O “xeque-mate” dos árbitros em relação ao clima que se vive nesta altura em torno do futebol português acabou por transformar-se numa espécie de “xeque” com tempo definido: 20 dias. Que é como quem diz, se nada mudar nesse período e se continuarem as acusações à volta dos juízes, os pedidos de dispensa são ratificados e quer a 14.ª jornada da Primeira Liga, quer a 17.ª jornada da Segunda Liga não contarão com nenhum dos 76 árbitros que estão no quadro de profissionais para a temporada 2017/18 irá estar disponível.

Num encontro em Fátima que teve o máximo secretismo (foi tornado público apenas ao final da noite), o Conselho de Arbitragem liderado por José Fontelas Gomes, a APAF comandada por Luciano Gonçalves e muitos dos árbitros pertencentes à principal categoria conseguiram atenuar um pouco a reação inicialmente prevista utilizando para isso os próprios regulamentos: como os pedidos de dispensa têm de dar entrada com uma antecedência de 20 dias antes da data em causa, “salvo se ocorrer facto imprevisto e de força maior, devidamente comprovado”, houve margem para tentar uma última posição menos radical.

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Assim, quer a próxima jornada que tem início esta sexta-feira, quer a próxima ronda onde haverá um clássico entre FC Porto e Benfica não estão nesta altura em causa, havendo totais condições para que tudo se realize com a maior das normalidades em campo e também a nível de vídeo-árbitro. Para tal, não terá sido alheio o pedido do Conselho de Arbitragem para que existisse essa derradeira janela de oportunidade, até pela proximidade com o arranque das jornadas deste fim-de-semana da Primeira e Segunda Liga.

Consideramos que é equilibrada esta posição dos árbitros, tomada de forma a defender o Conselho de Arbitragem e para bem do futebol português, garantindo a igualdade de direitos entre os clubes e todos os agentes desportivos. Ao mesmo tempo, isto dá à Liga e aos clubes profissionais de futebol tempo suficiente para agir, de forma ponderada mas firme, na defesa das competições em que participam”, diz a APAF e os árbitros

No entanto, e em paralelo com a decisão tomada por unanimidade (os únicos três árbitros entre 22 principais, 44 assistentes e dez estagiários que não tinham pedido escusa juntaram-se à decisão), a APAF e os árbitros anunciaram num comunicado conjunto uma série de exigências sem as quais a “greve” será uma inevitabilidade.

“A ausência dos árbitros nas competições profissionais será efetiva, nessa data, caso não se verifiquem os seguintes pressupostos: total ausência de insinuações, da parte de clubes e agentes desportivos, que coloquem em causa a honra e o bom nome dos árbitros (por clubes e agentes desportivos entendem-se os seus dirigentes, treinadores, jogadores e demais funcionários, os meios de comunicação próprios e aqueles que promovem nas redes sociais). O período de 20 dias com total ausência de insinuações deve abranger todas estas pessoas e meios. Para que não restem dúvidas, entendemos por insinuações: acusar os árbitros de errarem de forma propositada; acusar árbitros de prejudicarem sempre o mesmo clube; referirem-se, direta ou indiretamente, a qualquer ato não provado de corrupção; aplicar aos árbitros, de forma direta ou indireta, expressões como ‘polvo’, ‘padre’, ‘diácono’ ou ‘Apito Dourado’, entre outras utilizadas por diversos clubes já esta época”, destacou a missiva.

“Durante estes 20 dias exigimos reuniões da APAF e cinco árbitros com o presidente e a direção da Liga, com o objetivo de definir e aprovar um corpo regulamentar que reforce a punição de quem não cumpre as normas éticas e disciplinares a que estão obrigados todos os agentes, tal como sucede, por exemplo, na UEFA. Este novo corpo regulamentar de normas éticas e disciplinares deverá ser aprovado pela Direção da Liga durante este prazo, e submetido a Assembleia Geral da Liga até 31 de dezembro de 2017, passando a vigorar assim que for regulamentarmente possível”, prosseguiu. Como o Observador explicara esta manhã, a dedução de pontos a quem ultrapassasse a linha do tolerável poderia dar perda pontos, segundo este novo regulamento.

Dirigentes de clubes da I Liga acreditam no “bom senso dos árbitros”

“Os árbitros são hoje – como sempre foram – sensíveis aos apelos ao bom senso. Mas já não estão disponíveis para continuar a ser os únicos agentes do universo do futebol profissional com bom senso. Ninguém pode ficar com dúvidas: se muita coisa não mudar nos próximos 20 dias, os árbitros não continuarão disponíveis para aceitar que a sua honra e bom nome continuem a ser sistematicamente postos em causa por quem tem por obrigação defender a integridade das competições profissionais. Queremos que seja promovida uma reflexão urgente para bem do futebol português, envolvendo todos os agentes desportivos e demais parceiros, como as associações de classe dos dirigentes, treinadores, jogadores e todas as que fazem parte da indústria do futebol”, destacou.

“As condições de serenidade, respeito e segurança, que são absolutamente essenciais para que os árbitros entrem em campo, estão em crise. Algo tem de ser feito de imediato pelo futebol! Nesse sentido, a APAF e os árbitros resolveram criar um gabinete jurídico específico, destinado a acompanhar e analisar todas as declarações públicas nos diversos órgãos de Comunicação Social, de forma a responsabilizar civil e criminalmente toda e qualquer pessoa que coloque em causa a honra e o bom nome de qualquer agente da arbitragem”, concluiu, antes de anunciar a marcação de reuniões com a direção da Liga.