Um grupo de investigadores norte-americanos publicou um artigo na revista Science sobre o impacto das cidades na evolução das espécies. O texto agrupa toda a informação que a ciência conhece sobre as alterações na evolução natural dos animais provocadas pelo crescimento das zonas urbanas.

As cidades ocupam apenas 3% da superfície do planeta — mas é ali que vive metade da população humana. O grupo de investigadores analisou mais de 200 estudos para enumerar as atitudes que mais impacto têm na evolução das espécies.

Existem muitas características das cidades que afetam a evolução, como a construção de edifícios e estradas que fragmentam a paisagem, a contaminação do ar e a sonora, as alterações climáticas ou a disponibilização de água, assim como o incremento da abundância e da diversidade de espécies invasoras”, explicou Marc Johnson, biólogo e co-autor da investigação, ao El País.

Na natureza, as espécies vão evoluindo através de mudanças na forma como os genes se manifestam. Segundo o artigo publicado na Science, a maioria das mutações que acontecem nas cidades são devido às derivações genéticas. Por vários fatores, como o isolamento de pequenas populações, algo habitual nas cidades, locais com muito cimento, parques e muros.

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O estudo acrescenta ainda que as cidades mais antigas têm um impacto maior na evolução das espécies, comparadas com as mais recentes. Ao El País, Marc Johnson dá o exemplo da cidade espanhola de Oviedo. “Tem evoluído durante centenas de anos. O artigo mostra que as salamandras, por exemplo, vivem isoladas nos pátios da catedral e do convento há 1.100 anos. Claro que evoluíram até serem geneticamente distintas das populações que vivem nas zonas mais modernas da cidade”, contou Johnson.

O grupo de investigadores conclui o artigo com uma explicação de que, em princípio, a diferenciação genética de populações de uma mesma espécie não tem obrigatoriamente de acabar na formação de duas espécies diferentes. Contudo, realça que as cidades podem provocar um fenómeno de aceleração — e encurtar o que agora demora milhares ou milhões de anos.

O caso mais famoso é o do mosquito do metro de Londres, uma subespécie que derivou do mosquito doméstico. A grande diferença é simples: o mosquito do metropolitano não chupa sangue. “O mais surpreendente é que o do metro não reconhece o doméstico como sendo da sua própria espécie, por isso, não são parecidos e divergiram geneticamente para aquilo que se pode considerar duas espécies diferentes”, explica Marc Johnson. Para além de Londres, esta espécie de mosquito já foi encontrada no metro de Chicago e Nova Iorque.