Na segunda-feira, milhares de manifestantes, principalmente mulheres, marcharam pelas ruas do Rio de Janeiro, depois de o dia 8 de novembro ter ficado marcado na história do país, no que ao aborto diz respeito. Nesse dia, um comité do Congresso liderado pelos Cristãos Evangélicos votou a favor da proibição total do aborto, incluindo nos casos de violação e naqueles em que a vida da mãe esteja em perigo.
Foram 18 votos a favor da proibição contra um – o voto contra foi de Erika Kokay, a única mulher presente durante a sessão, e que integra o Partido dos Trabalhadores, segundo noticiou a Reuters.
As mulheres marcharam então para protestar contra a decisão, muitas delas gritando “Os nossos corpos são nossos!”. Durante os protestos surgiram alguns conflitos entre manifestantes e polícia, que recorreu à utilização de gás lacrimogéneo quando a marcha chegou à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
As manifestações não aconteceram apenas no Rio, mas um pouco por todo o Brasil. Algumas mulheres levavam cartazes com a inscrição “não mereço o filho do meu violador”, outras pediam a legalização mais ampla do aborto.
A questão do aborto tem sido muito criticada no Brasil, principalmente porque é um dos países com mais católicos no mundo. Um dos apoiantes da medida que pretende tornar o aborto completamente ilegal chegou mesmo a dizer que “defender o aborto é um ato satânico, diabólico e destrutivo”, agitando uma réplica de um feto com 12 semanas.
Rodrigo Maia, da Câmara dos Deputados, disse à Associated Press que qualquer proibição do aborto sem uma exceção por violação não vai passar. A medida faz parte de uma emenda constitucional e, por essa razão, será necessário a medida ter dois terços dos votos tanto na Câmara dos Deputados como no Senado para se tornar efetivamente lei.
Atualmente, o aborto é permitido no Brasil apenas em casos que envolvam vítimas de violação sexual, em que a vida da mãe esteja em risco, em situações de incesto e nos casos em que ocorra anencefalia do feto – um defeito congénito que envolve o cérebro.
Segundo a Human Rights Watch, “aproximadamente um a quatro milhões de abortos são realizados no Brasil todos os anos”. Com isso, pelo menos 250.000 mulheres terminam nas urgências com problemas de saúde causados por abortos inseguros. Segundo estimativas do governo, esta é a quarta causa principal de mortalidade materna no país.