“A Montanha Entre Nós”

Kate Winslet e Idris Elba interpretam aqui, respetivamente, uma fotojornalista e um neurocirurgião retidos num aeroporto dos EUA por um aviso de tempestade de neve, mas ambos com muita urgência de chegar aos seus destinos: ela vai casar-se, ele vai operar uma criança. Fretam uma avioneta, mas a meio do caminho o piloto tem um AVC e morre, o aparelho despenha-se e ficam ambos, mais o cão daquele, perdidos no topo de uma montanha. Enquanto eles enfrentam o frio, a neve, a exaustão e a fome, o espectador tem que enfrentar a avalancha de clichés do “survival movie” e do drama romântico que se precipita do argumento de “A Montanha Entre Nós”, realizado pelo palestiniano-holandês Hany Abu-Assad, que tem filmes infinitamente melhores feitos no Médio Oriente, caso de “O Paraíso, Agora!” ou “Omar”.

“I Love You, Daddy”

Louis C.K., que tem andado nas notícias por razões que não têm nada a ver com cinema ou com humor, realiza e interpreta esta fita, no papel de Glen, um comediante de sucesso, mas em baixa de inspiração para a nova série de televisão que tem que escrever. Juntando a isto, a sua loura, curvilínea e descerebrada filha de 17 anos, China (Chloe Grace Moretz) engraça com um realizador idoso (John Malkovich) que Glen venera mas que tem fama de molestador de menores. E Glen é uma triste desculpa para um pai, já que não consegue que a filha lhe obedeça nem por um minuto. “I Love You, Daddy”, remete, do ponto de vista formal, temático e narrativo, para o cinema de Woody Allen, nomeadamente para “Manhattan”. Só que não consegue mais do que ser uma versão “karaoke”, mais vulgar, mais desbocada e muito menos divertida, daquele.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Lucky”

Realizado em estreia pelo actor John Carroll Lynch, “Lucky” é um presente de amizade, uma celebração de vida e uma homenagem calma a Hary Dean Stanton, um dos actores característicos mais “principais” do cinema e da televisão, escanzelado mas resistente e emblemático veterano de mais de 60 anos de papéis por montes e vales de filmes maus ou memoráveis, e de séries esquecidas ou de culto, que morreu depois de o terminar. Stanton faz o Lucky do título, um nonagenário que vive numa vilória do Arizona onde nunca se passa quase nada, e está aqui na companhia do seu velho amigo e cúmplice David Lynch, e rodeado por um “quem é quem” de intérpretes secundários: Ed Begley, Jr., James Darren, Beth Grant, Ron Livingston, Barry Shabaka Henley ou Tom Skerritt. “Lucky” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.