O contra-ataque do Benfica contra o FC Porto foi gizado ao longo de semanas. Analisando o programa “Chama Imensa” da BTV – que já existia, sendo agora “transformado” em termos de conteúdos –, percebe-se que houve uma série de guidelines a guiar tudo o resto: a criação de soundbytes (“Novo Apito Dourado” ou “Futebol Clube do Polvo”); a repetição de que “tudo o que é denunciado não foi conseguido através de qualquer crime” e que todos os dados estão na posse do Ministério Público para análise e investigação (numa alusão à alegada pirataria informática no caso dos emails); a tentativa de mostrar factos concretos para defender a tese apresentada.

A guerra do FC Porto contra o Benfica tornou-se um livro. O resumo das acusações em oito capítulos

“O Benfica não faz julgamentos, nem os julgamentos se fazem em estúdios televisivos. Só queremos saber se tudo isto é verdade ou não”, frisou José Marinho, elemento da comunicação dos encarnados. Mas, afinal, quais foram as revelações feitas pelos encarnados contra os azuis e brancos neste pontapé de saída?

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De acordo com o responsável das águias, “o verdadeiro polvo”, o FC Porto, terá variados tentáculos: a arbitragem; os media (órgãos de comunicação e comentadores); os negócios; o crime organizado. Esta segunda-feira, o programa girou apenas em torno da primeira, com um quadro a explicar a suposta estrutura que “condicionar e coage” o setor e que Pinto da Costa, presidente dos dragões, como principal elemento e número 1 desse organograma.

“Depois há Luís Gonçalves, diretor-geral do futebol do FC Porto que tem dado nas vistas pelas ameaças que faz e que se concretizam, pressionando, condicionando e coagindo elementos das equipas de arbitragem e que tem agora a decorrer uma investigação por corrupção ativa no caso de Tiago Antunes; e Joaquim Pinheiro, delegado aos jogos da equipa B que é irmão de Reinaldo Teles e familiar de Rui Pinheiro, delegado da Liga de Clubes. São as mesmas pessoas do Apito Dourado”, comentou José Marinho, antes de dividir o resto da estrutura apresentada entre o braço armado (a claque Super Dragões) e o braço civil, com dirigentes e ex-dirigentes da Associação de Futebol do Porto e da Associação de Futebol de Braga.

“No caso dos Super Dragões, tudo começou com a visita ao centro de treino dos árbitros, que foi tudo menos amigável. Demonstram a intimidação e a coação aos árbitros por diversas vias, SMS, fazendo-se notar nas áreas de residências, das famílias e das escolas dos filhos, além de partilharem informação privada de árbitros como telefones e moradas”, destacou, dando como exemplo um post (entretanto apagado) por Vítor Catão, atual dirigente do Canelas que Luís Filipe Vieira apelidou de “capanga” no episódio passado num camarote do recinto do Desp. Aves, onde escreve “Quem manda nos árbitros somos nós!”.

“Depois, há outros nomes: António Perdigão, ex-árbitro assistente de Paulo Costa que também é comentador de arbitragem no Porto Canal; Alexandre Morgado, ex-presidente do Conselho de Arbitragem da AF Porto que se demitiu após o escândalo do Canelas; Carlos Carvalho, atual presidente do Conselho de Arbitragem da AF Porto; Sérgio Pereira, vice do Conselho de Arbitragem da AF Porto que foi castigado quatro anos e sete meses no processo do Apito Dourado; e Monteiro da Silva, vice do Conselho de Arbitragem da AF Braga com quem Luís Gonçalves se costuma encontrar e que é considerado o padrinho dos árbitros Luís Ferreira e Vítor Ferreira. Até os motoristas dos árbitros são escolhidos a dedo como o ex-árbitro Fábio Nastro.

Ao longo de mais de um hora, foram apresentados alegados factos ligados a esse tal condicionamento do setor de arbitragem e dúvidas sobre alguns episódios que se terão passado, mas apenas uma acusação: a eventual influência para que o árbitro Luís Ferreira, que esteve no Benfica-Boavista e no FC Porto-Tondela da última época, não tivesse descido de divisão, ao contrário do que aconteceu com Jorge Ferreira.

“Um árbitro, a uma hora de se realizar um jogo, recebeu uma chamada da esposa que disse ‘Tocaram à campainha para perguntar como está a nossa filha e ofereceram-se para levar a nossa filha amanhã ao colégio'”, denunciou José Marinho, antes de revelar que o Benfica “também tem emails, que não foram conseguidos de forma ilícita”: “Temos um email de um alto cargo da Federação Portuguesa de Futebol para um diretor-geral da SAD do FC Porto que, se fosse divulgado, imagino o que não se diria sobre tráfico de influências… No entanto, não podemos divulgá-lo agora porque é informação que ainda não está a ser analisada”.

Outro grande tema foi a greve dos árbitros nos jogos da Taça da Liga, que entretanto foi cancelada, entre as várias dúvidas levantadas pelos encarnados. “É ou não verdade que Pinto da Costa telefonou recentemente a um árbitro internacional que era um dos principais promotores da greve da Taça da Liga porque era do interesse do FC Porto, e do Sporting, que a mesma não se realizasse? É ou não verdade que António Perdigão telefonou e encontrou-se com árbitros com o argumento de ‘Vocês têm de estar bem com o FC Porto e com o presidente, olhem o que aconteceu com o Cosme Machado e o Tiago Antunes’? É ou não verdade que Luís Gonçalves falou com Monteiro da Silva para tentar convencer os árbitros da sua associação a furarem a greve com a promessa de que não desceriam de categoria? É ou não verdade que Pinto da Costa e Luís Gonçalves ligaram a Bertino Miranda e Ricardo Duarte, membros do Conselho de Arbitragem da Federação, para tentarem desmobilizar a greve? É ou não verdade que Luís Gonçalves se dirigiu no final do FC Porto-Tondela ao árbitro Luís Ferreira dizendo de forma audível e dentro do balneário do árbitro ‘Não vais descer de divisão, és um dos nossos?'”, questionou José Marinho.

https://www.youtube.com/watch?v=jM4PYUiPPMw

Numa primeira reação, Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, colocou a capa do jogo “Desperados” no Twitter, com a publicação “Vozes de burro não chegam a Istambul… O polvo pariu um rato e até o rato é da treta”. Na newsletter Dragões Diário, desta manhã, o assunto não foi sequer referido.