O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lembrou esta quinta-feira Belmiro de Azevedo, que morreu na quarta-feira, como um “homem singular e muito marcante na vida portuguesa” e um empresário que olhava sempre “largo e longe”.

“Estou aqui como pessoa e como Presidente da República, mas em particular como Presidente da República, porque foi um homem singular, foi muito marcante na vida portuguesa, praticamente durante toda a democracia, foram mais de 40 anos em que afirmou as suas qualidades invulgares de liderança, de determinação e de visão de futuro” disse aos jornalistas, esta tarde, no Porto, junto à igreja de Cristo Rei, onde prestou homenagem ao empresário.

O chefe de Estado salientou que Belmiro de Azevedo olhava sempre “largo e longe”, não se concentrando apenas na economia, mas empenhando-se na cultura, na educação, na solidariedade social, na comunicação social e na formação das pessoas.

“E, depois, com um estilo muito corajoso, não só fisicamente, mas psiquicamente corajoso, e este somatório de qualidades fizeram dele não só um grande empresário do Norte, mas um grande empresário nacional e internacional”, sublinhou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mais do que um “traço, cultura e linhagem familiar”, Belmiro de Azevedo deixou “um exemplo” para o país, considerou Marcelo Rebelo de Sousa.

“Quando arrancou, nos anos 70 e 80, que foi quando o conheci, [Belmiro de Azevedo] pensava no Portugal do fim do século ou do século XXI e ninguém pensava, eram poucos que pensavam assim e essa capacidade de ver mais longe, de ir mais longe, de querer fazer mais, e que nunca abandonou, foi sempre acompanhada de grande independência e coragem”, referiu.

Questionado sobre a rejeição do PCP ao voto de pesar aprovado na Assembleia da Republica, o chefe de Estado disse que não faz apreciações sobre as discussões, tomadas de deliberações e posições dos partidos no parlamento, falando apenas em seu nome e dos portugueses.

“Em meu nome como cidadão vim aqui testemunhar uma homenagem a um conjunto tão vasto de qualidades deste homem e como Presidente da República representar todos os portugueses, certamente há várias opiniões, como em tudo na vida, mas sinto que estou a representar todos os portugueses quando digo que não há muitas figuras na democracia e vida empresarial como Belmiro de Azevedo”, frisou.

O Presidente da República não estará na missa de corpo presente, que tem início às 16:00, por questões de agenda.

Ramalho Eanes: “É um homem a quem o país muito deve”

O antigo Presidente da República Ramalho Eanes afirmou esta quinta-feira que “o país muito deve” a Belmiro de Azevedo que, por ter sido sempre independente do poder político, deixa “uma lição que é exemplar”.

Belmiro de Azevedo “é um homem a quem o país muito deve”, porque “teve uma grande contribuição quer para a modernização económica do país quer para o desenvolvimento social”, afirmou Ramalho Eanes aos jornalistas, no Porto, junto à Igreja onde decorre a missa de corpo presente do empresário.

O antigo Presidente da República destacou os contributos dados por Belmiro de Azevedo “para a modernização enquanto grande empreendedor, homem capaz de cria riqueza e trabalho, homem capaz de aproveitar oportunidades e descobri-las e, depois, explorá-las com ambição, ousadia, risco e, sobretudo, competência”.

Foi também um homem que teve uma “ação exemplar e ímpar em matéria de liderança e de capacidade executiva”, disse, acrescentando que o país também lhe deve muito quando “transformou a Sonae numa grande e moderna escola de negócios, uma escola prática de gestão moderna, de liderança e de aquisição de capacidade de competências competitivas”.

O antigo chefe de Estado, que veio ao Porto prestar homenagem a Belmiro de Azevedo acompanhado da mulher, considerou que a independência que o empresário sempre mostrou ter perante o poder político “dá-nos uma lição que é exemplar”.

“Não há modernização e desenvolvimento sem empresas autónomas, sem empresas perfeitamente integradas na sociedade civil, sem empresas que, nessa situação, são capazes de manter um diálogo simultaneamente de colaboração, de exigência e, se necessário, de contestação”, disse.

Para Ramalho Eanes, a sua independência “mostrava que tudo isto se fazia e mostrava ainda que tudo isto é possível, mesmo em Portugal”.

Questionado se a sua forma de estar na vida o prejudicava, o antigo Presidente da República respondeu que “os factos respondem com evidência” à pergunta.

“Algumas vezes foi prejudicado pelo poder, por ter em relação ao poder esta posição distante, critica, que todos conhecemos”, sublinhou.

Classificando o empresário como “um homem muito especial”, Ramalho Eanes acrescentou que Belmiro de Azevedo era “extremamente simples, afetuoso e sempre muito crítico” dos seus próprios amigos e do país.

“Entendo ser uma posição salutar”, disse, considerando ainda que os portugueses podem aprender com o empresário “que um cidadão só o é efetivamente em plenitude quando dispõe de todos os direitos e responde à sua responsabilidade social”.

“Isto é, tudo fazer para preservar e contribuir para que a sociedade se desenvolva tão rápida e tão beneficamente quanto possível”, concluiu.

Paulo Rangel: “Um verdadeiro criador de talentos e gerador de energia e inteligência”

O eurodeputado Paulo Rangel considerou esta quinta-feira o empresário Belmiro de Azevedo, que morreu na quarta-feira, como um “verdadeiro criador de talentos e gerador de energia e inteligência”.

“Comecei a minha vida a trabalhar muito próximo do engenheiro Belmiro de Azevedo, ao lado dos seus advogados como estagiário e, talvez a faceta que mais destaque, porque já foram tantas destacadas, é que ele era um verdadeiro criador de talentos e gerador de energia e inteligência”, disse Paulo Rangel aos jornalistas, esta tarde, no Porto, à entrada para a Igreja de Cristo Rei, onde se realiza a missa de corpo presente.

O social-democrata referiu que o país tem tantos quadros inovadores porque havia um “provocador que era gerador de talentos”, sendo essa a homenagem que o país lhe deve.

“Muitos dos que trabalharam com ele são esta quinta-feira grandes empresários que ele libertou para servirem o país, esse é o grande legado que ele deixa”, frisou Paulo Rangel.

O empresário Belmiro de Azevedo morreu na quarta-feira aos 79 anos, depois de décadas ligado à Sonae, onde chegou há mais de 50 anos e que transformou num império com negócios em várias áreas e extensa atividade internacional.

Sem tolerância para a incompetência (“não aceito, nem por um nonagésimo de segundo, que alguém menos competente mande em mim — só na tropa, por obrigação, e na vida civil por decisão de órgãos de soberania”, disse citado numa biografia) e com afamada dedicação ao trabalho e a um estilo de vida “frugal”, Belmiro de Azevedo deixa três filhos, Nuno, Paulo e Cláudia, também relacionados com a Sonae, grupo de cuja presidência saiu formalmente em 30 de abril de 2015.