pensar que diz que a reprodução é algo indispensável, porque “a maior parte das pessoas assume simplesmente que é o que vão fazer na vida”. Por outro, alterar “a supremacia humana na biosfera”, porque ao aceitar a extinção da espécie humana talvez se pense “melhor na extinção das outras espécies”.

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“Propaganda natalista” e “machismo” são culpados

Na opinião de Knight, que também trabalha como professor, “não só o sistema de educação como toda a cultura” está influenciada “pela propaganda natalista, tão profunda no condicionamento de cada um que quase não se nota”.

O aquecimento global e as alterações climáticas, bem como a mudança no panorama político internacional, trouxeram “um maior sentido de urgência em relação ao ambiente”, argumentou, porque “se percebe o quão rápido pode ser desfeito o trabalho de décadas no que toca ao ambiente e à liberdade reprodutiva, que tem sido reprimida”.

Entre os fatores que levaram a um aumento da repressão sobre a liberdade reprodutiva está o machismo e o patriarcado, que têm “um peso enorme” e que atrasam “os enormes passos em frente com a igualdade de género”, o que pode ser minimizado com “educação para mulheres e tudo o que é necessário para que as pessoas possam tomar decisões fundamentadas”.

Na opinião do ativista, a natalidade vai baixar no futuro, em parte devido ao aumento da liberdade reprodutiva, mas também devido ao “maior acesso a informação”.

A causa de uma vida promove-se com “um pouco de humor”

Les U. Knight dedicou-se à causa como o trabalho de uma vida com o objetivo de “difundir a ideia e o movimento”, usando por vezes “um pouco de humor para ajudar a passar a mensagem”. O norte-americano, que participou no Fórum do Futuro no âmbito de uma parceria com a companhia de teatro portuense Mala Voadora, fundou o VHEMT em 1991.

“Como professor, estou habituado a trabalhar todos os dias sem ver resultados tangíveis. Eu sei que é um processo. Sei que não vou ver o dia em que a espécie humana estará extinta“, referiu, explicando que o objetivo é “tão a longo prazo” que procura antes transmitir o conceito ao maior número de pessoas possível.

Segundo o fundador do movimento, “muitas pessoas estão a chegar a esta ideia por si”, pelo que estima que “cerca de três milhões de pessoas chegaram ao conceito”, que, reforça, “não quer banir ninguém, mesmo quem já teve filhos”. O movimento, que diz ser “uma ideia quase de ficção científica, porque não se convencem sete mil milhões de pessoas“, tem a intenção de “contrariar a ideia de que só pode ser bom sermos mais”.

“Temos um autocolante para automóveis que diz: ‘Que possamos viver muito e desaparecer’, e isso resume o nosso movimento, é como um lema não oficial”, concluiu.