Imunidade total para si e para a mulher Grace, e o direito a ficar com todos os seus bens privados. São estes os termos de Robert Mugabe para sair da presidência do Zimbabué e, de acordo com a CNN, que cita fonte próxima do processo, a carta de demissão já está escrita e assinada. Falta apenas enviar para o líder do Parlamento para que a resignação fique formalizada.

A resignação parece ir contra aquela que foi a mensagem que Robert Mugabe transmitiu no comunicado televisivo que fez no domingo, onde recusou falar em demissão, pedindo apenas que se voltasse à “normalidade”. Mas, de acordo com a mesma fonte, a ideia da comunicação televisiva era apenas conferir legalidade aos generais para não agirem à margem da Constituição.

“O governo permanece comprometido em melhorar as condições sociais e materiais das pessoas”, disse Mugabe no comunicado que fez na televisão, sem nunca dizer aquilo que se esperava — que ia demitir-se — apesar de confirmar que a economia do país está a passar “por um período difícil”. Perante aquelas declarações, o partido de Mugabe, o Zanu-PF, deu-lhe um prazo para sair: até ao meio-dia desta segunda-feira. Caso contrário, daria início ao processo de impeachment, isto é, de destituição do presidente.

O discurso foi visto com choque e incredulidade. “Foi embaraçoso, ele gozou com os generais”, disse uma fonte à CNN. Também Nick Mangwana, o representante do Reino Unido no ZANU-PF, disse à BBC que esperava que Robert Mugabe fosse destituído até ao final da semana e que está “muito desiludido” com o discurso que o presidente fez este domingo. Estão a lidar com “um homem muito teimoso”, referiu Mangwana, acrescentando que Mugabe é capaz de resistir até à morte.

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De acordo com a CNN, contudo, o discurso de Mugabe pode mesmo ter sido combinado com os generais. “O que o discurso mostra é que dá cobertura constitucional aos generais, porque Mugabe diz claramente que não se trata de um golpe, e essa era uma das preocupações das forças de segurança”, afirmou um consultor no Grupo de Crises Internacional, Piers Pigou, à CNN.

Deadline de Mugabe já terminou

O prazo concedido pelo partido para Robert Mugabe se demitir terminou. A União Africana do Zimbabué — Frente Patriótica (ZANU-PF, na sigla em inglês) estabeleceu como limite as 12h00 (10h00 em Lisboa), mas até ao momento Mugabe permanece como presidente.

O prazo chegou ao fim sem novidades sobre as próximas medidas apesar de estar prevista uma reunião do Parlamento, marcada para terça-feira, e que deve analisar uma possível moção de censura no sentido da destituição do presidente.

A atual crise política no Zimbabué começou quando os militares tomaram o controlo do país na noite da última terça-feira. Numa mensagem emitida na altura, os militares que ocuparam a televisão nacional, afirmaram que o movimento não é um golpe de Estado contra o presidente, mas uma “operação contra criminosos” que rodeiam Mugabe. Um dia antes, os militares tinham alertado publicamente que iriam “tomar medidas corretivas” se Mugabe continuasse a “purga contra os veteranos” do partido (ZANU-PF).

A referência à purga relaciona-se com a destituição ocorrida recentemente do vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, veterano de guerra, e que se tinha oposto ao poder cada vez mais evidente de Grace Mugabe, a mulher do presidente.

No domingo, Mnangagwa foi nomeado novo líder da ZANU-PF numa reunião do Comité Central do partido que destituiu Mugabe, a mulher e aliados mais próximos e que ocupavam altos cargos na estrutura partidária. Robert Mugabe tem 93 anos, está há 37 anos no poder e mantém-se confinado à residência oficial pelos militares que tomaram o poder na semana passada.