“Foi possível identificar vestígios do homem de Neandertal, que aparece antes da Arte do Côa, a qual chega até aos 35 mil anos. Encontrámos ferramentas, estruturas como pequenas fogueiras entre outros vestígios, que os homens pré-históricos deixaram neste sítio, o que o torna único no interior peninsular”, explicou, esta quinta-feira, à agência Lusa, o arqueólogo Thierry Aubry, um dos arqueólogos envolvidos na investigação.

Os vestígios arqueológicos com mais de 70 mil anos foram encontrados em escavações feitas até aos três metros de profundidade, no sítio da Cardina, no concelho de Foz Côa, distrito da Guarda, e a comparação dos objetos provenientes das diferentes camadas tem permitido novas observações.

“Foi revelado um pouco do modo de vida e do quotidiano dos homens pré-históricos que viveram há cerca de 70 mil anos, no Vale do Côa, através da comparação dos diversos níveis das escavações efetuadas “, indicou o arqueólogo.

As escavações foram feitas numa das margens do rio Côa, a jusante dos sítios arqueológicos da Quinta da Barca e da Penascosa, locais emblemáticos da arte rupestre do Vale do Côa.

“Os elementos recolhidos mostram que o homem de Neandertal habitou durante anos o Vale do Côa, o que permite reconstituir a evolução climática e ambiental do território ao longo de um período de tempo que ultrapassa os 70 mil anos, até aos dias de hoje”, frisou Thierry Aubry.

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Os arqueólogos envolvidos nas escavações garantem que ainda não colocaram todo o potencial do sítio arqueológico a descoberto, o que pode alargar a cronologia da ocupação humana no Côa.

“Ainda não chegámos à rocha e ainda temos níveis de sedimentos para escavar. Quando isso acontecer, vamos descobrir o porquê da escolha do território do Côa pelos homens pré-históricos para viverem”, explicou.

Para os investigadores, a variedade ecológica do território do Vale do Côa poderá ser uma das razões para concentração destes homens pré-históricos que eram, essencialmente, caçadores/recolectores.

Por seu lado, o presidente da Fundação Côa Parque, Bruno Navarro, disse que estes achados arqueológicos vêm dar um alento redobrado a todos os que se têm empenhado em fazer do território do Vale do Côa um verdadeiro laboratório científico, para todas as áreas do conhecimento e, sobretudo, para a arqueologia portuguesa, que aqui tem a sua “joia da coroa”.

“A Fundação está de portas abertas a todos os que queiram acrescentar conhecimento e valor a este território. Temos uma equipa de investigação arqueológica que tem desenvolvido um trabalho de referência, amplamente divulgado nos mais importantes fóruns nacionais e internacionais”, concluiu o responsável.