O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, defendeu esta quinta-feira que o padre Giselo Andrade, do Funchal, poderá continuar a sua atividade sacerdotal se tiver “disponibilidade para voltar à vida celibatária”, rejeitando uma “vida dupla”. O cardeal considerou ainda que a exigência do celibato aos padres católicos não deve ser abolida, uma vez que o padre é aquele “que escolheu não constituir família para ser familiar de todos, até daqueles que não têm família”.

D. Manuel Clemente, que preside à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), falava esta tarde aos jornalistas para apresentar as conclusões da assembleia plenária dos bispos portugueses, que decorreu esta semana em Fátima. O líder da CEP disse que o assunto do padre Giselo não foi discutido na reunião dos bispos porque é um caso “específico da diocese do Funchal”, que deve ser tratado na comunidade local.

Questionado sobre a posição dos bispos portugueses sobre este caso, D. Manuel Clemente destacou que “o que foi debatido na assembleia plenária foi a nova Ratio Fundamentalis”, um documento elaborado recentemente pela Congregação para o Clero (departamento do Vaticano responsável pelas questões do clero). No documento, insiste-se “nas qualidades humanas e nos cuidados a ter na escolha dos candidatos ao sacerdócio”.

No que toca ao caso concreto do padre Giselo, D. Manuel Clemente reconheceu que após a “quebra temporária” do celibato, a “continuação da vida sacerdotal pode acontecer”, desde que haja disponibilidade para retomar o celibato, sem esquecer as “responsabilidades que tem de assumir em relação à criança que nasceu”. “Isto, claro, sem implicar a conjugalidade“, ou seja, sem manter uma relação conjugal com a mãe da criança em causa.

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Questionado sobre se o serviço pastoral enquanto sacerdote não é incompatível com a existência de um filho para cuidar, D. Manuel Clemente considerou que não se trata de “um padre que tem um filho em casa para cuidar”, e que a criança “será cuidada pela sua mãe e não lhe faltará nada”. Sobre se esta forma de criar um filho não implicaria a criança crescer sem pai, o cardeal assegurou que “ele conhecerá o seu pai, saberá quem ele é e terão muitas oportunidades para se encontrar”.

“Num sentido mais amplo, os casais católicos também se comprometeram um com o outro e às vezes também há filhos fora do casamento”, acrescentou o cardeal, comparando as duas situações.

Celibato deve continuar. Seminários sem homossexuais

D. Manuel Clemente recusou um abandono da exigência do celibato aos padres católicos, nem sequer um “abrandamento” da sua apologia. “Na Igreja Católica Latina, que é aquela em que nós estamos, os sacerdotes são escolhidos entre as pessoas que manifestam um carisma celibatário. Não se destinam a constituir família, para que tenham disponibilidade para ser familiares de todos, até daqueles que não têm família”, considerou o cardeal.

“Não ligaria o problema do celibato à falta de vocações”, acrescentou ainda D. Manuel Clemente, sublinhando que o abandono do celibato contribuiria para uma “diluição do perfil sacerdotal”, o que poderia ter efeitos ainda mais negativos na falta de vocações.

O cardeal-patriarca de Lisboa disse também que se deve “desaconselhar vivamente” um jovem “que manifeste tendências ou orientação homossexual” de entrar para o seminário. Mesmo sendo a obrigação do celibato igual para heterossexuais e homossexuais, D. Manuel Clemente defendeu que a homossexualidade não é “conforme” com a proposta da Igreja e que “é melhor não colocar os jovens em situações que podem ser mais melindrosas para eles”.

“É melhor nem avançar”, destacou o cardeal, sublinhando que “tem havido cada vez mais um acompanhamento psicológico completo dos candidatos ao sacerdócio”.

Sobre os temas discutidos na assembleia plenária dos bispos, D. Manuel Clemente destacou ainda a necessidade de o Estado “respeitar e apoiar” instituições privadas sociais e educativas, como os colégios com contratos de associação e outras instituições ligadas à Igreja e a movimentos da sociedade.

“Os bispos lembram o princípio da subsidariedade”, lê-se mesmo nas conclusões da reunião. O cardeal destacou que este princípio não vai contra o princípio da solidariedade, segundo o qual “ninguém pode ficar de fora na sociedade”, mas que antes o complementa, uma vez que para garantir que ninguém fica de fora o Estado “usa e apoia as instituições que nasceram da espontaneidade social”, que são “de reconhecido mérito” e que funcionam “há décadas”.