A chanceler alemã, Angela Merkel, reúne-se esta quinta-feira à noite com o presidente dos social-democratas para tentar pôr termo à crise política na Alemanha, num contexto agravado pela controvérsia da aprovação, suportada pelo ministro alemão, do uso do herbicida glifosato.

O encontro entre Merkel e Martin Schulz, que decorrerá no gabinete do chefe de Estado, Frank-Walter Steinmeier, mediador desta crise, tem início previsto às 20:00 (19:00 de Lisboa) e visa sondar a possibilidade de uma aliança para formar um novo Governo.

“Para Merkel, é uma luta pela sua sobrevivência política que começa”, considerou a revista alemã Der Spiegel, acrescentando que “Merkel deverá fazer tudo para firmar esta aliança, a única suscetível de lhe assegura um poder estável”.

Desde há mais de um mês, o país é dirigido por um executivo encarregado de gerir os assuntos correntes, com a chanceler conservadora como líder, depois das eleições legislativas de setembro, que não permitiram obter uma maioria evidente e, sem seguida, do fracasso de uma tentativa de formação de um Governo de coligação a quatro: os democratas-cristãos de Merkel (CDU), os seus aliados da Baviera CSD, os Liberais e os Ecologistas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aritmeticamente, só uma aliança como a existente desde 2013 entre conservadores e social-democratas do SPD pode ainda permitir alcançar uma maioria no parlamento.

Após ter optado por manter-se na oposição, o SPD aceitou negociar, por ausência de alternativa e sob a pressão do Presidente alemão, ele mesmo social-democrata.

De acordo com uma sondagem divulgada esta quinta-feira, a maioria dos alemães (61%) é a favor do início de negociações sobre a matéria, já que, se assim não for, não restará outra solução a não ser novas eleições, sem qualquer garantia de que o equilíbrio político se altere.

A reunião desta quinta-feira à noite, em que participará igualmente o líder da CSU, Horst Seehofer, deverá, em princípio, colocar as negociações no bom caminho.

Martin Schulz disse esperar que se decida realizar mais conversações a seguir, nos próximos dias e semanas.

“E veremos então em que processo nos envolveremos”, declarou, esta semana.

O SPD recua perante a ideia de manter a coligação dos dois grandes partidos adversários no plano nacional, correndo o risco de, com este preconceito, alimentar os extremos.

Esta aliança já dirigiu a Alemanha duas vezes desde 2005.

Desta vez, o SPD quer também debater alternativas, como um apoio em alguns ‘dossiers’ a um Governo minoritário só dos conservadores da chanceler, ou da CDU aliada aos Ecologistas.

“É possível que o país chegue a uma coligação que ainda não conhecemos na nossa história” do pós-guerra, comentou Schulz.

Angela Merkel excluiu até agora a hipótese de um Governo minoritário, invocando a necessidade de estabilidade no país.

“Há na Europa grandes expectativas em relação a questões urgentes”, argumentou a chanceler.

Mas alguns meios de comunicação social alemães afirmam saber que ela preferirá essa fórmula a novas eleições em caso de fracasso das negociações com os social-democratas.

Estas últimas não arrancam sob os melhores auspícios: os social-democratas não perdoam que o atual ministro da Agricultura, um conservador da CSU próximo dos meios agrícolas, tenha votado em Bruxelas a favor da continuação da utilização do polémico herbicida glifosato, sem concertação com o resto do seu Governo.

Essa atitude “vai, sem dúvida, pesar nas negociações” com o SPD, admitiu um responsável da CDU, Carsten Linemann.

“Ou a senhora Merkel não controla o seu Governo, ou quis infligir um golpe ao SPD”, disse esta quinta-feira um responsável social-democrata, Ralf Stegner.

Estas conversações também vão decorrer entre três líderes partidários enfraquecidos após a vitória, com um resultado historicamente baixo, dos conservadores nas legislativas e a amarga derrota dos social-democratas, num contexto de subida da extrema-direita.

Merkel continua a ser alvo de críticas internas devido à sua política migratória; Horst Seehofer enfrentará na CSU uma revolta interna de rivais que querem o seu lugar; e Martin Schulz dá a impressão de ser um Presidente adiado.