“Coco”

“A Viagem de Arlo” era apenas simpático, “À Procura de Dory” não desmerecia do primeiro filme, “Carros 3” via-se agradavelmente. Mas é com “Coco” que a Pixar volta a puxar a sério pelos galões e a fazer um filme à altura dos seus pergaminhos de excelência técnica, estética e narrativa na animação. E tudo graças ao México. Os realizadores Lee Unkrich e Adrian Molina, e toda a equipa da fita, mergulharam fundo nos costumes e tradições da cultura popular mexicana para rodar esta animação digital sobre Miguel, um menino que quer ser músico mas em cuja família, que se dedica a fazer sapatos, a música é rigorosamente proibida há três gerações. A acção passa-se quase toda durante o Dia dos Mortos, e em plena Terra dos Mortos mexicana, figurada como uma exuberante megalópole “art déco” dos defuntos (até Frida Kahlo anda por lá), onde Miguel tem que correr contra o tempo para realizar o seu sonho e desvendar um segredo da história familiar. “Coco” é uma deslumbrante, original e divertidíssima fantasia musical e sobrenatural, que põe em destaque os valores do amor à família, do respeito pelas tradições e da veneração da memória daqueles que nos já deixaram.

“O Espírito da Festa”

Realizado pela dupla Olivier Nakache/Eric Toledano, autores de “Amigos Improváveis”, “O Espírito da Festa” tem Jean-Pierre Bacri no papel de Max, um organizador de festas que está a coordenar um sumptuoso casamento num castelo do século XVII e a ter várias dores de cabeça com os membros da sua equipa, tão dedicados como incompetentes. A mulher deixou-o, a amante, que trabalha com ele, faz-lhe ciúmes com um empregado mais novo, a assessora perde a cabeça por tudo e por nada, o DJ ficou doente e foi substituído por um colega egocêntrico e cabotino, o noivo é um chato picuinhas e convencido e o cunhado de Max, um professor desempregado e depressivo, obcecado por ortografia e gramática, descobre que a noiva é uma antiga colega pela qual tinha um fraquinho e atira-se a ela. E não ficamos por aqui. Comédia coral muito acima da média do cinema francês recente, “O Espírito da Festa” apresenta-se cono um triunfo de precisão de escrita, realização, interpretação e de orquestração do coletivo, na qual está implícita uma analogia com a rodagem de um filme. Entretenimento de primeira água, saborosamente francês do princípio ao fim.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Só para Bravos”

À primeira vista, “Só para Bravos” é apenas um filme-catástrofe sobre incêndios. Mas convém ver melhor, porque esta fita de Joseph Kosinski que adapta um artigo publicado em 2007 na revista “GQ”, é na verdade uma sincera, sólida e competentíssima homenagem a um grupo de bombeiros profissionais do Arizona, os Granite Mountain Hotshots, que em 2013 participaram heroicamente no combate a um enorme e mortífero fogo florestal nos EUA. Esta recriação dramatizada tem actores como os veteranos Josh Brolin e Jeff Bridges, e jovens como Miles Teller, contando à maneira clássica, e com um realismo que não cede à espectacularidade exibicionista ou ao sentimentalismo meloso, uma história de dedicação e sacrifício colectivo, no seio de um grupo de homens que se sentiam, comportavam, entreajudavam e funcionavam em campo como se fossem uma família. Também com Jennifer Connelly no papel da mulher da personagem de Josh Brolin.

“O Quadrado”

Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes e realizado pelo sueco Ruben Östlund (“Play”, “Force Majeure”), “O Quadrado” tem o título de uma figura geométrica perfeita e de uma obra de arte conceptual com a mesma forma e nome, cuja autora pretende incutir boas intenções humanitárias e comportamentos cívicos nas pessoas; e um protagonista, Christian (Claes Bang), curador de um museu de arte contemporânea de Estocolmo, que começa o filme num poleiro de elite, para duas horas depois estar com a vida virada do avesso. Expondo o abismo que há entre as boas intenções humanitárias e utópicas e as fragilidades e fraquezas do ser humano, Östlund satiriza ainda as mistificações e os ridículos da arte contemporânea e a miopia dos ignorantes obscenamente ricos que a subsidiam, os absurdos do politicamente correcto ou a tensão constante entre o irracional e o social em que vivemos. “O Quadrado” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.