O Presidente de Cabo Verde elogiou esta sexta-feira a integração da comunidade cabo-verdiana em Portugal, no decorrer de uma visita ao bairro da Cova da Moura, arredores de Lisboa, “dominada” por outro chefe de Estado: Marcelo Rebelo de Sousa.

“No essencial a integração é boa, mas em bairros como este há pessoas que têm problemas, pessoas idosas que me falam na necessidade de apoio à velhice, cuidados médicos, pessoas que falam de ter uma pensão de velhice, e um outro caso ainda de problemas de habitação”, disse o Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, no final de uma caminhada pelo bairro.

Nas ruas apertadas da Cova da Moura, Jorge Carlos Fonseca, distribuiu afeto pelos moradores originários ou não de Cabo Verde, perguntando – a maioria das vezes em crioulo – pelos seus problemas, agruras e expectativas.

“Há aqui moradores que vêm do bairro de Santa Filomena, que foram desalojados e estão aqui. Pessoas que pagam 200 euros de renda e têm um rendimento de trezentos euros. São pequenos problemas de uma integração que, no essencial, é boa”, avaliou o chefe de Estado cabo-verdiano.

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Jorge Carlos Fonseca referia-se, em concreto, ao caso de Dulcilena Fernandes, uma cabo-verdiana há 18 anos em Portugal.

“Em junho tiraram-me da minha casa em Santa Filomena, que era a única coisa preciosa que eu tinha. (…) Trabalhei desde o ano 2000 num restaurante – desde as 08h00 da manhã até às 11h00 da noite. Sacrifiquei-me, estive dez anos sem ver os meus filhos”, contou à Lusa a moradora, que veio cumprimentar “o seu Presidente” envolvida numa enorme bandeira de Cabo Verde.

Dulcilena Fernandes, conhecida na Cova e em Cabo Verde apenas por Filó, disse que trouxe a bandeira especialmente para cumprimentar Jorge Carlos Fonseca.

“Eu recebi ele com a minha bandeira, símbolo da minha terra, que eu não troco nem por diamantes”, disse a idosa cabo-verdiana, que se vê forçada a sobreviver com 300 euros de rendimento mensal.

“Tenho uma casinha, com dois quartinhos. Pago 200 euros de renda, pago água e luz e não fico com nada. Vivo um dia de cada vez”, disse.

Numa das outras pontas do bairro, um amigo de longa data de Jorge Carlos Fonseca, também ele chefe de Estado, mas de Portugal, fazia um trajeto a pé, ouvindo problemas semelhantes, de outros moradores.

“Marcelo, olha para a Cova da Moura. Aqui não há só malandro, há gente de bom coração”, ouviu o Presidente português de uma moradora à janela. Outros moradores pediam, simplesmente, “ajuda”, ao que Marcelo respondeu: “Estamos juntos”.

Antigo colega de faculdade de Jorge Carlos Fonseca na Universidade de Lisboa – onde ambos cursaram e lecionaram Direito – Marcelo Rebelo de Sousa teve uma receção tão ou mais calorosa da comunidade cabo-verdiana da Cova da Moura, com gritos de incentivo e as habituais ‘selfies’ com o Presidente.

Quando os dois presidentes se encontraram, pouco antes de um almoço de cachupa num restaurante do bairro, houve lugar ao abraço público que tem caracterizado os muitos encontros entre ambos no decorrer da visita de Estado de Jorge Carlos Fonseca a Portugal. Entre os dois, garantiram, não há ciúmes pela popularidade um do outro, nem dúvidas sobre quem distribuiu mais beijos entre a população.

“[Ele] Não só recebeu, como dá mais beijos do que eu, o que é uma concorrência desleal. Felizmente que ele não tem a nacionalidade portuguesa. Se tivesse a dupla nacionalidade seria um concorrente perigoso”, disse Marcelo, com boa disposição.