O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, considerou esta quarta-feira que o “único irritante” nas relações com Angola tem a ver com uma questão “da exclusiva responsabilidade” da justiça portuguesa, que não pode influenciar a política externa.

“Ficou claro que o único irritante que existe nas nossas relações é algo que transcende o Presidente da República de Angola e o primeiro-ministro de Portugal, transcende o poder político, e tem a ver com um tema da exclusiva responsabilidade das autoridades judiciárias portuguesas”, vincou António Costa.

Em declarações aos jornalistas em Abidjan, à margem da cimeira entre a União Europeia e a União Africana, que decorre até quinta-feira, Costa sublinhou que a questão prende-se “exclusivamente com matérias judiciais” e argumentou que “não podem nem devem condicionar a política externa portuguesa”.

Questionado sobre se Angola também terá esse entendimento, o primeiro-ministro respondeu que sim.

“Sim, muito claramente, isso foi reafirmado [no encontro que manteve com o Presidente de Angola, esta manhã]. Percebo as razões que Angola coloca, mas é hoje muito evidente que há uma distinção clara entre o que é o entendimento das autoridades políticas portuguesas e aquilo que é matéria das autoridades judiciais”, salientou o chefe do Governo português.

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António Costa considerou o encontro bilateral desta manhã com João Lourenço como “muitíssimo bom, de acordo com a excelência das relações políticas que Angola e Portugal mantêm”.

O chefe do Governo disse que os dois países estão a ultrapassar as dificuldades económicas recentes, e que isso “permite encarar com otimismo e confiança o crescimento das relações económicas nos próximos anos” com o principal parceiro comercial português na África subsaariana.

As declarações de António Costa surgem depois de o ministro das Relações Exteriores de Angola ter avisado hoje que enquanto o caso que envolve a Justiça portuguesa e Manuel Vicente não tiver um desfecho, Angola “não se moverá nas ações de cooperação com Portugal”.

“Enquanto o caso não tiver um desfecho, o Estado angolano não se moverá nas ações, que todos precisamos, de colaboração com Portugal”, disse Manuel Augusto, em entrevista à Lusa e à rádio francesa RF1.

“Este já não é um caso individual de justiça, é um caso do Estado angolano e enquanto não tiver um desfecho, o Estado angolano não se moverá nas ações de cooperação com Portugal, e competirá às autoridades do Estado português verem se vale a pena esta guerra”, vincou o diplomata.

“Não fomos nós que a escolhemos, porque há elementos para tornar este caso num caso normal de justiça, mas a nossa posição é clara: enquanto não houver um desfecho não há cooperação nem encontros a alto nível, nem nenhum passo da nossa parte”, acrescentou Manuel Augusto, que falou aos jornalistas já depois de um encontro bilateral entre o Presidente de Angola e o primeiro-ministro português.