Ninguém discute o génio de Elon Musk, mas evitar os veículos pré-produção, algo que é tradicional na indústria automóvel e transversal a todas as marcas, foi uma decisão errada e que lhe está a custar milhões.

O erro reside na decisão de avançar directamente para a produção Beta (termo não utilizado até aqui nesta indústria, mas sim nas versões iniciais dos programas de software) de veículos Model 3, sem passar pelos de pré-produção, que depois vão parar à sucata. É certo que a Apple não faz pré-produção dos seus telemóveis e muito menos a Windows ou a Google, em que a maioria das peças vêm de fornecedores que, eles sim, têm de lidar com o pré-fabrico em série. Mas um automóvel é diferente: tem milhares de peças e, para muitas delas, especialmente as da carroçaria, não há fornecedor para quem passar a responsabilidade de assegurar o material necessário, nas quantidades e com as tolerâncias especificadas no projecto.

Elon Musk avançou directamente a produção Beta. Depois de saírem da linha, os Model 3 são afinados e terminados à mão até estarem perfeitos – ou melhor, decentes – antes de serem entregues a alguém que esteja consciente que está a receber um veículo com um standard de qualidade inferior. A Tesla optou por vendê-los aos empregados, obviamente por um valor inferior, mas ainda assim bem superior aos pré-série, que na maior parte das vezes são vendidos a peso para destruição.

Sob a pressão de produzir numa linha que foi concebida para um máximo de 500.000 Model 3 por ano (10.000/semana), em vez de, como acontecia até aqui com os Model S e X, que em conjunto totalizavam cerca de 80.000/ano, a Tesla começou a encalhar em diversos estrangulamentos. A começar na fabricação dos packs de baterias, na Gigafactory do Nevada. Ali, a Panasonic fornece as pequenas baterias (cilíndricas e pouco maiores do que uma AA), mas é a Tesla que as agrupa em módulos e depois os junta para criar os packs finais, que podem ter 50 kWh se destinados ao mais acessível dos Model 3, ou 100 kWh para o mais possante dos S ou X.

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Várias coisas correram mal, mas o fabricante afirma agora que, depois de inúmeras alterações nos processos de fabricação e reprogramação dos robôs, dentro das próximas semanas a linha de produção vai ficar ainda mais rápida do que o originalmente programado. O que terá que ser confirmado ainda durante Dezembro.

Sabe-se ainda que foi decidido terminar com a produção Beta dos Model 3, com a Tesla a passar agora à produção em série, ainda que a um ritmo reduzido. As 5.000 unidades por semana, que eram o objectivo para final de Dezembro, estão agora previstas para Março de 2018 – um atraso de três meses que até será um alívio, se não passar daí.

O fabricante americano divulgou, entretanto, um vídeo da linha de produção do seu modelo mais acessível, na zona da soldadura, e o ritmo parece baixo e compatível com as 1.000 unidades/semana que a marca afirma já ter conseguido na estampagem, soldadura, pintura, montagem de interiores e de motores.

Curiosamente, a Tesla garante que o número de reservas para o Model 3 continuou a crescer no último trimestre do ano, o que significa que o construtor tem bem mais de 500.000 clientes à espera do seu Tesla proposto a partir de 35.000$, pelo qual já pagaram um total de 2,5 mil milhões de dólares, como sinal, mas que estão prontos a pagar o restante, ou seja, sete vezes mais, para receber o veículo.

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E já estaciona sozinho

Ao que parece, nem só as limitações de produção estão a conter a fabricação do Model 3. Depois de, em Outubro, ter protagonizado uma exibição menos boa da capacidade do seu veículo mais acessível estacionar sozinho, tardando demasiado em realizar as manobras, a Tesla vem agora tranquilizar os clientes do modelo ao revelar um novo vídeo, onde tudo corre bem e depressa.

O novo vídeo refere-se apenas ao estacionamento em paralelo, pelo que é de esperar nos próximos dias que a marca revele também o potencial de realizar, rapidamente e de forma eficaz, o parqueamento na perpendicular e em espinha. O Autopark, assim se chama o sistema da Tesla que arruma o carro sem intervenção do condutor, foi introduzido há cerca de um mês entre os dispositivos de série do Model 3, mas não revelava um funcionamento convincente, inferior pois ao que já era conhecido nos Model S e X. Agora, depois de recalibrado, tudo parece funcionar na perfeição. De tal forma a marca está confiante, que não teve problemas em inscrever o Model 3 no concurso Car of The Year, organizado pela Motor Trend, onde além de todos os novos modelos convencionais, com motor de combustão, irá defrontar uma série de híbridos, híbridos plug-in e veículos 100% eléctricos, como é o caso dos novos Nissan Leaf, Hyundai Ioniq EV e Smart Fortwo ED.