O Papa Francisco apelou esta terça-feira em Myanmar à “justiça e respeito pelos direitos humanos” de “todos aqueles que chamam casa a esta terra”, num discurso lado a lado com Aung San Suu Kyi, atual líder do país. “A paz só é possível com o respeito pelos direitos de todos”, sublinhou o Papa, sem referir, contudo, o termo Rohingya.

A referência a esta minoria étnica foi, por isso, implícita, com o Papa a destacar que é necessária “uma paz fundada no respeito pela dignidade e direitos de todos os membros da sociedade, pelo respeito de todos os grupos étnicos e da sua identidade, pelo estado de direito e por uma ordem democrática que permita a cada indivíduo e a cada grupo, sem excluir ninguém que ofereça uma contribuição legítima para o bem comum”.

A palavra proibida de Francisco no país das minorias

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Este discurso, ao lado da líder do governo da antiga Birmânia, era o momento mais esperado da visita do Papa Francisco ao país. Num país de maioria budista que tem sido acusado de levar a cabo uma limpeza étnica, reprimindo o povo Rohingya, uma minoria muçulmana que tem fugido em massa para o Bangladesh, o líder da Igreja católica foi aconselhado a nunca se referir ao termo Rohingya.

Papa Francisco volta a exigir respeito pelos direitos da minoria rohingya

Apesar de Francisco já ter utilizado a palavra, quando denunciou “tristes notícias sobre a perseguição da minoria religiosa dos nossos irmãos Rohingya”. Contudo, foi aconselhado a não utilizar o termo, com medo de que possa gerar uma nova onda de violência contra aquela minoria muçulmana no país.

Aung San Suu Kyi, de “Nelson Mandela da Ásia” a cúmplice de limpeza étnica?

Aung San Suu Kyi, que foi durante grande parte da sua vida a mais célebre opositora à ditadura militar da antiga Birmânia, foi distinguida em 1991 com o Nobel da Paz. Contudo, tem estado sob fogo durante a recente crise com os refugiados Rohingya, ao ser considerada cúmplice da limpeza étnica por não se pronunciar ativamente contra a opressão da minoria religiosa. A líder do país recusa sempre utilizar o termo Rohingya, apesar de condenar as violações dos direitos humanos.

Quem são os rohingyas e por que fogem de Myanmar?

Mais de 620.000 membros da comunidade fugiram para o vizinho Bangladesh desde agosto, após uma ofensiva do exército birmanês em resposta a ataques de rebeldes rohingya. O Estado birmanês, um país mais de 90% budista, não reconhece esta minoria e impõe múltiplas restrições aos ‘rohingyas’, nomeadamente a liberdade de movimentos.