É possível que tenha levantado um sobrolho ao ver que o vizinho da frente já pendurou um pai natal trepador na varanda, ou que já se tenha queixado porque já se andava a falar do Natal quando ainda nem havia castanhas assadas à venda na rua. No entanto, se pensar bem, é possível que uma dúvida tenha ficado plantada lá no inconsciente: será que já está na altura de montar a árvore de Natal?

Não há regras rígidas, claro, e cada um sabe de si. Aliás, se for uma daquelas pessoas que se entusiasma com as decorações de Natal e já tem a casa toda enfeitada, tem aqui boas notícias: há quem diga que as pessoas que tratam disso cedo são mais felizes. “Vivemos rodeados por stress e ansiedade e é bom as que as pessoas procurem coisas que as façam felizes, e as decorações de Natal são uma forma de evocar sentimentos fortes associados à infância”, explicou o psicólogo Steve Mckeown ao jornal Unilad. No mesmo artigo, apresenta-se um estudo que sugere que exibir cedo as decorações é uma forma de aproximação e de criar empatia com os vizinhos e com os outros.

A árvore de Natal à chegada à Casa Branca (BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images)

Ainda assim, e já que toda a gente sabe sempre qual é a data certa para desmontar a árvore (6 de Janeiro, Dia de Reis) mesmo que não a cumpra, é possível encontrar tradições e dicas que sirvam de bússola a quem não quer correr o risco de se precipitar: sejam elas católicas, relacionadas com a biologia do pinheiro ou simplesmente de natureza estética e decorativa.

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A etiqueta católica (e outras interferências)

O Natal é quando o homem quiser, mas aquilo que o homem quer tem sempre as suas condicionantes históricas e culturais. Na altura de montar a árvore de Natal, muitas dessas condicionantes – consciente ou inconscientemente – estão relacionadas com a etiqueta natalícia religiosa.

A árvore de Natal é, à sua maneira, a mais brava resistente da celebração pagã do solstício de Inverno, o primeiro motivo a levar as pessoas a enfeitar árvores por esta altura do ano (sem as carregar para perto da lareira da sala, claro), mas isso não significa que não tenha sido absorvida pelas tradições católicas.

Nessa perspectiva, quem quiser ser absolutamente rigoroso só pode montar a árvore de Natal na véspera do dia de Natal. A celebração oficial do Natal (nascimento de Cristo) arranca com a Missa do Galo (na noite de 24 de Dezembro), e as decorações servem para assinalar esse momento. Aliás, no tempo em que esta regra era inquestionável as árvores ainda eram decoradas com velas, um procedimento que não é prático – nem seguro – de manter durante muito tempo.

Hoje em dia, porém, também a igreja católica prolongou a intensidade das festividades, e a árvore de Natal pode acompanhar todo o período do advento – ou seja, os quatro domingos que antecedem o dia de Natal. Contas feitas, este ano já pode marcar a data certa na agenda – o advento arranca a 3 de Dezembro. Tenha a árvore a postos para esse dia.

O Natal e a árvore na Austrália (PETER PARKS/AFP/Getty Images)

Para aumentar mais um bocado a confusão, há também outras tradições que se vão juntando à tradição, como por exemplo o Dia de Acção de Graças celebrado nos EUA. O efeito da importância dessa data faz com que culturalmente os americanos montem a árvore de Natal na sexta-feira a seguir a essa data, que é sempre a uma quinta-feira, e que este ano calhou a 23 de Novembro. É por esse motivo que a primeira-dama Melania Trump já conduziu a cerimónia de receber a árvore de Natal oficial da Casa Branca (como relata a Vogue) e que já anda a circular nas redes sociais uma nova moda vinda do outro lado do Atlântico – as fashion selfies em frente à árvore, já partilhadas por celebridades como Beyoncé, Mariah Carey ou Drake.

A árvore da vizinha dura mais do que a minha?

Há anos em que toda a gente tem árvores brancas, outros em que se encontram tons mais ousados, e alturas em que todas as decorações pendem para os dourados. Já passámos também pela fase das árvores com luzes LED incorporadas. E, segundo rezam as crónicas, o que está agora mesmo na moda são as árvores de Natal invertidas (penduradas de pernas para o ar) – mas tudo isso são contas de outro rosário, aquele que se começa a desenrolar depois de estar pelo menos resolvida esta questão premente do dia em que se monta a árvore escolhida, seja ela qual for.

Nestas contas mais concretas que aqui se estão a fazer, há contudo diferenças nos calendários que têm sido influenciadas por uma velha contenda: árvore natural ou árvore artificial? Razões ecológicas e económicas à parte, continua a haver adeptos de ambos as modalidades natalícias, e há quem diga que a era das árvores artificiais tem alguma culpa na antecipação cada vez maior do período em que começam a surgir as decorações sazonais.

A partir do momento em que se começa a optar pela árvore artificial, deixa de ser necessário ter em conta as exigências de um pinheiro real – tenham elas a ver com o ciclo de vida da árvore (no caso de quem a corta) ou com a manutenção da casa (no caso de quem tem um pinheiro envasado, que perde caruma e não pode ficar muito perto de fontes de calor). Aliás, só quem nunca se viu perante uma prateleira de árvores artificiais já quase vazia num supermercado é que não sabe que, ao seguir a via da árvore que vem dentro de uma caixa com “troncos” de arame, convém mesmo tratar disso cedo.

Alemães corajosos no Natal (BERND WUSTNECK/AFP/Getty Images)

“O pinheiro envasado não apresenta qualquer questão temporal. Aliás, basta que seja regado duas vezes durante o período típico do Natal. Já o pinheiro de corte dura pelo menos um mês”, explica ao Observador Tiago Patrício Rodrigues, designer de interiores e responsável pela Pura Cal. Nesse caso, os especialistas apresentam uma data de compromisso entre possíveis tradições católicas natalícias e questões práticas relacionadas com pinheiros – o Domingo da Alegria, ou seja, o terceiro domingo do Advento. Aí está mais uma data que pode anotar: 13 de Dezembro. A partir daqui é garantido que qualquer árvore aguenta a época completa em força, ao contrário daqueles familiares que à hora de almoço de dia 24 de Dezembro já atingiram o pico das festividades.

Fazer render a decoração…. e as expectativas

Para que isto da árvore de Natal não comece a parecer um exercício de contabilidade, e estabelecidos o calendário do advento (há aqueles que incluem um chocolate por cada dia e tornam a contagem mais agradável) e até o relógio biológico da grande protagonista da festa, há que deixar algum espaço para a estética e para a diversão. Não é que lá fora esteja a nevar, como dizem muitas das músicas da época, mas a época do Natal é boa para estar dentro de casa, sobretudo quando o interior da casa até pode estar mais enfeitado do que o costume.

“Na minha casa só se monta a árvore no dia 24 de Dezembro, quando já se juntou a família toda. Mas isso é uma escolha muito pessoal, que tem a ver com os nossos hábitos. E noto que muitas famílias têm as suas datas simbólicas para fazer a árvore, o que faz sentido e é muito bom”, conta Tiago Patrício Rodrigues.

É, aliás, perfeitamente normal que as pessoas queiram tratar disso cedo, para aproveitar que a casa fica mais bonita: “Montar a árvore, e o resto da decoração de Natal, é um investimento de tempo e dinheiro, e nada deve impedir as pessoas de aproveitarem isso durante mais tempo.”

Numa vertente mais comercial, pensando na optimização da época festiva para as lojas e negócios, “o ideal é tratar disso logo nas duas últimas semanas de Novembro. Afinal, isto é sazonal, dura cerca de um mês e uma semana, e nada como aproveitar esse estímulo o melhor possível para ajudar nas vendas”.

Além da beleza, há ainda quem faça contas a expectativas: as crianças, por exemplo, vão insistir para ter a árvore feita o mais cedo possível. É natural que isso aconteça, sobretudo quando as ruas das cidades já estão todas enfeitadas. Não faz mal ceder a essa vontade, até porque há alguns truques para prolongar o efeito nostálgico e de felicidade da montagem da árvore: marcar uma data diferente para o dia em que se acedem as luzes da árvore pela primeira vez, combinar uma montagem progressiva de diferentes elementos da decoração do pinheiro, ou deixar a estrela do topo para pôr apenas na véspera de Natal, quando estiverem todos juntos. Quem sabe se não está aqui o início de novas tradições familiares feitas à medida?