Robert Mugabe, 93 anos, foi afastado este domingo da liderança do Zanu-PF. Depois do golpe de Estado desta quarta-feira e apesar da intenção do presidente do Zimbabué de terminar o seu mandato, os militantes do partido afastaram o lider e colocaram no lugar Emmerson Mnangagwa, vice-presidente do país. A mulher de Mugabe, Grace (uma das pretendentes ao lugar do histórico líder), também foi expulsa do partido. Ficou o aviso do seu próprio partido: ou se demite até ao meio dia de segunda-feira ou enfrentará um processo de afastamento (impeachment).

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Um vídeo partilhado no Twitter pelo jornalista da BBC Andrew Harding mostra a receção entusiástica com que a votação de afastamento de Mugabé foi recebida pelos militantes do partido que liderou até esta manhã.

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O afastamento de Mugabe do Zanu-PF não significa a destituição da presidência. Significa, para já, que uma eventual votação parlamentar do afastamento do presidente do Zimbabué ganha peso suficiente para que possa vir a ser aprovada pelos deputados. De acordo com o ministro dos Indígenas, Patrick Zhuwao, sobrinho de Robert Mugabe, o presidente está “disposto a morrer pelos princípios dele” e “proteger a constituição”.

Essa intransigência não impediu que o comité central do Zanu-PF colocasse pressão sobre o ainda líder do país: Robert Mugabe terá cerca de 24 horas, até ao meio dia desta segunda-feira, para apresentar a sua demissão e deixar a presidência do Zimbabué. Caso contrário, o seu próprio partido admite avançar para um processo de afastamento forçado, apresentando (ou votando favoravelmente) uma proposta de impeachment do chefe de Estado.

Há apenas duas semanas, Mnangagwa tinha sido afastado da vice-presidência do Zimbabué, depois de se saber que tinha passado o último ano em diálogo com os generais que esta semana protagonizaram o golpe contra Mugabe. O vice-presidente estaria a preparar o afastamento daquele que é há quase 40 anos líder do país e a sua sucessão política à frente do país. Estaria, ele próprio, interessado nesse lugar.

Mugabe afastou-o e, cerca de duas semanas depois, os generais zimbabweanos tentaram tomar o poder. Mugabe passou dois dias em prisão domiciliária junto da mulher, Grace (outro nome apontada para o novo ciclo político) e conselheiros políticos afetos aos G40, uma fação política dentro do Zanu-PF muito próxima da muher do líder do Zimbabué.

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De acordo com a BBC, Mugabe teria um encontro marcado para este domingo com os generais que protagonizaram o golpe. Este sábado, milhares de cidadãos estiveram nas ruas para exigir a demissão de Mugabe — que nos últimos dias terá manifestado vontade de levar o seu mandato até ao fim, quando está prevista a realização de eleições no próximo ano; aliás, Mugabe recusou mesmo a intermediação de um sacerdote da Igreja Católica, incumbido de construir uma ponte de diálogo entre o líder político e as chefias militares revoltosas do país.

Logo no início da reunião de militantes do Zanu-PF (que Mugabe fundou e com o apoio do qual governou o país nas últimas quatro décadas) ficou claro o desfecho. De acordo com a CNN, um dos responsáveis do partido, Obert Mpofu, declarou que a reunião magna se realizava para afastar Mugabe da liderança. A declaração mereceu uma ovação e gritos de apoio.