O primeiro-ministro timorense disse esta quarta-feira que sem Xanana Gusmão não há possibilidade de um verdadeiro diálogo político alargado, como o promovido pelo chefe de Estado, acusando a oposição de “um golpe” para impedir a governação.

“Não estou preocupado com a situação política. A minha preocupação centra-se nos líderes políticos, se sabem interpretar a situação ou não”, disse Mari Alkatiri depois de um encontro de 70 minutos com o Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo.

Não é o Governo que não quer governar. Outros é que se estão a organizar para não deixar que haja governação. Isto é golpe, isto é golpe. Houve eleição e depois houve um golpe”, considerou.

Alkatiri lidera um Governo minoritário apoiado pelos 23 deputados da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e pelos sete do Partido Democrático (PD) que em outubro viu o seu programa chumbado pela oposição maioritária.

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Se o bloco de oposição que controla 35 dos 65 lugares do parlamento – formado pelo Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) – chumbar o programa pela segunda vez, o Governo cai.

No intuito de lidar com a situação atual o chefe de Estado convocou encontros com líderes religiosos, responsáveis da sociedade civil e, inicialmente, um encontro a três com os líderes dos três maiores partidos: Alkatiri (Fretilini), Xanana Gusmão (CNRT) e Taur Matan Ruak (PLP).

Xanana Gusmão está ausente do país desde 11 de setembro – ainda sem data de regresso – e o encontro acabou por se transformar em reuniões separadas apenas com Alkatiri e Matan Ruak (com quem se reúne hoje à tarde).

Para Alkatiri a ausência de Xanana Gusmão do país – tem estado envolvido nas negociações sobre fronteiras marítimas com a Austrália – impede qualquer diálogo alargado.

Tem que estar presente. Se não estiver presente não há diálogo alargado possível. A Fretilin é o partido mais votado, o CNRT é o segundo e esta é que é a realidade. Agora fazerem coligações e descoligações, isso é outra coisa”, disse.

Alkatiri insiste que não reconhece a Aliança de Maioria Parlamentar (AMP), anunciada pelos partidos da oposição, considerando que continua à espera de ouvir que Xanana Gusmão apoia de facto essa iniciativa. “Eles [no CNRT] dizem que sim mas Xanana nunca disse isto. E eu sou como São Tomé: ver para querer”, disse.

Sobre cenários para o futuro Alkatiri disse que há que respeitar a constituição e as competências do Presidente da República, questionado se num cenário da queda de Governo o chefe de Estado poderia convidar o segundo partido a formar um novo executivo. “Não sei se a constituição permite isso. Houve uma situação parecida mas não igual em 2007 mas nas altura a Fretilin considerou o Governo ‘de facto’, porque a nossa interpretação da constituição é diferente”, disse.

O chefe do Governo e secretário-geral da Fretilin insistiu que continua empenhando em “estabilidade, na estabilidade nacional, não apenas governativa”, e rejeitou que o Governo esteja em gestão, considerando as críticas da oposição à apresentação do Orçamento Retificativo sem a apresentação de novo do programa “vazia de conteúdo constitucional”.

“Eu sempre quis o diálogo, procurando uma coligação, inclusão, ou incidência parlamentar. E continuo interessado nisso. A fase de transição de cinco anos precisa de entendimento alargado”, afirmou.

“A estabilidade não vem com a maioria de 35 lugares. O primeiro governo tinha ampla maioria qualificada e não tínhamos estabilidade. A estabilidade da sociedade é que é importante, da sociedade civil, do povo, das confissões religiosas. Isso é que é importante”, afirmou.