A resistência aos medicamentos contra o vírus da sida está a aumentar em África, na América Latina e na Ásia entre seropositivos que começam ou recomeçam um tratamento antirretroviral de primeira linha, revela um estudo publicado esta quinta-feira.

O estudo, divulgado na publicação científica The Lancet Infectious Diseases, concluiu que a resistência desenvolvida, em particular contra uma das principais classes de antirretrovirais de primeira linha, a NNRTI, está a aumentar, sendo que os seropositivos que apresentaram resistência aos medicamentos terão sido expostos anteriormente a antirretrovirais, muitas vezes quando ainda estavam na barriga das mães.

Se nada for feito para contrariar a tendência e se a resistência aos antirretrovirais do tipo NNRTI exceder os 10% em pessoas a iniciar ou a reiniciar o tratamento, haverá mais 890 mil mortes por sida e 450 mil novas infeções com o vírus VIH na África Subsariana antes de 2030, segundo uma outra investigação.

Os autores do novo estudo, conduzido pela University College London, no Reino Unido, analisaram dados de 56.044 adultos de 63 países de baixa ou média riqueza, que iniciaram ou reiniciaram tratamentos de primeira linha contra o vírus VIH entre 1996 e 2016.

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A equipa científica centrou-se em trabalhos que englobavam informação sobre a presença de mutações do vírus resistentes aos fármacos, em especial à classe de antirretrovirais NNRTI, e descobriu que, entre 2001 e 2016, a resistência aos medicamentos aumentou em países da África Subsariana, América Latina e Ásia.

Segundo os investigadores, a resistência é maior na África Subsariana, onde 11,1 por cento dos seropositivos que começaram ou recomeçaram, nesse período, um tratamento de primeira linha tinham mutações no vírus resistentes ao grupo de antirretrovirais NNRTI.

O estudo sugere que, em alguns países, 10% a 30% das pessoas que iniciaram a toma de medicamentos NNRTI tinham estado expostas anteriormente a antirretrovirais, sendo mais propensas a desenvolverem resistência ao VIH.

O trabalho publicado na The Lancet não teve em consideração dados dos países mais ricos, onde, de acordo com análises prévias, os níveis de resistência aos antirretrovirais NNRTI estavam estáveis ou a diminuir.

De acordo com o autor principal do estudo, Ravindra Gupta, da University College London, muitas pessoas ganham resistência aos medicamentos se pararem o tratamento com antirretrovirais devido a razões pessoais, dificuldades no acesso à terapêutica ou à falta de fármacos, sobretudo nos países mais pobres.

“Quando mais tarde recomeçam o tratamento estão menos propensas a responder à terapêutica e podem transmitir as mutações do vírus resistentes aos medicamentos a outras pessoas”, assinalou, citado num comunicado da universidade britânica.

Para o investigador, o estudo aponta para a necessidade de se melhorar a monitorização da resistência do VIH aos medicamentos e reavaliar quais os fármacos que devem ser incluídos em tratamentos de primeira linha.