O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apresentou, em Lisboa, o mais recente livro do seu homólogo cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, mostrando-se “traumatizado” por falar na cerimónia após Arménio Vieira, Prémio Camões de 2009.

Num Grémio Literário cheio de convidados, o chefe de Estado brincou com o facto de, momentos antes, o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira ter apresentado, no seu tradicional estilo, o livro “O Albergue Espanhol”, lançado quinta-feira em Portugal pela Editora Rosa de Porcelana, a mesma que o apresentou em julho em Cabo Verde.

“Confesso que me sinto pouco à-vontade no papel de introdutor a uma obra que suporia a preparação de um crítico literário ou pela menos a inventiva na descoberta dos labirintos insondáveis da criatividade do auto. Criatividade feita de leituras, cogitações, sonhos, experiência de vida, humores, que só uma formação adequada permitiria descortinar”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente continuou a brincadeira, afirmando que, duas horas antes, ao fazer o elogio académico no doutoramento Honoris Causa outorgado pela Universidade de Lisboa a Jorge Carlos Fonseca, se sentiu “seguro” ao fazê-lo à carreira do seu antigo colega de faculdade “como estadista e, sobretudo, como homem das leis”.

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“Pior ainda, devo juntar a minha voz à de um Prémio Camões 2009 [Arménio Vieira], o que é sempre traumatizante para quem usa da palavra a seguir”, frisou, provocando sorrisos entre a plateia, onde se encontrava, entre outros, o chefe da diplomacia cabo-verdiana, Luís Filipe Tavares, e o embaixador de Cabo Verde em Lisboa, Eurico Monteiro.

Sobre a obra de Jorge Carlos Fonseca, que se encontra desde quarta-feira numa visita de Estado a Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou os dois únicos livros de ficção escritos pelo atual Presidente cabo-verdiano – entre mais de dezena e meia de outros de cariz jurídico (Direito Penal, Processual Penal e Constitucional).

Com “O Albergue Espanhol”, sublinhou o Presidente português, Jorge Carlos Fonseca “reata um fio suspenso há quase 20 anos”, depois de “O Silêncio Acusado de Alta Traição e de Incitamento ao Mau Hálito” (Spleen Editores, 1995) e de “Porcos em Delírio (Artiletra, 1998), num género que é “difícil” de definir.

“Não sei se se trata de um Presidente/escritor ou de um escritor/Presidente, mas o livro é escrito por um projetista do romance”, sublinhou o chefe de Estado português sobre “O Albergue Espanhol”, que Jorge Carlos Fonseca, numa entrevista à Lusa, em julho, em Cabo Verde, definiu como um “romance que era um poema escrito em guardanapos de papel”, com “textos híbridos” entre a poesia e a prosa”.

Quinta-feira, ao usar da palavra, Jorge Carlos Fonseca limitou-se a esclarecer todas estas dúvidas com uma simples frase: “[o livro] é um longo poema utilizando técnicas diferenciadas”.

Político, jurisconsulto, académico e escritor cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca nasceu em 1950, é membro da Associação dos Escritores Cabo-verdianos, da Academia Cabo-verdiana de Letras e da Fundação Direito e Justiça. Foi militante das causas da libertação nacional e da democracia cabo-verdianas.

Atualmente, é o Presidente da República de Cabo Verde, eleito em 2011 e reeleito em 2016.