O novo diretor do Jornal de Angola, órgão de comunicação social do poder angolano, recusa que haja um conflito entre o Presidente da República do país, João Lourenço, e o seu antecessor e ainda presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos. Num editorial em que se refere ao “novo ciclo político” em Luanda, Víctor Silva explica que o afastamento de Isabel dos Santos da presidência da petrolífera Sonangol foi uma “medida de gestão, pura e dura”, que pretendeu salvar a empresa estatal.

A imagem de Isabel dos Santos estava a sufocar a petrolífera, considera o novo diretor do jornal. A questão do afastamento da empresária dos comandos da empresa “não deve ser posta no facto de Isabel dos Santos ser filha do ex-Presidente da República”, defende Victor Silva, que acrescenta:

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Se calhar, ou talvez por isso mesmo, a petrolífera nacional não conseguia os financiamentos externos necessários ao seu desenvolvimento por saber-se que no combate ao branqueamento de capitais há pessoas politicamente expostas, as chamadas PEP, que estão sob o radar do mundo financeiro mundial”, diz o diretor do Jornal de Angola.

Quanto mais não seja — a formulação do diretor do jornal é dúbia quanto ao alcance do juízo que faz sobre Isabel dos Santos –, a figura da filha de “Zédu” à frente da “galinha dos ovos de ouro” angolana estava a impedir a entrada de dinheiro fresco. Não se nega à empresária, contudo, o “mérito” de ter conseguido “baixar os custos de produção” e de “outras ações”. Mas questiona-se o “preço” a pagar por esses resultados e aponta-se a “falta de diálogo e o excesso de burocracia” como dois dos principais fatores a ameaçar a “saúde” da estatal.

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Não há ali, garante o editorial — um espaço visto como uma câmara de ressonância do pensamento da presidência do país — qualquer questão pessoal entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos. “Algumas forças, apanhadas sem argumentação, procuram agora atirar para um alegado conflito político entre o Presidente da República e o líder do MPLA, fomentando um forçado braço de ferro e pseudo divisões no partido no poder”, sublinha o diretor do jornal.

A saída de dos Santos da direção da Sonangol foi a marca mais impressiva do “novo ciclo” que o poder político personificado por João Lourenço quer estabelecer no país. Houve mexidas no setor financeiro, na banca, no negócio dos diamantes. São mudanças concretizadas, “a que seguirão, não se tenha dúvidas, outras mais”, garante o diretor do Jornal de Angola.

Com que impacto — isto é, até que ponto representam uma nova filosofia na gestão dos interesses do país, menos ligados a interesses pessoais da cúpula política e militar — ainda está por clarificar. Para já, Victor Silva diz que estas mudanças “não devem ser vistas como mera substituição de figuras ou nomes, um mau hábito cultivado com a funalização dos nossos assuntos”. Serão parte do tal “novo ciclo”, promessa da campanha eleitoral, que se baseia na “moralização da sociedade através do combate à corrupção, do fim da impunidade e da abertura de oportunidades iguais para todos”.